Ter aquele carro de luxo na garagem é o sonho de muita gente. Muitos modelos,
porém, sequer são comercializados no País. Para os mais abonados existem algumas
opções. Viajar para comprar o sonho de quatro rodas é uma delas. Esperar que a
Receita Federal anuncie um leilão de automóveis e motos é outra. O que parece
ser a oportunidade de comprar um carro importado por um preço baixo, contudo,
pode não ser tão vantajoso quanto parece.
Os especialistas ouvidos são unânimes em afirmar que leilões de carros, mesmo
os da Receita, não valem a pena para os consumidores comuns, mesmo os que têm a
conta bancária cheia. “Os riscos são muitos, não vale a pena”, afirma o
economista da agência de varejo automotivo MSantos, Ayrton Fontes. “A
recomendação é a de não participar. Esses leilões são feitos para quem é
especialista”, completa o responsável pelo site Automóveldicas, Nelson Cunha.
Para Joel Silveira, diretor da Agência AutoInforme, leilão é para quem
entende mais de leilões que de veículos. “Muitas vezes, para participar de um
leilão, você não precisa entender de carro, mas de leilão mesmo”, afirma. Ele
explica que o consumidor que aparecer em um evento como esse sem conhecimento
dos procedimentos pode se dar mal.
Por que tantos riscos?
Claro que ir dar aquela olhadinha nos veículos não custa nada. Mas, só sai
ganhando quem entende mesmo do assunto. Quais os motivos de tantos riscos?
“Muitos veículos de leilão ficaram muito tempo parados e, normalmente, no leilão
você sequer pode ligar o carro”, diz Cunha. “Normalmente esses carros têm
impostos atrasados e multas”, completa Fontes. Ele explica que a vistoria é
feita a olho. Por isso, dificilmente um consumidor comum consegue encontrar
problemas.
Silveira concorda com essas possibilidades, mas lembra que todo o histórico
de carros que vão ser vendidos em leilão tem de estar disponível a quem tiver
interesse em comprá-los. “O consumidor não tem surpresas. Se existem débitos
atrasados, ele vai saber antes de comprar o veículo”, afirma. Mesmo problemas de
documentação são resolvidos antes de os veículos ficarem expostos. Ao menos é o
que acontece com os leilões da Receita.
“No caso dos leilões da Receita, talvez, até vale a pena o risco, porque você
encontra veículos de um valor agregado muito alto por um preço menor”, diz
Fontes. Contudo, ele alerta: “mas leilão não é aconselhável para quem não
entende. Hoje, a oferta de veículos zero quilômetro é tão grande que não é
necessário o consumidor buscar esse veículo em outras fontes”, diz.
Para Silveira, a questão muitas vezes não é só técnica. “A pessoa que quer ir
a um leilão tem que consultar o histórico, mas o problema é que na hora dos
lances ela pode se dar mal”, diz. Segundo ele, a própria ansiedade em adquirir o
veículo pode fazer com que a pessoa dê um lance maior do que aquele que pode
arcar.
Coisa de profissional
No fim das contas, os especialistas ouvidos concordam que esse tipo de
negociação vale a pena para quem entende muito de carro, de leilão e que tem
muito dinheiro na conta bancária. “Eu até tenho a impressão de que quem vai
comprar carro em leilão não vai utilizar esse veículo”, reforça Silveira. Para
ele, apenas a realização de um desejo de consumo levam os abonados a correr
riscos para, depois, deixar o carro na garagem.
“Para quem é colecionador e tem como bancar o capricho, leilão vale a pena,
mas esses casos são pontuais”, afirma Fontes. “Sempre vai existir um risco, as
compras em leilão têm de ser bem orientadas”, reforça Cunha.