O jogo do último domingo, as últimas "estrepolias" do filho, aquela festa
inesquecível. Assuntos para conversar com os colegas de trabalho não faltam,
principalmente depois de um fim de semana. Um bate-papo pode até ser prazeroso,
mas cabem sempre ressalvas quando ele é feito durante o expediente. Nesses
casos, vale o bom senso.
“Essa questão de bom senso é sempre questionável”, afirma o sócio majoritário
da consultoria de processos seletivos Steer Recursos Humanos, Ivan Witt. Para
ele, o limite da conversa durante o trabalho é estabelecido pelo resultado. “O
limite tem de ser o objetivo que o grupo quer alcançar”, diz.
Dessa forma, em ambientes onde a equipe é focada e os objetivos são
cumpridos, a conversa em nada prejudicará o rendimento nem será vista com maus
olhos pela liderança. “Não existe chefe que não goste de bons resultados e as
pessoas do ambiente de trabalho têm de saber conduzir o ímpeto de socialização”,
ressalta.
Integração versus dispersão
Para a consultora de Planejamento de Carreiras da Ricardo Xavier Recursos
Humanos, Vanessa Patrocínio, não existe um limite para o bate-papo. “Mas é bom
ressaltar que a conversa deve ser de curta duração”, afirma. A consultora
acredita que a conversa é mais uma ferramenta que auxilia a equipe no trabalho.
“Essas conversas são importantes para integrar a equipe, aproximam as pessoas e
ajudam em momentos de tensão”, explica.
Porém, o fio que separa a integração da dispersão é tênue. Assim como Witt,
Vanessa acredita que equipes pequenas e focadas tendem a utilizar bem o
bate-papo para aumentar os resultados e alcançar os objetivos. Mas, em equipes
maiores, se não houver um controle, elas podem dispersar.
Então, cabe sim o bom senso, mas o da empresa. “Acredito que as empresas
devem ditar regras”, diz Witt. Para ele, as normas facilitariam a vida do
profissional. Porém, ele reconhece que questões como essas são delicadas e
restringir a conversa pode gerar o efeito inverso ao desejado pela empresa. “Se
houver um controle excessivo, a equipe pode se sentir triste e desmotivada”,
afirma. Afinal, conversar é uma necessidade inerente ao homem. “É inevitável”,
completa Vanessa.
Conversas paralelas
Já que conversar é natural e inevitável, estabelecer certos limites pode ser
necessário para evitar que o local de trabalho vire uma verdadeira feira livre.
E se é difícil as empresas delimitarem essa linha, cabe aos profissionais
pontuarem o que pode e o que não pode, não com base no bom senso, que é
relativo, mas na observação do ambiente onde ele está.
“Nesses casos, até o layout dessa ambiente influencia”, afirma Witt. Ele
explica que locais onde a separação entre os funcionários é notória, feita com
baias altas, por exemplo, tem o objetivo de manter o profissional focado.
Ambientes mais abertos, porém, estimulam naturalmente as conversas paralelas.
Nesse sentido, é preciso que o profissional perceba quando e onde pode
iniciar a conversa. Witt afirma que existem momentos que são naturais para que
isso ocorra, como a chegada no local de trabalho, antes e depois do almoço e o
momento da partida. Além disso, o lugar do cafezinho é ideal para encontrar os
colegas de trabalho e dar uma respirada, bem como as saídas para fumar.
Claro que, mesmo nesses momentos, é difícil estabelecer um tempo para o
bate-papo, bem como é difícil manter a equipe em silêncio no restante do tempo.
“É impossível manter o colaborador focado o tempo todo”, diz Witt. Por isso, ele
defende o estabelecimento de regras por parte das empresas.
Essas regras devem manter o equilíbrio entre a satisfação dos funcionários e
o cumprimento das metas. “Sou favorável a uma comunicação clara”, ressalta o
especialista. “E acredito que as empresas devem ser flexíveis”, afirma,
pontuando que, como passamos a maior parte de nosso tempo no trabalho, é
impossível evitar resolver problemas pessoais durante o expediente.
O que não pode ser dito
Conversas polêmicas, que possam gerar desconfortos, estão fora da lista de
assuntos para se abordar com os colegas de trabalho. Para Vanessa, não existe
regra, mas temas que têm potencial para gerar desgastes devem ser evitados.
Assim, tire da lista política, religião, sexo e futebol. “Mas tudo depende do
ambiente corporativo”, ressalta a consultora.
Para Witt, comentários maliciosos, reclamações dentro do ambiente de trabalho
e os temas polêmicos devem ser evitados. “Muitas vezes, o que não é polêmico
para você pode ser para o seu colega”, ressalta. Por isso, para abordar
determinados assuntos, é preciso conhecer bem o ambiente de trabalho e os
colegas. “Situações engraçadas e corriqueiras podem e devem ser comentadas com
os colegas, é saudável”, enfatiza Vanessa. Para ela, ainda, assuntos de cunho
muito pessoal devem ser deixados de lado.
Para os profissionais que acabaram de entrar em determinada empresa, a dica é
notar o ambiente e tentar traçar um perfil de cada um. Nessas casos, o
profissional que chega falando sem parar pode se prejudicar se não adotar esses
cuidados. “Ele pode causar certa rejeição e chocar os colegas”, afirma Vanessa.
“Chegar querendo mostrar quem é não é adequado e você ainda corre o risco de ser
mal interpretado”, completa Witt.
Para ele, o ambiente corporativo tem de ser restringido ao máximo aos
assuntos profissionais com foco no processo e não nas pessoas. Como é difícil, o
ideal é controlar as dispersões. “Muitas vezes, quem inicia uma conversa não é a
pessoa que está focada. Quando isso acontece, é preciso aprender a dizer não
para a conversa”, afirma o especialista.
Vanessa aconselha os profissionais que se sentem incomodados com o
"burburinho" alheio a criar mecanismos internos para se concentrar. Para os mais
falantes, focar nos objetivos ajuda a controlar a vontade de falar sem parar. “É
importante haver essa integração, é saudável, mas sempre focando que estamos no
ambiente corporativo, que dita regras que devem ser seguidas”, completa Vanessa.