Especialistas dizem que imóveis comercias têm rentabilidade maior e
inadimplência menor que residenciais, mas também há desvantagens
Contratos mais longos e retornos lucrativos no aluguel de imóveis comerciais
Há alguns anos, entrar no mercado de locação de imóveis comerciais era umas das
piores estratégias para investidores. Mas o cenário mudou. A economia vai bem,
os juros estão menores e as empresas têm feito fila para locar os espaços mais
cobiçados. No entanto, as incógnitas sobre as vantagens da locação de imóveis
comerciais em relação aos residenciais ainda persistem enquanto as diferenças de
mercado entre as regiões dificultam a elaboração de uma resposta padrão para
esse tipo de negócio.
A estratégia para resolver o dilema é recorrer a uma equação básica para as
decisões de todo investidor. "As melhores oportunidades de investimento são
resultado da interação entre as melhores condições de segurança, rentabilidade e
liquidez", afirma André Rosa, diretor de vendas e investimentos da consultoria
imobiliária Jones Lang LaSalle.
Geralmente, quando a variável em questão é rentabilidade, a locação de
imóveis comerciais dispara na frente. Em média, os rendimentos na cidade de São
Paulo, segundo Daniel Nader, diretor de investimentos da Cushman & Wakefield,
variam de 0,8% a 1,1% sobre o preço do imóvel. A receita dos alugueis
residenciais, por sua vez, alcança o percentual de 0,6%. Essa diferença,
contudo, muda conforme a área de localização do imóvel. É possível que, em
algumas regiões, seja mais rentável optar por investimentos em propriedades
residenciais.
O perfil do locador dos dois tipos também deve pesar na decisão. "Quando você
aluga para empresas, as garantias de crédito são de melhor qualidade", afirma
Nader. Além disso, os contratos são firmados com uma duração bastante superior
aos dos imóveis residenciais. Enquanto nas residências, a locação dura, em
média, dois anos, nos empreendimentos comerciais, esse período varia de 5 a 10
anos. "O inquilino comercial dificilmente vai querer perder aquele ponto. No
caso das residências, o perfil das famílias muda muito com o tempo e isso
influencia no tipo de imóvel escolhido para morar", diz.
Ao mesmo tempo, as facilidades de financiamento e a expansão do mercado
imobiliário no país têm levado muitos brasileiros a se livrar do aluguel e
conquistar a casa própria. Já no mercado de imóveis comerciais, o movimento é
oposto. As empresas estão deixando a cultura de ter sede própria e migrando para
o sistema de locação. "No passado, as companhias investiam em imóvel próprio
porque não havia oportunidades interessantes no mercado. Hoje, isso deixou de
ser vantajoso", afirma Nader.
Por isso, as operações de sale and lease back, por exemplo, têm se tornado
corriqueiras no Brasil. Neste sistema, as empresas vendem suas propriedades para
depois alugá-las elas mesmas. "Além de proporcionar giro de capital, o aluguel
pode garantir descontos nos tributos cobrados das companhias", diz o diretor de
investimentos da Cushman & Wakefield. Outra estratégia que tem caído no gosto do
mercado imobiliário são as operações de build to suit, pelas quais os
investidores constroem imóveis sob medida para as companhias e depois locam por
contratos que se estendem por períodos que podem variar entre 10 e 20 anos.
Segundo Rosa, da Jones Lang LaSalle, esta estratégia traz menos riscos para o
investidor que decide construir o imóvel. Mas, por outro lado, a operação pode
limitar a rentabilidade da locação com o tempo. Isso porque até o imóvel ficar
pronto, a região pode se valorizar acima do valor estabelecido em contrato antes
da construção.
Fuja das crises
Para que o negócio de locação de imóveis comerciais não fique vulnerável às
oscilações econômicas, é preciso tomar alguns cuidados. "Existem algumas ruas
mais setorizadas. Se a área de empresas que ela abriga sofre uma crise, seu
investimento pode estar em risco", diz Nader.
Um exemplo clássico para este problema aconteceu na ilha de Manhattan, em
Nova York, famosa por abrigar as principais instituições financeiras dos Estados
Unidos. Com a crise econômica de 2008, que levou uma porção de bancos e
companhias à falência, o mercado imobiliário do distrito também despencou. Em 12
meses, de acordo com dados da Cushman and Wakefield�s, os espaços disponíveis
para alugar aumentaram em 72% na região.
Isso, contudo, não é motivo para se assustar. "Nossa situação doméstica é
muito boa. Temos uma classe emergente que está passando a consumir e isso está
dando uma gasolina para a economia", afirma o diretor de vendas e investimentos
da consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle. Como consequência, o otimismo do
mercado é facilmente transferido para os negócios imobiliários.
Os mais cobiçados
A boa maré econômica, contudo, não é suficiente para garantir o sucesso do
investimento em imóveis comerciais. De acordo com o diretor de investimentos da
Cushman & Wakefield, propriedades que comportem companhias de médio e grande
porte são a melhor opção. "Nossa percepção é que imóveis com perfil mais
corporativo têm um risco de crédito melhor", afirma. Segundo ele, imóveis de no
mínimo 250 metros quadrados atraem inquilinos mais estáveis com perspectivas de
contratos de longo prazo.
Rosa, da Jones Lang LaSalle, ressalta a infraestrutura do condomínio como
essencial para conquistar este perfil de locatário. "A quantidade de vagas de
garagem, por exemplo, é um atributo importante. Estipula-se que cada 30 metros
quadrados de escritório devem corresponder a uma vaga de estacionamento",
afirma. Além disso, de acordo com ele, a distância entre o piso e o forro do
imóvel deve ter cerca de 2,80 metros. A altura elevada deve-se à necessidade de
possibilitar a passagem de fios e a tubulação do ar condicionado.
A localização é outro fator que deve pesar na escolha do imóvel. Locais que
tenham boa infraestrutura de transporte e de alimentação ganham pontos para os
candidatos à locação. "È importante também pesquisar qual o perfil da região
para decidir o tipo de imovel que vai ser comprado. Em algumas áreas, há demanda
para mais escritórios, enquanto em outros os galpões são os mais procurados",
afirma Rosely Hernandez, gerente-geral de locações e vendas da Lello Imóveis.