Investimentos / Fundos - Quando é indicado manter um investimento, mesmo tendo dívidas?
Um comportamento chamado de contabilidade mental acomete muitos brasileiros.
Ele diz respeito ao fato de uma pessoa tratar de seu patrimônio em partes, com
finalidades individuais. Seria o caso daquele contribuinte que recebe a
restituição do Imposto de Renda e a usa como um prêmio, não destinando o valor
para pagar as contas. Ou daquele pai que deixa o dinheiro investido na poupança
para a faculdade do filho, mas que mantém dívidas.
Este último caso é frequente. Quem nunca ouviu falar que o dinheiro guardado é
"sagrado". Porém, é preciso analisar cuidadosamente, pois nem sempre a
orientação se sustenta. De acordo com especialistas em finanças pessoais, o
investimento pode - e deve - ser tocado em determinados momentos, principalmente
se a pessoa contrair uma dívida e tiver dificuldades para quitá-la.
Não mexer no investimento
O professor PhD da FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista),
Marcos Crivelaro, é bastante enfático ao falar do assunto: "somente mantenha o
investimento se a rentabilidade for maior ou igual do que os juros que se está
pagando com a dívida". São poucos os casos em que isso é possível, mesmo porque,
historicamente, os juros cobrados em empréstimos e financiamentos são altos no
Brasil.
"Se a pessoa tem um CDB ganhando mais de 1% ao mês, e a dívida tem juros de 1%,
ela está ganhando, então não é indicado tirar o dinheiro do investimento",
explicou Crivelaro. Isso pode ser possível quando tratamos de empréstimos
longos, em que as taxas de juros diminuem, e quando tratamos de empréstimos
realizados a aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), chamado de consignado - com desconto em folha de pagamento.
Mexer no investimento
Como os juros cobrados no Brasil não costumam ser menores do que a rentabilidade
de um investimento, o professor de Economia e Finanças do Departamento de
Economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), José Nicolau Pompeo,
afirmou que uma pessoa deve sempre mexer em um investimento para pagamento de
dívidas.
"Se uma pessoa tem um investimento e dívidas, o planejamento financeiro dela tem
nota negativa", afirmou. Para explicar melhor porque os juros são sempre maiores
do que a rentabilidade do investimento, ele disse que os bancos captam um
dinheiro a uma determinada taxa e, para lucrar, emprestam a uma taxa muito
maior.
Renda variável
Em relação à Bolsa de Valores, o professor da PUC-SP afirmou que o desempenho
pode ser bom, capaz de fazer com que uma pessoa endividada deixe o dinheiro em
ações, ao invés de pagar dívidas. No entanto, tudo isso depende do desempenho da
economia. "Seria indicado deixar o dinheiro na Bolsa se o risco dela não fosse
tão volátil".
Crivelaro concorda que a pessoa que tem dinheiro em ações e dívidas deve tirá-lo
para quitar os débitos, uma vez que os empréstimos têm juros maiores do que a
rentabilidade que o tipo de investimento tem dado. "Mas tire o dinheiro
mensalmente", indicou o especialista. Desta forma, com a alta volatilidade, pode
ser que em algum mês a pessoa consiga acabar ganhando com o investimento.
Referência:
InfoMoney
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Autor:
Flávia Furlan Nunes
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