Com os juros da economia em níveis tão
altos como hoje observamos, fazer uso de empréstimos pessoais e financiamentos
acaba por ser uma péssima prática para a saúde financeira de qualquer leitor. A
palavra de ordem hoje é investir.
Porém, ao mesmo tempo em que observamos
taxas de juros para investimentos tão interessantes, sofremos uma forte pressão
no orçamento doméstico decorrente do constante aumento de preços, enquanto
nossos ganhos mantêm-se estáveis. A conseqüência disso é que muitos leitores,
sem conseguir reduzir seus gastos no mesmo ritmo em que os preços sobem, acabam
por ter que recorrer a empréstimos. Nessas alturas, é preciso planear bem o
compromisso que será assumido, para que o problema de hoje não se torne um
pesadelo amanhã.
Veja como funciona cada modalidade de
empréstimo:
Pedir emprestado a um parente ou
amigo: muitas pessoas vêem este tipo de empréstimo como o ideal, uma
vez que se pode valer do relacionamento para deixar de pagar juros. Cuidado! Se
você não quer destruir um bom relacionamento, leve em consideração que a pessoa
que lhe emprestar o dinheiro poderia estar a obter juros no banco. Por isso, é
sensato negociar o empréstimo pagando os juros que essa pessoa conseguiria numa
aplicação comum – que hoje não chegam a 2% ao mês. Esta seria a alternativa mais
barata para se conseguir um empréstimo, porém não se devem esquecer os custos
emocionais desta prática. Pedir um empréstimo a um amigo é uma situação tão
constrangedora para quem pede quanto para quem recebe o pedido. Por isso, muitas
vezes deverá partir de você a proposta de pagar juros e de assinar uma nota
promissória (que nada mais é do que uma promessa de pagamento por escrito),
preservando a confiança mútua e o relacionamento. Cuidado nesta ocasião também,
pois a promissória não é interessante para quem deve, é uma confissão de dívida
e pode ser usada contra você numa eventual quebra de amizade. Evite propor
prazos para liquidar o empréstimo, pois geralmente somos demasiadamente otimista
ao planejar nosso futuro. Se seu amigo esperar o dinheiro dele de volta no
próximo mês e não receber, sua credibilidade será abalada e a amizade deixará de
ser a mesma.
Penhor de bens: uma
alternativa aos parentes e amigos é o penhor, em que você pode entregar ao banco
bens de valor – obras de arte, jóias ou outro bem de valor mensurável – como
garantia de um empréstimo que lhe é feito. Como o risco de o banco não receber o
dinheiro de volta é pequeno, pelo fato dele ter os bens para vender, os juros
são bem mais baixos que em outras modalidades. Esta prática deve ser feita
somente quando a situação de falta de recursos é provisória e há plena certeza
de que algum recurso extra está para surgir e pagar a dívida. A razão para este
cuidado é que o banco sempre avaliará o bem a um preço bem abaixo do de mercado,
sem contar que ele não levará em conta o valor emocional. Uma jóia herdada dos
avós, por exemplo, é avaliada por seu peso em metal precioso, não levando em
conta nem o trabalho artístico.
Empréstimo com o banco:
disponível a qualquer pessoa que tenha conta em banco, o empréstimo é a forma
mais barata de se conseguir recursos sem comprometer amizades e bens de família.
Basta procurar um gerente do banco e solicitar uma quantia, verificando o plano
de pagamento. Porém os juros não são baixos, e por isso deve-se fazer uma boa
pesquisa de taxas em diversos bancos antes de contrair o empréstimo. Não tenha a
ilusão de que você conseguirá as melhores taxas no banco em que você tem conta
por ter um bom relacionamento. Pesquise! O procedimento para se conseguir um
empréstimo pessoal não é complicado, mas alguns bancos poderão restringir seu
crédito se você estiver com o nome sujo na praça – em razão de um cheque
devolvido, por exemplo.
Cheque especial: não é a
forma mais barata, mas é a forma mais simples de se conseguir um empréstimo,
pois não é preciso sequer contatar o gerente. Porém, deve ser terminantemente
evitada, já que os juros praticados são muito mais altos que os do empréstimo
pessoal – e todo cliente que tem um limite no cheque especial deverá ter no
mínimo o mesmo limite para empréstimos pessoais. O limite do cheque especial só
deve ser usado por um ou dois dias, quando acontece algum imprevisto (atraso no
recebimento ou antecipação no depósito de cheques pré-datados, por exemplo).
Uso do crédito rotativo do cartão
de crédito: é uma prática tão má quanto o uso do cheque especial, e por
isso deve ser riscada de qualquer lista de alternativas. Na factura do cartão,
há um sugestivo valor mínimo a ser pago, possibilitando ao utilizador do cartão
o pagamento futuro do restante. Não caia nesta armadilha! Os juros são em geral
iguais ou maiores que os do cheque especial, o que traria um desgaste e uma
perda de dinheiro muito grandes nos meses seguintes. Pague sempre o valor total
de seu cartão na data do vencimento; se não houver saldo na conta, contate seu
gerente e peça um empréstimo pessoal.
Financeiras: emprestam
dinheiro sem muita burocracia e a juros similares aos do cheque especial e do
cartão de crédito. Em geral, atendem a clientes desesperados, que precisam de
dinheiro urgentemente para quitar um penhor ou para não perder um bem importante
que havia sido financiado. Como trabalham com os juros mais altos da economia,
tendem a conduzir o devedor ao total descontrole da dívida, sujando seu nome nos
sistemas de proteção ao crédito. Também devem ser evitadas como alternativa ao
endividamento.
Agiota: é qualquer pessoa que dispõe de recursos financeiros e
faz uso desses recursos para emprestar a terceiros. Quando pedimos emprestado a
amigos e parentes, a agiotagem não se caracteriza porque há o vínculo do
relacionamento. O agiota profissional é aquele que exerce de forma ilícita
atividade similar à de um banco ou de uma financeira, porém sem fiscalização e
sem pagar impostos. Cobra juros extorsivos e, em geral, exige como garantia de
seus devedores a transferência de bens como automóveis e imóveis. Por não ser
uma atividade regulamentada, não se preocupa em agir dentro dos limites da lei
na hora de cobrar uma dívida, podendo se tornar um grande risco à estabilidade
pessoal e familiar do devedor. Não apenas deve ser evitado como deve ser
denunciado.
Substituição de dívidas:
ao precisar de dinheiro, uma alternativa interessante pode ser a venda de um bem
para obtenção de recursos imediatos. Por exemplo, se você tiver uma dívida de 15
mil € e possuir na garagem um veículo já pago com valor igual ou superior, pode
vender seu automóvel e comprar um outro financiado. Esta prática não elimina a
dívida, mas garante o pagamento de juros bem menores do que aqueles que você
pagaria no empréstimo pessoal – hoje os juros de um financiamento de automóveis
não chegam a passar muito dos 2% ao mês. Mas note que esta não deve ser uma
prática a ser incentivada, uma vez que se está perdendo um bom valor em juros.
Deve ser considerada apenas como uma alternativa ao empréstimo, quando este se
faz essencial.
Empréstimo específico para casa
própria, carro, cirurgia plástica e outros: a aquisição de empréstimos
para bens e serviços cuja aquisição pode ser adiada é uma prática que deve ser
evitada. Com juros altos, é muito melhor poupar para pagar à vista um pouco mais
adiante do que desfrutar hoje e pagar muito mais caro no futuro, comprometendo
boa parte de nossa renda com juros. Do ponto de vista financeiro, é muito mais
barato e seguro alugar um imóvel enquanto se constrói uma poupança para adquirir
um imóvel à vista no futuro (basta ter disciplina para fazer a poupança). Ao
comprar um carro, é possível obter óptimos descontos pagando à vista. Quanto à
cirurgia plástica, é muito mais saudável esperar um pouquinho e pagar à vista,
pois é provável que as rugas que surgirão com a preocupação de uma dívida
desnecessária exijam nova cirurgia em pouco tempo.
Estas informações serão bastante úteis na
hora de escolher o tipo de empréstimo mais adequado a cada leitor. Porém, a dica
mais importante é esta: procure quitar suas dívidas o quanto antes, para que
você gaste menos dinheiro com juros. Se tiver várias dívidas, comece eliminando
primeiro as mais caras, ou substituindo-as por mais baratas.