Ele chega a hora que quer, não é importunado enquanto trabalha e tudo o que
pede a empresa concede. Em algum momento você deve ter lidado ou conhecido algum
profissional “estrela” - aquele que faz a diferença nos resultados a custo de
muitas concessões da empresa. O problema é que reter um talento à base de
“agrados” pode não ser tão positivo quanto parece.
Especialistas ouvidas pelo InfoMoney afirmam que os tratamentos diferenciados
a profissionais muito talentosos pode provocar sentimentos negativos nos demais
colaboradores. “A equipe pode se sentir menosprezada”, afirma a headhunter da De
Bernt Entschev Human Capital, Emmanuele Spaine. “É importante para a empresa ter
um profissional diferenciado, mas, dependendo do tratamento dado a ele, ocorre
uma desmotivação nos demais colaboradores”, afirma.
Para a consultora da Career Center, Claudia Monari, a presença de um
profissional “estrela” na equipe é mais comum em empresas de pequeno porte, onde
o peso de seu trabalho faz mais diferença. “Empresas de maior porte são mais
profissionalizadas, por isso, esses casos não ocorrem tanto”, afirma.
Claudia ressalta, porém, que independentemente do porte da empresa, a
concessão de regalias a profissionais talentosos pode até influenciar nos
resultados finais. “Para a equipe, isso é ruim, porque ela acaba enxergando um
certo protecionismo na relação do profissional com a empresa”, explica.
Profissional X talentos
As especialistas enfatizam que a existência de profissionais talentosos não
implica abertura exagerada de concessões pelas empresas. É preciso ponderar,
para que os demais colaboradores também sintam que fazem parte das conquistas.
“”Ninguém faz nada sozinho”, ressalta Emmanuele.
E, para que o bom senso permaneça, tanto as empresas como o próprio talento
precisam adotar cuidados. Os profissionais devem entender que produzir com
qualidade e compartilhar os resultados com os demais colaboradores são atitudes
mais positivas. “Ele tem de saber que hoje ele pode dar os melhores resultados,
mas amanhã algo pode dar errado”, alerta a headhunter.
Já as empresas, na avaliação de Claudia, devem ficar atentas para não “mimar”
demais os talentos que descobrem. Primeiro, porque isso pode gerar um
comportamento arrogante no profissional, segundo, porque os mimos podem aumentar
a exigência dele. “É muito comum o profissional acabar se sentindo insatisfeito,
apesar de todas as concessões”, diz.
O que fazer?
Fazer a empresa reter o talento sem prejudicar o ânimo do restante da equipe não
é simples. Nesse caso, as especialistas afirmam que as empresas têm algumas
saídas. “Uma saída é a implantação de uma gestão profissionalizada, com normas e
procedimentos”, afirma Claudia, da Career.
Para Emmanuele, da De Bernt, estabelecer metas coletivas e individuais ajuda
toda a equipe. “Isso faz com que o profissional 'estrela' não passe por cima da
equipe”, reforça a headhunter. As empresas devem tentar equilibrar as concessões
de maneira que elas não ultrapassem certos limites. “A política da empresa é o
limite e deve valer mais que qualquer talento”.