A partir do momento em que o Brasil conquistou a estabilidade econômica, a
população conseguiu fazer um planejamento financeiro de longo prazo, já que a
inflação não impedia mais que se pensasse no futuro. Com isso, começaram a
surgir questões polêmicas no orçamento, sendo que, entre elas, está a dúvida
sobre como poupar para a aposentadoria e ainda conseguir arcar com o estudo dos
filhos.
“Tanto um assunto quanto o outro são novidades para os brasileiros”, disse o
educador financeiro Álvaro Modernell. “Pela cultura inflacionária, a prática de
planejamento financeiro tinha sido abolida. Mas nos últimos 15 anos, as pessoas
dos mais diversos níveis estão vendo a importância de planejar, para ter
tranquilidade na vida, ou seja, menos sobressaltos, menos preocupação e mais
felicidade”, destacou.
E quais desses aspectos priorizar na vida financeira: a faculdade dos filhos
ou a aposentadoria? De acordo com Modernell, ambos devem ser considerados no
planejamento financeiro, o que pode mudar de acordo com vários fatores, como a
etapa de vida da pessoa e as condições do orçamento doméstico.
O que colocar na balança?
Nos Estados Unidos, um desses fatores considerados é o cenário econômico.
Uma pesquisa feita pela empresa de produtos e serviços financeiros Country
revelou que o número de norte-americanos que pensam que pagar a universidade dos
filhos é um bom investimento caiu 16 pontos percentuais em 2010, frente a 2009,
passando a 64% da população. O motivo para isso? O cenário de incertezas.
Desta forma, houve uma troca nas prioridades da população norte-americana. Ao
contrário do ano passado, mais americanos disseram que a aposentadoria é mais
importante do que a universidade dos filhos, com 43% e 41% das respostas,
respectivamente. O grupo daqueles que apontaram a aposentadoria em primeiro
lugar cresceu dois pontos percentuais, ante a queda de seis pontos percentuais
no grupo dos que apontaram como prioridade a educação dos filhos.
No Brasil, a aposentadoria também deveria ser uma preocupação da população,
ainda mais se pensarmos nas contas públicas. “É preciso conversar muito sobre o
tema, para evitar situações constrangedoras e a diminuição da renda neste
período. Sem o preparo, a aposentadoria deixa de ser motivo de comemoração, para
se tornar uma séria dificuldade para o trabalhador”, disse o especialista em
gestão financeira e instrutor da Dtcom, Samuel Marques.
Educação dos filhos x aposentadoria
Segundo Modernell, é difícil dizer o que é mais importante, entre a educação
dos filhos e a aposentadoria. O que as pessoas devem fazer é guardar uma
quantidade do salário mensal e destinar parte disso para essas despesas. "Um
parâmetro razoável é guardar 10%, porque é factível. Quem tem mais disciplina
consegue chegar a 20%, que seria o ideal. Se for menos de 10%, o resultado é
muito pequeno e, acima de 20%, é muito difícil”, afirmou o educador financeiro.
Deste valor guardado, separe uma quantidade para a educação dos filhos e uma
para a aposentadoria. “Quando um precisar de mais, destine mais dinheiro, mas o
ideal é que nenhum deles seja zerado”, explicou Modernell.
Já Marques indica às pessoas que separem o dinheiro para a universidade e
para a aposentadoria em aplicações distintas. "O dinheiro da previdência deve
ser investido em contas de previdência privada. Para a faculdade dos filhos,
existem também opções específicas nos bancos", destacou.
Ao utilizar produtos específicos, ele disse que o nome, a tributação, os
prazos e os juros serão adequados ao motivo da poupança. Isso ajuda a poupar sem
que um atrapalhe o outro. Além disso, Marques lembra que é possível que o custo
da faculdade diminua o montante poupado para a previdência, mas que ele deve ser
retomado assim que o curso acabar.
Dicas x disciplina
De qualquer forma, segundo o educador financeiro, não existe uma "receita de
bolo" quando o assunto é planejamento financeiro, já que as regras para uma
pessoa mais nova são diferentes daquelas destinadas às pessoas com mais idade,
bem como para aquelas que moram em locais diferentes. "O indicado é que se pegue
as dicas e reflita sobre a própria realidade", finalizou.
Marques ressalta ainda que poupar para o futuro exige muita disciplina,
porque haverá a tentação de gastar com uma necessidade do presente. "É difícil
deixar de fazer uma viagem ao exterior com os amigos tendo R$ 30 mil investidos
no banco".