Caso as taxas de juros continuem a cair nos próximos anos, aplicar em renda
variável vai se tornar praticamente obrigatório no Brasil
No futuro, investimentos em renda fixa podem não ser as melhores opçõesSe
antigamente existia a cultura de que quem investe em bolsa de valores é
especulador ou milionário e que os fundos de renda fixa são uma forma segura e
viável de multiplicar o patrimônio, hoje em dia esse panorama já começa a mudar.
A imensa maioria dos agentes do mercado financeiro acredita que, se o Brasil
continuar a dar certo, os juros pagos por investimentos em fundos de renda fixa
ou DI tendem a ser cada vez menores.
Aplicar ao menos uma parte do patrimônio em bolsa passará a ser, portanto,
praticamente obrigatório - seja para garantir uma aposentadoria confortável,
seja para obter o retorno necessário para comprar um bem no futuro. "A tendência
é que a taxa de juros caia cada vez mais, e será mais difícil ganhar dinheiro
com a renda fixa", explica Paulo Mazon, diretor de varejo da Win Trade.
Se o Brasil deixar de ser o paraíso dos juros altos, há uma série de razões
para acreditar que a bolsa será o caminho a ser seguido por quem tem dinheiro
para investir. O primeiro deles é a experiência internacional. Nos Estados
Unidos, mais de 90 milhões de pessoas físicas aplicam em ações. No Japão, são 27
milhões. A meta da BM&FBovespa é elevar o número de pequenos investidores de
500.000 para 5 milhões em cinco anos.
Outro motivo para as pessoas irem à bolsa é que, no longo prazo, os
investimentos em renda variável costumam ser os mais rentáveis. "Neste tipo de
mercado, o investidor, além de receber bons dividendos, irá se beneficiar do
crescimento da economia do país e de suas grandes empresas", diz Mazon.
Por último, investimentos em bolsa oferecem uma liquidez maior que outras
opções de aplicações com algum risco. Quem opta por investir nas maiores
empresas da bolsa pode comprar e vender papéis quando quiser sem ter de se
sujeitar a pagar comissões e impostos altos nem ter de pagar um prêmio se tiver
pressa em se desfazer de algum ativo.
O principal inconveniente da bolsa é o risco. Ninguém sabe quando o mercado
vai subir ou cair - nem mesmo os melhores gestores e investidores do mundo.
Portanto, a compra de ações só é recomendada para quem não planeja mexer no
dinheiro por alguns anos - já que haverá tempo suficiente para que eventuais
perdas sejam recuperadas.
Como começar
É possível investir na bolsa de três maneiras diferentes. Uma delas é
individualmente. A pessoa deve procurar uma corretora para intermediar as
operações, transmitindo as ordens de compra e venda de papéis. Nesse caso, a
decisão de investimento cabe a pessoa física, que optará por comprar ou vender
determinada ação.
Outra maneira é formando um clube de investimentos com amigos ou membros da
família. O grupo procura a corretora que irá administrar os negócios e elege um
membro para ficar em contato direto com o corretor. Esse membro poderá ou não
tomar decisão em nome dos outros membros do clube � é o estatuto que vai definir
a quem cabe, em última instância, o direito de decidir que papéis comprar.
E, por fim, pode-se ainda investir através de um fundo de investimentos.
Compram-se cotas de fundos de ações que são administrados por gestores
profissionais independentes ou ligados a alguma instituição financeira. E é o
gestor que procura as melhores oportunidades na bolsa - no caso, ações a preços
baixos ou com bom potencial de retorno.
O investidor será informado periodicamente pelo gestor sobre os resultados do
investimento, mas pouco poderá influir na tomada de decisão. É necessário,
portanto, procurar algum gestor com boa reputação no mercado antes de
entregar-lhe o dinheiro. Especialistas recomendam verificar no site da Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) se os responsáveis por determinado fundo são
profissionais reconhecidos pelo órgão.
E, se você tenha tempo e interesse em estudar o mercado de ações e decidir
gerir os próprios investimentos, o primeiro passo é escolher uma corretora.
Erra quem decide contratar a corretora que oferece apenas o menor preço para o
envio de ordens para a compra e a venda de ações.
Estrutura de aconselhamento, distribuição de relatórios de analistas,
realização de cursos, ajuda na montagem de operações para a proteção da carteira
e estabilidade do sistema são alguns diferenciais importantes que tornam
determinadas corretoras mais interessantes do que outras. "É bom avaliar o
número de empresas que a corretora tem analistas para cobrir, pois só nesses
casos o investidor poderá contar com orientação", alerta Hélio Pio, gerente
comercial da ÁgoraInvest.
Depois que tiver escolhido a corretora, o investidor passa para a parte
burocrática. Será necessário abrir uma conta na corretora na qual ele irá
depositar o montante a ser investido. A corretora será remunerada sempre que o
investidor comprar ou vender algum ativo por meio de uma comissão fixa ou um
percentual da transação.
Algumas instituições também cobram uma taxa pela custódia dos papéis
comprados, que será repassada à Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
Por último, a cada transação será necessário pagar emolumentos à BM&FBovespa.
O beabá do mercado
Quando o critério é o tamanho da empresa, existem três tipos de ações. As
chamadas "blue chips", ou ações de primeira linha, são as mais aconselhadas para
investidores iniciantes. Com bons índices de liquidez e volume de negócios na
bolsa, essas ações são provenientes de grandes companhias, de boa credibilidade
no mercado.
Já ações ditas de segunda linha são papéis menos negociados que as
primeiras. Por fim, existem as ações de terceira linha, com liquidez ainda menor
e pertencentes a médias ou pequenas empresas.
Depois, escolhe-se qual a modalidade da ação. Boa parte das companhias tem
papéis preferenciais e ordinários. Se a ação for preferencial, o investidor terá
prioridade sobre os demais na distribuição de dividendos, mas, em compensação,
não poderá participar da tomada de decisão em assembleias de acionistas.
Isso quer dizer que, se a diretoria da empresa decidir vendê-la por um preço
abaixo do valor de mercado, por exemplo, o investidor não poderá votar contra a
operação. As ações preferenciais podem ser identificadas quando há a sigla PN
após o nome da empresa ou pelo número 4 no código de negociação. As
preferenciais da Petrobras, por exemplo, podem ser chamadas de Petrobras PN ou
pelo código PETR4.
Já as ações conhecidas como ordinárias dão direito a voto. O investidor
poderá participar de todas as assembleias convocadas para que uma empresa decida
sobre seu próprio futuro. Em geral, essa é a ação que costuma ser detida pelo
acionista controlador da companhia. De certa forma, os minoritários ficam mais
protegidos ao comprar este tipo de ação, porque dificilmente o dono de uma
empresa irá tomar uma decisão que prejudique a ele mesmo.
Entender os termos usados no mercado financeiro, no entanto, é apenas o
começo do trabalho do investidor. A BM&FBOVESPA aconselha analisar três pontos
antes de escolher as ações que irão formar sua carteira de investimentos: a
rapidez com que um papel pode ser comprado ou vendido elo preço de mercado
(liquidez), o potencial de retorno (também conhecido no jargão de mercado como "upside")
e o risco ("downside").
O grande problema é fazer uma análise de todos esses fatores com uma
quantidade bastante limitada de informações. Todas as companhias listadas só
podem divulgar informações relevantes ao mercado como um todo.
As informações publicadas geralmente não são de fácil entendimento para quem
não tem um conhecimento aprofundado de contabilidade. E nenhuma empresa tem a
estrutura necessária para tirar individualmente dúvidas de todos os potenciais
investidores.
Decididas quais e quantas ações serão compradas, chega a hora de passar a
ordem para a corretora. O investidor pode fazer isso pela internet (via home
broker) ou por telefone - essa última opção pode ser mais cara. Três tipos de
operações podem ser contratadas: ordem a mercado, ordem limitada e ordem casada.
A ordem a mercado apenas especifica a quantidade e o tipo de ações que serão
compradas. Se houver uma pessoa interessada em vender a ação pelo preço
oferecido, a transação é fechada. A ordem limitada, por sua vez, executa a
compra da ação por um preço igual ou melhor que o especificado pelo investidor.
Já a ordem casada, como o próprio nome diz, "casa" uma ordem de compra e uma
de venda e são executadas simultaneamente. Assim que a ordem, enviada pela
corretora à bolsa, for executada, o investidor passa a ser, finalmente, dono
daquela ação e, de certa maneira, sócio da empresa emissora do papel.
Antes de começar
Muita gente começa a investir na bolsa em um momento de alta, ganha dinheiro
durante algum tempo e, quando o mercado vira, perde tudo o que havia ganho e
muito mais. Por isso, são incontáveis os casos de investidores que deixaram a
bolsa após menos de um ano. Abaixo o Portal EXAME publica as principais dicas de
especialistas para não perder dinheiro por falta de experiência com a bolsa:
Conheça a si mesmo
Antes
de qualquer movimento, você precisa saber qual é o seu perfil de investidor
(clique aqui e faça o teste). Saber qual o grau de tolerância você tem a riscos
e quanto tempo pretende manter o investimento antes de resgatá-lo vão lhe ajudar
a escolher as melhores ações para sua recém-criada carteira.
Só invista com horizonte de longo prazo
Separe
o que faz parte do seu pé de meia do montante que pode investir. E nunca utilize
uma quantia de dinheiro que você sabe que irá precisar em pouco tempo. Renda
variável, dizem especialistas, é sinônimo de longo prazo.
Escolha uma boa corretora
Para
saber se a corretora é boa, consulte o site da CVM e cheque se ela tem os
registros pertinentes para operar. Observe qual o nível de abrangência dos
serviços que presta (Quantas empresas cobre? Que empresas são essas?) e, por
fim, escolha aquela cuja equipe considere a mais bem preparada para lhe atender.
Não invista todo seu dinheiro na bolsa
Agora
que você já tem o capital do investimento separado e uma boa corretora, pode
pensar na porcentagem que irá aplicar em renda variável e quanto irá manter na
renda fixa.
Compre ações aos poucos
Não
entre pesado na bolsa logo de cara. Comece aplicando na renda variável no máximo
20% de seu capital e mantenha os outros 80% em renda fixa ou em poupança. Nada
de ir com sede ao pote e arriscar tudo. Você pode ganhar muito dinheiro, mas
pode perder tudo também.
Aposte também em dividendos
Eleve
a frequência e os valores do investimento somente à medida que seus
conhecimentos da bolsa amadureçam. Mantenha aplicações constantes e programadas,
como uma poupança. E não se esqueça de comprar também ações de empresas que
podem não possuir um enorme potencial de crescimento, mas que pagam bons
dividendos. "É o que deixa alguém rico", explica Mazon, da WinTrade.
Mantenha-se informado
Saiba
tudo o que puder a respeito das empresas cujas ações compõem sua carteira de
investimento. Escolha as ações de companhias com boa governança e que estejam
inseridas em setores da economia nos quais você acredita.
Tenha paciência
Aplicar
na bolsa não é sinônimo de dinheiro rápido no curto prazo. Às vezes é necessário
esperar um bom tempo para obter bons lucros. Lembre-se do que diz Warren
Buffett, talvez o homem que mais ganhou dinheiro em bolsa. Segundo ele, o
mercado acionário é uma forma eficiente de transferir dinheiro do apressado para
o paciente.