Como descrito no último artigo, o segmento pessoa física passa por uma
transformação no que diz respeito ao modo de atuar no mercado de ações. Além das
plataformas oferecidas pelas corretoras, que até incluem algoritmos, esta fatia
do mercado está descobrindo aos poucos os benefícios da mescla entre análise
técnica e computação.
Uma das benfeitorias desta junção foi a oportunidade de automatizar as operações
através de um Trade System.
Em essência, Trade System é um conjunto de regras de negociação – geralmente
baseadas em indicadores de análise técnica ou análise fundamentalista - que
tenham por objetivo auxiliar o trader na detecção de oportunidades de trades,
resume Rafael Pacheco, sócio da XTH Educação Financeira. Em suma, um sistema que
poupará o seu trabalho de verificar todos os gráficos do mercado.
Além dos sinais de compra e venda, um Trade System completo deve englobar o
gerenciamento de risco da operação, ou seja, um stop loss que acompanhe o ritmo
do trade, como o ATR (Average True Range) ou até os métodos Martingale e
Antimartingale.
Como efeito didático, Pacheco classifica o Trade System em três categorias:
Manual: a interpretação dos sinais de compra e venda é feita pelo
operador. Por exemplo: quando o MACD cruza o eixo zero.
Semiautomático: a interpretação dos sinais de compra e venda é feita de
maneira automática, mas o trader decidirá se entrará na operação.
Automático: a interpretação dos sinais de compra e venda, como a
operação, é feita de maneira automática.
Alguns requisitos básicos
Antes de pensar em elaborar um Trade System, o investidor deve levar em
conta duas considerações. Como estamos tratando de um sistema semiautomático ou
automático, é essencial entender o básico sobre computação e programação, além
da constituição dos indicadores técnicos.
Outro ponto importante é a periodicidade da operação. Não adianta criar um
sistema focado em trades intradiários para operar gráficos semanais, relação
diretamente ligada à disponibilidade de cada investidor em ficar na frente do
computador operando.
Apesar de triviais, os requisitos são básicos para atingir o objetivo maior de
um Trade System: “ter a capacidade de detectar o mais breve possível as
reversões de tendência sem dar muitos sinais falsos”, descreve Ricardo Borges,
consultor da Projeção Consultoria Financeira.
Elaborando um Trade System
1º: Metodologia clara
Depois de ponderado os requisitos básicos, a primeira tarefa do investidor é
definir o método operacional do Trade System. Se ele será baseado em indicadores
fundamentalistas, osciladores e indicadores de análise técnica, formações
gráficas... Enfim, ter em mãos uma metodologia clara de investimento.
Nesta missão, é importantíssimo conhecer os principais indicadores disponíveis
nas plataformas de negociação. Como o foco da matéria são os indicadores de
análise técnica, vamos nos ater a eles.
Para elaborar uma estratégia de entrada e saída, geralmente utilizam-se os
osciladores (MACD, CCI, Estocástico, etc), indicadores de momento (momentum, IFR,
Trix, etc) e as bandas de volatilidade (Bandas de Bollinger, Envelope Hig-Low,
etc), afirma Pacheco.
Mas antes de colocar todos os indicadores possíveis dentro do seu Trade System,
analise minuciosamente cada um deles. Neste trabalho providencial, perceberá que
grande parte dos indicadores são derivados das médias móveis e, por este motivo,
não é recomendado utilizar muitos indicadores, pois apenas confirmarão o que já
está exposto em outro oscilador.
2º: Estipule as regras
Ponderado este ponto, estipule as regras de seu Trade System. O que mais se
vê por aí são sistemas baseados em um oscilador, cruzamento de médias móveis de
curto prazo com médio prazo, teste de bandas (superior ou inferior) de
volatilidade e indicadores que apontem se o mercado está sobrecomprado ou
sobrevendido.
Neste ponto que o investidor verá a importância de definir o prazo operacional.
Se for um scalper, deve utilizar indicadores mais sensíveis ao movimento dos
preços, como o CCI, sugere Pacheco, aliado, por exemplo, ao cruzamento de uma
média móvel em relação ao preço e mais um rastreador de tendência, a fim de
minimizar os falsos rompimentos.
Um swing trader, por exemplo, pode utilizar os testes das bandas de volatilidade
e um indicador de momento, como o Índice de Força Relativa, a fim de verificar
se o ativo está sobrecompra ou sobrevendido, somado ao auxílio do Trix ou MACD.
O Trend Following, conceito operacional que visa obter ganhos nos grandes
movimentos de preços do mercado, também é uma boa alternativa para o investidor
como um sistema operacional.
E claro, não se esqueça de formular uma estratégia eficiente de saída, com stop
loss e stop gain bem definidos, sempre de olho no total de capital que será
exposto na operação, um dos pontos que merece máxima atenção do investidor.
3º: Cenário da operação
Outro ponto importante, mas que às vezes é negligenciado, é a avaliação do
cenário no qual o sistema será utilizado. O investidor deve formular,
teoricamente, ao menos três estratégias: mercado de alta, mercado de baixa e
mercado lateral.
Não necessariamente é preciso operar nas três tendências, mas o investidor deve
ter consciência que a estratégia utilizada no Trade System deve ser condizente à
tendência do mercado para ser bem sucedida, como também deve considerar mercados
e ações com uma boa média de volume de negociação diário.
Para isso, deve ser escolhido um parâmetro para definir se o mercado está em
baixa, em alta ou de lado. Uma alternativa é a avaliação da tendência da média
móvel de 21 dias, ou também da média móvel de 10 semanas.
4º: Testar e analisar o Trade System
Com a estratégia em mãos, o investidor precisa testar seu Trade System para
saber se ele é eficiente no mercado de ações. Para esta tarefa, podem ser
utilizadas duas metodologias: Backtesting e Portfólio Backtesting.
No mercado estão disponíveis excelentes ferramentas para os dois métodos, que
serão discutidos detalhadamente na próxima reportagem sobre Trade System.
Portanto, aguardem o próximo “Manejo de Risco”.