Uma análise do Censo de 2000 do IBGE feita pelo Observatório Universitário
indicou a correlação entre a profissão exercida e o curso superior realizado
pelos profissionais. Enquanto 70% dos dentistas, 75% dos médicos e 84% dos
enfermeiros trabalham na mesma área em que se formaram, apenas 10% dos
economistas e biólogos e 1% dos geógrafos segue o mesmo caminho.
Exame atento de outras profissões ainda nos indicará que apenas um em cada
quatro publicitários, um em cada três engenheiros e um em cada dois
administradores faz carreira a partir do título que escolheu e perseguiu.
É evidente que faltam vagas no mercado de trabalho. O emprego formal acabou. Se
nas décadas de 1960 e 1970 o paradigma apontava como colocação dos sonhos um
cargo no Banco do Brasil, na Petrobras ou em outra empresa pública; nos anos de
1980 experimentamos o boom das multinacionais e empresas de consultoria e
auditoria, que recrutavam os universitários diretamente nos bancos escolares; e
na década de 1990 o domínio de um segundo idioma, da microinformática e a posse
de um MBA eram garantia plena de uma posição de destaque, nada disso se aplica
hoje.
As grandes empresas têm diminuído o número de vagas disponíveis e são as
pequenas companhias as provedoras do mercado de trabalho atual. Ainda assim, a
oferta de trabalho é infinitamente inferior à demanda – e, paradoxalmente,
muitas posições deixam de ser preenchidas devido à baixa qualificação dos
candidatos.
Assim como todos os produtos e serviços concorrem pela preferência do
consumidor, os profissionais também disputam as mesmas oportunidades.
Engenheiros que gerenciam empresas, administradores que coordenam departamentos
jurídicos, advogados que fazem estudos de viabilidade, economistas que se tornam
gourmets. Uma autêntica dança das cadeiras que leva à insegurança os jovens em
fase pré-vestibular.
Há quem defenda a tese de que adolescentes são muito imaturos para optar por uma
determinada carreira. Isso me remete a reis e monarcas que com idade igual ou
inferior ocupavam o trono de suas nações à frente de grandes responsabilidades,
diante de uma expectativa de vida da ordem de apenas trinta anos...
O que falta aos nossos jovens é preparo. Um aparelhamento que deveria ser
ministrado desde o ensino fundamental através de disciplinas e experiências
alinhadas com a realidade, promovendo um aprendizado prazeroso e útil,
despertando talentos e desenvolvendo competências. Um ensino capaz de inspirar e
despertar vocações. Ensino possível, porém distante, graças à falta de
infra-estrutura das instituições, programas curriculares anacrônicos e, em
especial, desqualificação dos professores.
Em vez disso, assistimos a estudantes com dezessete anos de idade, onze deles ou
mais na escola, que às vésperas de ingressar no ensino superior sequer conseguem
escolher entre Psicologia e Comunicação Social, entre Arquitetura e Educação
Física, entre Veterinária e Direito.
A escola e a família devem propiciar ao aluno caminhos para o autoconhecimento e
descoberta da própria personalidade e identidade. Fornecer informações
qualificadas e estimular a reflexão, exercendo o mínimo de influência possível.
Muitos são os que direcionam suas carreiras para atender às expectativas dos
pais, aos apelos da mídia e da moda, à busca do status e do sucesso financeiro,
em detrimento da auto-realização pessoal e profissional. E acabam por investir
tempo e grandes somas de dinheiro numa formação que não trará retorno para si ou
para a sociedade.
Orientação vocacional não se resume aos testes de aptidão e questionários.
Envolve conhecer as diversas profissões na teoria e na prática. Permitir aos
estudantes visitarem ambientes de trabalho e ouvirem relatos de profissionais
sobre os objetivos, riscos, desafios e recompensas das diversas carreiras. Tomar
contato com acertos e erros, pessoas bem sucedidas e que fracassaram. Provocar o
interesse e, depois, a paixão por um ofício.
Precisamos voltar a perguntar aos nossos filhos: “O que você vai ser quando
crescer?”. A magia desta indagação é que dentro dela residem os sonhos e a
capacidade de vislumbrar o futuro. Aliás, talvez também devamos colocar esta
questão para nós mesmos, pais e educadores...