Depois de expor uma ideia básica sobre a constituição de um Trade System, o
“Manejo de Risco” irá falar da importância de testar e analisar a estratégia
antes de efetivamente aplicá-la no mercado.
Mas antes de entrar no mérito, Rogério Passos, consultor da OperAção Consultoria
e Treinamento, explica um pouco sobre programação e dá um exemplo de como
programar o cruzamento de médias móveis, a fim de aguçar a curiosidade do leitor
sobre o tema. Confira!
Uma questão complexa
Como ilustrado na primeira matéria, a mescla entre análise técnica e
computação vem ganhando espaço entre os pequenos investidores do segmento pessoa
física. Mas por que este fenômeno emerge no Brasil?
Muitos investidores que procuram a análise técnica, ou até as Ondas de Elliott,
como via de previsão dos movimentos do mercado, certamente ficam decepcionados
ao montarem uma posição com ponto de entrada no rompimento da máxima de um
Martelo e os preços recuarem, ou identificarem uma potencial Onda 3 que, na
verdade, ainda era uma Onda 1. Exemplos não faltam.
Os acadêmicos atribuem o fato à hipótese de eficiência de mercado de Eugene
Fama, que, em sua forma fraca, postula que os ativos possuem um comportamento
totalmente aleatório e a correlação entre preços passados, correntes e futuros é
nula, tese que fora aceita no trabalho de Daniel Guedine Serafini e Pedro Valls
Pereira.
O que tudo isto tem a ver com simulação de estratégia?
A ideia de que os preços estão mais próximos da aleatoriedade em comparação
aos padrões de mercado coloca em xeque a análise técnica, mas não a descarta
completamente, já que estamos tratando de fenômenos de massa.
Com o aparato da estatística e por meio de simulações computacionais, o trader
poderá ter um parâmetro bastante claro do comportamento do Trade System dentro
do mercado em função de sua estratégia desenvolvida.
“O fato é que o mercado é caótico. Matematicamente, isso significa dizer que o
mercado é imprevisível, mas não desordenado. Ou seja, o mercado produz
movimentos ao sabor das massas e é exatamente esta característica que nos
permite mesclar análise técnica e validação estatística”, justificativa de
Passos que vale a leitura deste artigo.
Por dentro da simulação
Um simulador de estratégia nada mais é que um software que permite ao trader
simular, através do histórico de preços, sua estratégia de mercado em
determinado período antes de colocá-la no mercado real, lembrando que o tamanho
da base de dados utilizada é proporcional à qualidade dos testes.
Por meio dos relatórios gerados, o investidor poderá saber os potenciais lucros
e prejuízos do Trade System, os níveis de risco, números de trades vencedores e
perdedores, o drawdown do sistema. Enfim, dissecará sua estratégia.
Através da simulação, o trader poderá responder uma pergunta vital para sua
sobrevivência no mercado: a minha estratégia oferece atrativa lucratividade em
função dos riscos? Melhor descobrir via simulação do que assistir a conta
investimento na corretora minguar.
“Os traders que ainda não utilizam o backtesting vão se surpreender com as
inúmeras vantagens que ele resguarda”, afirma o trader norte-americano Mark
Jurik, autor do livro “Computerized Trading”, uma das referências no assunto.
Backtesting
Por meio de dados históricos, o Backtesting determinará as melhores
condições de entrada e saída que o Trade System apresentou, ou seja, revelará se
a estratégia será vencedora no longo prazo com base nos eventos passados, resume
Juliano Carneiro, da Cardin Investimentos.
“Muitos traders se iludem por terem uma estratégia que acham ser vencedora.
Porém, no longo prazo a realidade é diferente”, alerta Carneiro sobre a
importância do Backtesting. Nada adianta um Trade System que proporcionará ao
trader uma curva de capital lateral (perdendo e ganhando o tempo todo), afirma.
“Um bom Trade System pode ajudá-lo a auferir lucros maiores do que um investidor
passivo no longo prazo, correndo menor risco”, lembra Ricardo Borges, da
Projeção Consultoria Financeira, sobre o objetivo primário de um sistema de
operação. Outro aspecto importante em um Backtesting é a base de dados. Segundo
Carneiro, o ideal é utilizar candles de um minuto para concentrar todos os
negócios que ocorreram durante o pregão.
Entretanto, é bom lembrar que o Backtesting só pode ser feito em uma ação de
cada vez, e, com os resultados obtidos para cada ativo, mesclá-los na carteira
em função da estratégia testada. Em suma, a técnica é excelente quando a
estratégia é validada para operar um papel. Mas, qual método utilizar quando
estamos tratando de um conjunto de papéis ao mesmo tempo?
Portfólio Backtesting
Diferentemente do Backtesting, que aplica a estratégia em um determinando
ativo, o Portfólio Backtesting considera “um número elevado de ativos ao mesmo
tempo (carteira teórica do Ibovespa, por exemplo), em um período representativo
de tempo, levando em consideração todas as variáveis envolvidas no processo, ou
seja, simulando com exatidão o processo de investimento no mercado”, explica
Rogério Passos, da OperAção Consultoria e Treinamento.
Por meio de simulações baseadas em algoritmos de Monte Carlo*, o investidor
realizará um Stress Test da estratégia através de milhares de iterações
computacionais. Simplificando as coisas, serão milhares de traders virtuais
executando uma estratégia dentro do mercado e ñum período determinado.
Apesar de complicado, o processo de validação estatística já é acessível ao
investidor pessoa física, em compasso com o avanço tecnológico dos computadores
pessoais e a disponibilidade ao público de softwares que realizam Portfólio
Backtesting.
Na prática
Passos apresenta três estratégias distintas. Todas se referem a simulações
de Portfólio Backtesting, utilizando os 130 ativos mais líquidos da BM&F Bovespa
entre janeiro de 2000 a 2010, com 2.000 iterações de Monte Carlo (como se 2.000
traders estivessem utilizando a mesma estratégia) e considerando despesas
operacionais de R$ 25,00 por trade realizado e posição comprada.
Além disso, o sistema não utiliza o lucro de operações anteriores para acumular
capital, ou seja, todo lucro é sacado da conta investimento pelo trader e
guardado no banco.
Confira os resultados aqui!
Intenção maior
A intenção destes três artigos sobre a mescla entre análise técnica e
computação foi abrir espaço para uma nova abordagem sobre estratégias
operacionais e revelar que os métodos profissionais de trade já estão ao alcance
do pequeno investidor pessoa física.
Essa amostra, entretanto, serve para aguçar o interesse do leitor sobre o
assunto, que deve procurar livros e cursos para aprender sempre mais. De maneira
alguma a metodologia é uma verdade absoluta, mas, sem dúvida, a vinda de métodos
estatísticos ao mercado traz maior segurança ao investir.
Assim, o projeto “Manejo de Risco” deixa o assunto de lado por enquanto, mas
espera ter semeado o interesse entre os leitores e demonstrado que investir
necessita mais de estudo do que sorte.