Centralizar responsabilidades não é um hábito saudável para as empresas. A
verticalização da gestão de setores e departamentos, porém, resolveu esse
problema, ao colocar nas mãos de muitos o poder que estava em um único gestor.
Contudo, esse novo cenário criou, para muitos profissionais, um outro problema:
ter de lidar não mais com um, mas com vários líderes.
Ter mais de uma pessoa dando ordens significa ter mais trabalho, mas também
ter mais oportunidades, na avaliação da gerente de Projetos do Grupo Foco,
Ercília Vianna. “Mais de um chefe significa mais trabalho. Por outro lado, você
vai ter mais de uma pessoa avaliando o seu trabalho”. E avaliações, ainda que
negativas, só ajudam a desenvolver o potencial dos profissionais.
Ainda assim, muitos profissionais não se sentem confortáveis com tanta gente
dando ordens. Como manter a calma e a produtividade nessa situação? Para o CEO
do Grupo Soma Desenvolvimento Corporativo, Antonio Carminhato, a palavra-chave é
transparência. “Lidar com vários chefes é saber ser transparente da mesma forma
com todos, com profissionalismo”, ressalta.
Jogo de cintura
Manter a transparência com profissionalismo com todos os líderes não é
tarefa fácil. É preciso muito jogo de cintura para não trabalhar oito horas com
a sensação de ter trabalhado dezesseis. Por isso, cabe ao profissional respirar
fundo e exercer a virtude da paciência e encarar a situação como algo normal.
Afinal, segundo Carminhato, cada vez mais as empresas adotarão modelos de
gestão que descentralizam o poder e cruzam departamentos. Ou seja, aquele que
atua no departamento de marketing vai ter de lidar com o seu gestor e com o
gerente comercial, por exemplo.
Ercília recomenda então que o profissional cultive a habilidade de
organização. “Ser organizado, nesses casos, é fundamental”, afirma. Executar as
tarefas no prazo quando se tem um chefe é sempre um desafio. Tocar várias
tarefas com prazos diferentes, uma para cada líder, é ainda mais. Por isso, a
especialista lembra que o profissional deve traçar prioridades.
E não é só isso. É preciso negociar essas prioridades. “O profissional deve
ter consciência do que pode ser priorizado e do que pode ser deixado para depois
e deixar isso claro para os gestores”, afirma Ercília.
E quando as ordens divergem? Em uma empresa com bons líderes, a probabilidade
de isso ocorrer é pequena, mas nada é perfeito. “Primeiro, o profissional deve
ter certeza de que essa divergência existe”, reforça Carminhato. “Talvez essa
divergência esteja no entendimento do profissional”, reforça.
Caso exista mesmo essa divergência, contudo, o profissional deve levá-la aos
gestores. “É preciso pedir esclarecimentos assim que receber a tarefa e, se a
divergência persistir, pedir para o gestor validar aquela tarefa com o outro
gestor”, reforça Carminhato.
Para Ercília, a solução para as divergências passa pelo diálogo claro. “O
ideal é que o profissional coloque os dois líderes para decidir sobre a
orientação correta”, conclui.
Vantagens e desvantagens
Para quem sabe lidar, ter mais de um líder é muito vantajoso. “Isso exige
que os profissionais sejam mais flexíveis na sua forma de comunicação pois têm
de lidar com diversos perfis de gestores”, acredita Carminhato. Por outro lado,
ele acredita que a probabilidade de atrito com a liderança é maior nessas
situações.
“Para quem gosta e sabe lidar, essa situação impede que esse profissional
caia em uma rotina”, complementa Ercília. Para ela, geralmente perfis que
apostam mais no desafio se dão bem com esse cenário. Já os profissionais mais
ansiosos podem não se dar bem com essa situação, na avaliação da gerente do
Grupo Foco.
Por isso, ela recomenda aos profissionais que têm essa dificuldade que
analisem a forma como as empresas realizam sua gestão. “Se você é um
profissional multitarefa, com energia e dinâmico, pode se dar bem”, acredita.
Para Ercília, conseguir lidar com mais de um líder é uma questão de perfil e
disposição.