A falta de planejamento, imprevistos e uma dose de impulsividade na hora de
comprar levam muitos consumidores a enfrentarem um problema que é cada vez mais
comum, o crédito rotativo. Que pagar o valor mínimo da fatura do cartão de
crédito é um risco para qualquer orçamento muitos consumidores já sabem. Mas são
poucos os que calculam o valor desse risco e, quando vêem, já entraram no
rotativo. E para sair dele, faltam opções e sobram sacrifícios.
O aumento da renda e do acesso ao crédito geraram um otimismo sem tamanho nos
consumidores. “O Governo entendeu que o brasileiro tinha condições de comprar,
mas não explicou que os juros são os mais altos do mundo”, considera o
especialista em Finanças do Moneyfit, Antonio De Julio. Para ele, os brasileiros
ainda não entenderam bem a lógica do consumo.
A falta de educação financeira está no cerne do crédito rotativo. “Os
consumidores só vêem o que cabe no bolso e esquecem de olhar os juros, sequer
têm noção dos juros”, afirma o consultor de empresas e professor de
administração financeira, Mario Kuniy. “Eles não têm um planejamento de longo
prazo para comprar algo à vista. Eles vêem quem dá mais crédito e mais prazo”,
diz.
No fim, afirma Kuniy, esse consumidor acaba tendo uma capacidade de compra muito
menor ao longo da vida que aquele que tem uma renda menor, mas planeja o
orçamento. “O brasileiro já é otimista até demais e mesmo com dívidas acredita
que no fim tudo dá certo”, completa De Julio. “Sem planejamento ele só começa a
perceber o problema quando a bomba explode”.
E quando a bomba explode
Um deslize no pagamento de uma fatura já é o suficiente para a “bomba” ser
acionada. Mas, ainda assim, os consumidores demoram para perceber isso. “Usar o
cartão de crédito é muito bom, mas pagar o mínimo nunca é”, enfatiza o professor
de Finanças do Ibmec-DF, Marcos Aguerri Pimenta de Souza.
Para aqueles que não pensaram nisso e deixaram a “bomba” explodir dá para se
livrar do problema. “A melhor coisa a fazer é trocar a dívida cara pela mais
barata”, aconselha Aguerri. Nesses casos, o crédito pessoal e o consignado, que
costumam ter juros mais atraentes, podem ajudar quem não consegue sair do
rotativo.
Mas a boa e velha dica das finanças pessoais não é tão simples de ser aplicada.
Kuniy ressalta que toda e qualquer solução para se livrar das dívidas passa pela
planilha de receitas e despesas. “É preciso conhecer a situação financeira na
qual se encontra o consumidor”, afirma. Somente assim, dá para ver a melhor
opção para se livrar do débito. “Para cada perfil, existe um remédio”. Sem
conhecer sua situação financeira, fica mais fácil acabar comprometendo todo o
orçamento com o pagamento de dívidas. E isso não pode acontecer.
Saber quanto sobra no final do mês, incluindo um percentual para imprevistos, é
o que vai determinar que tipo de solução você tem. “Para sair do rotativo, ou
entra mais dinheiro ou o consumidor aperta o orçamento”, define De Julio.
Somente depois dessa análise é que se pensa nos empréstimos.
E nessa conta a família deve entrar. “As pessoas têm receio de conversar com a
família sobre dinheiro, mas ela é fundamental para a solução do problema”, diz o
especialista. Cogitar empréstimos com amigos e família, desde que você os honre,
pode ser a melhor opção para se livrar de juros de financiamentos bancários.
Quando a poeira baixa
Depois da renegociação da dívida, tem muita gente que relaxa – um cenário
propício para novos débitos. Por isso, o ideal é manter o cinto apertado até
quitar completamente o financiamento, planejar os gastos e projetar as metas com
mais eficiência, pensando no futuro, de tal maneira que nem um imprevisto possa
abalar seu bolso.
Para Aguerri, do Ibmec-DF, embora a impulsividade com as compras facilite a
entrada no rotativo, o principal motivo mesmo para que os consumidores acabem
por pagar apenas o valor mínimo da fatura é a falta de dinheiro em caixa. “Por
incrível que pareça, os imprevistos são as causas principais para a entrada no
rotativo”, diz. “Por isso, o ideal é sempre deixar em caixa o equivalente a três
vezes o seu salário para eventuais problemas”.
E para quem pensa que a possibilidade de pagar o mínimo da fatura do cartão é
uma facilidade, Kuniy dá um recado: “quanto mais fácil o crédito, mais caro ele
é. Tudo na vida tem um preço. E no Brasil, esse preço é muito alto”, diz.
Esquecer de manter o orçamento equilibrado depois que a poeira baixar é um dos
piores erros que o consumidor pode cometer.
“Agora os cuidados têm de ser ainda maiores porque o crédito e o custo de vida
tendem a ficar ainda mais caros. E qualquer deslize pode transformar suas
finanças em um verdadeiro tsunami”, ressalta De Julio. Diante desse risco, é
melhor ficar atento a ventos mais fortes.