Quando as dívidas começam a sufocar o orçamento ou quando as dúvidas de como
manter as finanças organizadas começam a surgir, muitos precisam de uma forcinha
para estabelecer um planejamento financeiro. E ainda que a internet seja um meio
de conhecer as práticas das finanças pessoais, sempre restam algumas dúvidas.
Para resolver algumas delas, a jornalista Thais Auxílio, 27, começou a
frequentar cursos e palestras sobre finanças pessoais. “Não tinha dívidas, mas
queria conhecer mais sobre o mercado de ações”, afirma. Para isso, fez dois dos
cursos oferecidos pela Bovespa no início do ano passado. E, embora ela não
tivesse qualquer problema financeiro, ter mais informações sobre como manter o
orçamento em ordem a ajudou a ser ainda mais organizada e a planejar as contas.
Thais pertencia à parte da população que conhece as regras básicas das finanças
pessoais, mas que não as aplica. E essa é uma das funções de cursos e palestras
sobre o tema. “Esses cursos ajudam a população a entender qual é o valor real do
dinheiro, que vale mais do que elas acreditam que vale”, ressalta a economista,
consultora da BM&FBovespa e professora de educação financeira da instituição,
Tercia Rocha.
E como frequentar cursos e palestras ajuda a entender o planejamento financeiro
e a importância de organizar as finanças? Não bastam as informações colhidas na
internet? Esses são alguns dos pontos que valorizam esses encontros. Na web,
muitas informações estão desencontradas. E é fácil nesse meio a pessoa mais se
confundir que de fato esclarecer dúvidas. “Mostramos para os consumidores o que
eles muitas vezes nem pensam que existe”, afirma a técnica da Fundação
Procon-SP, Vilma Paz, que auxilia na elaboração dos cursos sobre orçamento da
instituição.
Dívidas e informação
Thais frequentou os cursos em busca de informação, mas são muitas as pessoas
que só buscam orientação quando estão com o orçamento estourado. No Procon é
assim. “A gente percebe que o motivo que leva as pessoas às palestras é o
endividamento”, afirma Vilma. No ano passado, a instituição ofereceu 49
palestras sobre orçamento doméstico para 2.010 pessoas.
De maneira geral, os encontros realizados pelo órgão de defesa do consumidor
abordam a questão do endividamento e da organização financeira. “Muitas pessoas
desconhecem o motivo pelo qual começaram a se endividar”, afirma a técnica do
Procon. “Percebemos que existe mais uma falta de organização e certo
descontrole. Dessa forma, mostramos para os consumidores como eles se sabotam e
os aspectos emocionais que envolvem o endividamento”, completa.
Para Thais, os cursos que frequentou deram mais noção do que era um planejamento
financeiro. Desde então, ela passou a aplicar os recursos e as ferramentas que
aprendeu. “O que ajudou muito foi a planilha de controle. Eu comecei a montá-la
e agora tenho um controle maior do meu orçamento e sei para onde está indo o meu
dinheiro”, afirma. O interesse por finanças foi tamanho que Thais criou um blog
sobre o assunto na mesma época em que passou a frequentar os cursos e as
palestras sobre orçamento e mercado de ações.
A jornalista já esta indo para os passos seguintes do planejamento financeiro,
os investimentos, mas tem gente que precisa de uma forcinha para entender por
que precisa manter uma vida financeira saudável. “As pessoas ainda não conhecem
a importância da educação financeira, os impactos que o dinheiro gera nas nossas
vidas, o que é o consumo necessário e o desnecessário”, considera Tercia.
Ainda que muitos não entendam a importância do tema, outros tantos querem mais
informações para manter a vida financeira saudável. Somente em 2010, a Bovespa
realizou 591 cursos de educação financeira. E, desde a criação desses cursos, em
2006, mais de 148 mil pessoas participaram. Levando em conta apenas os cursos
on-line, lançados em 2010, foram mais de 151 mil acessos.
Dúvidas e dificuldades
Para quem participa dessas ações, as dúvidas e dificuldades são muitas.
“Muitas vezes, as pessoas não entendem como funciona a taxa de juros e os alunos
também não têm noção de prazo”, avalia Tercia, da Bovespa. Nos cursos da
instituição, a professora percebe que as pessoas têm sonhos, mas não traçam
estratégias para realizá-los. Ou seja, elas não têm um planejamento financeiro.
“Elas podem sonhar, mas, sem estratégia, elas vão se perdendo nos sonhos”,
reforça Tercia.
Vilma percebe que faltam a muitos alunos das palestras do Procon informações
básicas. “Eles não trazem muitas dúvidas, porque falta muita informação e a que
eles recebem do mercado financeiro é muito precária”, atesta.
Entre as maiores dificuldades que as pessoas apresentam nos cursos, estão a de
se organizar, de se controlar e, principalmente, de mudar hábitos. “Mudanças de
hábito geram certo desconforto emocional, então, ou as pessoas enfrentam esse
desconforto ou deixam essa ideia de organização financeira pra lá”, afirma
Tercia.
Para as educadoras, os brasileiros ainda não se dão conta de que organização
financeira resulta em uma melhor qualidade de vida. “A saúde financeira traz
conforto e a informação é fundamental para mudar hábitos”, completa Tercia.