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Investimentos / Fundos - Saiba por que até os arrojados devem investir em renda fixa 

Data: 28/04/2010

 
 
Dinheiro poderá ser utilizado tanto para arcar com despesas imprevisíveis quanto para aproveitar oportunidades futuras na bolsa

André Abreu, da BB DTVM: fundos de renda fixa têm inúmeras possibilidades

Embora a renda variável tenha ganhado espaço entre os investidores nos últimos anos, a liderança no segmento de fundos de investimento permanece inalterada no país. Os fundos de renda fixa ocupam o primeiro lugar do pódio, ainda com larga vantagem sobre os demais investimentos. Na prática, ao destinar no mínimo 80% dos seus recursos a títulos de renda fixa, esses fundos emprestam dinheiro aos emissores de papéis de dívida, como governo, empresas e bancos. O lucro vem dos juros que essas instituições pagam pelo capital recebido antecipadamente. E a forma como esse pagamento é concedido varia em função da política de rendimento previamente acordada.

Os títulos de renda fixa pós-fixados, por exemplo, pagam a soma de um determinado índice - como a inflação medida pelo IPCA - com uma taxa de juros combinada entre quem emitiu e quem comprou o título. Neste caso, só é possível conhecer o quanto será embolsado no momento do resgate de quotas porque é impossível prever o IPCA dos próximos anos. Por sua vez, os títulos prefixados têm sua remuneração determinada no momento da aplicação, de modo que o lucro fica atrelado a uma taxa de juros preestabelecida. Se um papel paga juros de 20% ao ano, por exemplo, o investidor não terá surpresas.

Justamente por se apoiar no fator previsibilidade que os fundos de renda fixa são os favoritos de tantos investidores. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), eles representam, sozinhos, quase 30% da indústria de fundos brasileira. Além disso, a liquidez nesse tipo de aplicação é alta, o que permite ao aplicador sacar o dinheiro no curto prazo com menos chance de amargar prejuízos. "Ainda somos assombrados por muitos problemas do passado. Quem apostou na previdência perdeu muito com a falta de correção inflacionária, a poupança foi confiscada pelo plano Collor e o setor imobiliário viu a Encol quebrar. O brasileiro sofreu para acumular o dinheiro e por isso dá valor à possibilidade de fazer saques imediatos", acredita o consultor financeiro Gustavo Cerbasi.

Por esse motivo, os fundos de renda fixa são muitas vezes associados a um perfil conservador de investimento. Muito embora essa modalidade de aplicação se encaixe nas aspirações do sujeito avesso a riscos, analistas concordam que é sensato para qualquer um manter uma parte significativa do patrimônio na renda fixa. Do ponto de vista da realização de sonhos, o fundo permite o resgate de recursos com facilidade. Por isso, é ideal para quem tem compromissos com datas, como casamento marcado, formatura de filhos e vencimento do aluguel. Além disso, o investimento protege o capital e permite a prática do rebalanceamento financeiro. "Toda carteira tem que ter renda fixa para ser entendida como reserva de oportunidade: é com ela que eu posso enriquecer porque é com ela que vou comprar ações baratas em algum momento, por exemplo", explica Cerbasi.

Ativos possíveis

Apesar de o senso comum indicar o contrário, os fundos de renda fixa também possibilitam ao investidor mais ousado aplicar até 20% da carteira em títulos de crédito privado de médio e alto risco, sendo aceito inclusive o uso de derivativos - operações feitas no mercado em que o valor das transações deriva do comportamento futuro dos ativos. A possibilidade de perda é maior porque essas previsões são envoltas por um grau de incerteza. Mas a taxa de retorno é potencialmente mais atraente. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a porcentagem que pode ser aplicada em cada tipo de ativo acompanha o nível de regulação e supervisão do órgão emissor, incluindo a divulgação pública de informações. Quanto maior o risco, maiores as restrições para a entrada na carteira.

"O fundo de renda fixa abrange um leque bem grande de possibilidades e você pode ter diversos níveis de retorno dependendo do tipo de ativo presente na carteira", esclarece André Abreu, gestor de renda fixa da BB DTVM. As opções de aplicação iniciais são muitas e contemplam poupadores mais modestos. Para alguns fundos, o desembolso mínimo é de R$ 100. "Mesmo que seja pouco, é bom lembrar que é sempre mais interessante programar uma compra e fazer um investimento para adquirir um bem do que se endividar e pagar juros".

Independente de quanto se aplica, o investimento diversifica-se à medida que a carteira soma diferentes ativos. Muitas vezes, comprar cotas em fundos de renda fixa significa apostar em papéis com rentabilidades distintas. Em suma, os fundos podem ter títulos da dívida pública (emitidos pelo governo) e títulos da dívida privada (emitidos por bancos e empresas). A incerteza sobre a liquidação destes papéis na data do vencimento é menor nos títulos públicos. Isso porque a chance de um governo quebrar e não honrar o pagamento de juros sobre os recursos emprestados é mais baixa do que seria com empresas ou bancos. Ainda assim, esta insegurança, conhecida como "risco de crédito" no jargão financeiro, permeia - em maior ou menor grau - o investimento em todos os tipos de títulos. Conheça as características de cada um deles:


Órgão emissor


Títulos prefixados
(permitem que o investidor saiba antecipadamente o valor que será resgatado após o prazo de vencimento)
 


Títulos pós-fixados
(a rentabilidade não é definida no momento da compra, sendo vinculada à um índice ou taxa, como a Selic ou o IPCA)

 
Governo
Emite papéis para captar recursos com o objetivo de financiar a dívida pública e realizar investimentos. Conhecidos como títulos
da dívida pública, são ofertados em grande parte pelo Tesouro Nacional. Também podem ser emitidos com o intuito de sinalizar
uma política monetária,
como por exemplo o
controle da alta do dólar.

 
Letras Financeiras de Estados ou Municípios:
autorizados pelo Senado Federal, os títulos antecipam a receita tributária dos estados e municípios. A rentabilidade pode ser prefixada ou indexada à Selic.
 

 
Letras do Tesouro Nacional (LTNs): possuem fluxo simples de pagamento, com apenas um pagamento
e um resgate. O investidor    recebe o valor investido mais juros somente na data do vencimento do título. Este valor, contudo, só é pago integralmente se ele permanecer com o título até o vencimento. É indicado
para quem acredita que a
taxa prefixada será maior
que a taxa básica de juros. 

Notas do Tesouro
Nacional série F
(NTNs - F):
têm mais
liquidez porque rendem o valor investido mais juros a cada seis meses. O pagamento é feito através
dos cupons semestrais.
Assim como acontece com
as LTNs, o investidor está sujeito à perda do poder aquisitivo em função da alta de inflação e dos juros, pois a taxa acordada para o resgate pode estar menor do que a Selic ou IPCA no momento do saque.
 


Letras Financeiras do Tesouro (LFTs): valor dos    juros é calculado em cima da variação da Selic e o rendimento só é conhecido na data de vencimento do título. 

Notas do Tesouro
Nacional série B
(NTNs -B):
pagam uma parte do retorno a cada seis meses por meio dos cupons semestrais. O lucro é determinado pelos juros definidos no momento da compra mais a variação da inflação (IPCA) no período da aplicação. O pagamento periódico é ideal para quem precisa de dinheiro no curto prazo. 

Notas do Tesouro
Nacional Principal
(NTNs -B):
iguais às
NTNs - B. A diferença é que o investidor não pode fazer resgates antecipados. Portanto, são indicadas para os poupadores que não têm    compromissos imediatos.


Empresas
Emitidos por empresas não financeiras e com capital aberto, os títulos de dívida privada buscam captar recursos de médio e longo prazo para financiar atividades ou quitar dívidas. Estes papéis asseguram aos seus detentores o direto de crédito, de modo que o investidor torna-se credor
da companhia. São,
portanto, ativos de crédito privado.

 


Debêntures: quem compra debêntures empresta    dinheiro para uma companhia. Algumas delas podem ser convertidas em ações    depois de um prazo definido.Os juros pagos
pelo empréstimo refletem a qualidade da empresa.
Assim, as que são melhores estruturadas vão pagar menos juros pois a probabilidade de honrarem seus compromissos é maior. Para tornar suas debêntures mais atrativas para os investidores - e reduzir os juros que devem pagar - algumas empresas dão garantias de retorno na emissão.
 


Bancos 

O aumento da oferta do crédito leva aos bancos o desafio de aumentar o
capital. Mas antes de emprestar, é necessário captar dinheiro. Os títulos
da dívida privada emitidos por estas instituições cumprem com esta função, além de possibilitarem a captação de dinheiro para outras operações.


Certificados de Depósito Bancários (CDBs): funcionam como depósitos bancários. O cliente empresta dinheiro ao banco e recebe em troca o pagamento de juros. Têm liquidez diária e endosso nominativo. Isso significa que podem ser vendidos a qualquer momento dentro do prazo contratado, com pequena desvalorização.

Recibos de Depósito Bancário (RDBs): possuem as    mesmas características dos CDBs, mas diferentes destes, são intransferíveis e não admitem resgate antes do vencimento.

Letras hipotecárias (LHs): emitidas por instituições autorizadas para financiar linhas de crédito imobiliário. O vencimento é previamente acordado e o investidor não pode sacar recursos antes do prazo determinado. Possuem isenção de imposto de renda.

Letras cambiais: utilizadas pela financeiras para captar recursos no mercado e emprestar aos clientes, funcionam como os CDBs. No entanto, as letras são obrigatoriamente lastreadas em uma operação de financiamento de compra de bens ou de serviços.

Letras imobiliárias: destinadas à captação de recursos para o financiamento de construtores e adquirentes de imóveis.

Renda fixa X Poupança

Quando comparados aos outros tipos de fundos, os de renda fixa têm as taxas de administração mais baixas do mercado, com uma média de 1,15%. Na avaliação da Anbima, o percentual vem caindo desde 2005 em função do lançamento de produtos da mesma categoria com preços mais em conta. Para analistas, é justamente aí que mora a rentabilidade ou não do investimento.

Com a queda da Selic para patamares historicamente baixos em 2009, por exemplo, muitos fundos com altas taxas de administração passaram a perder em rentabilidade para a caderneta de poupança. Enquanto os quotistas dos fundos pagam impostos ao governo e taxas aos gestores, a caderneta é isenta de qualquer tributação. "Neste cenário específico, uma taxa de administração acima de 1% já ameaça os lucros, tornando a poupança uma boa opção para qualquer investidor", afirma o professor Roy Martelanc, professor de economia da Universidade de São Paulo.

Os fundos de renda fixa pagam alíquotas decrescentes de Imposto de Renda, em percentuais que variam conforme o tempo da aplicação. A taxa é de 22,5% sobre o rendimento para resgates de até seis meses, 20% para os recursos solicitados entre 180 dias e um ano, 17,5% entre um ano e 720 dias e, finalmente, 15% para os saques realizados depois de 2 anos. Apenas os resgates com prazos inferiores a 30 dias sofrem incidência do Imposto sobre Operações Financeiras. O IOF é pago sobre os lucros obtidos, sendo que a alíquota também é regressiva.Quanto menor o tempo de aplicação, maior será a taxa abatida. As alíquotas variam entre 3 e 96%.

Na briga por investidores, os fundos de renda fixa têm outro opositor de peso. Em momentos de aumento da taxa básica de juros, eles perdem competitividade frente aos referenciados DI, que necessariamente aplicam recursos em títulos pós-fixados e passam por valorizações nesses momentos. Mas ainda que sejam comumente associados a aplicações prefixadas, os fundos de renda fixa têm liberdade para compor sua carteira combinando os dois tipos de papéis. É justamente essa maleabilidade que permite a alocação de recursos em títulos pós-fixados ou prefixados - dependendo do que for mais adequado àquele momento.



 
Referência: Portal Exame
Autor: Marcela Ayres
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