Recebo e-mails com frequência de profissionais promovidos a cargos de
liderança pela primeira vez, solicitando dicas sobre postura, posicionamento e
outras questões inerentes ao cargo. Como o exercício da liderança é coisa para
gente grande, decidi compartilhar minha experiência nesse sentido a fim de
ajudar a todos aqueles que tiverem a felicidade e ao mesmo tempo a coragem de
encarar esse maravilhoso desafio.
Antes de discorrer sobre o assunto, peço que deixe de lado o famigerado
clichê de que a liderança exige fé, amor, perdão, humildade, altruísmo,
paciência e outras coisas mais. Considero isso muito básico e já está mais do
que consolidado no best seller "O Monte e o Executivo", de James Hunter. Um
livro excelente, porém de difícil aplicação nesse mundo essencialmente
materialista e competitivo em que vivemos.
Liderança vai além. Exige sangue, suor, lágrimas, dedicação, estratégia,
vocação, equilíbrio, transparência e, acima de tudo, predisposição para lidar
com gente difícil, invejosa, sem muita noção, com muita noção, insegura,
melindrosa, insubordinada, maldosa e coitadinha. Com um pouco de sorte, pode-se
encontrar boas pessoas nas equipes também, dispostas a aprender, contribuir e
fazer parte do time em vez de querer puxar o seu tapete.
De acordo com estudos realizados por Robert Goffe e Gareth Jones, da Harvard
Business School, os quatro mitos mais populares sobre liderança já foram
derrubados: (1) nem todas as pessoas podem ser líderes; (2) líderes nem sempre
levam a resultados; (3) pessoas que chegam ao topo não são, necessariamente,
líderes e, por fim, (4) líderes nem sempre são grandes coaches (bons condutores
de equipes). As condições que favorecem a liderança podem ser as mais
inexplicáveis possíveis.
De fato, ninguém nasce líder e nem todos aspiram à liderança. Se todos os
líderes levassem a resultados positivos, o mundo seria diferente. Além do mais,
existem aqueles elevados à condição de liderança mediante conchavos, arranjos de
toda ordem e apadrinhamentos, mas esse jogo faz parte do mundo dos negócios e do
mundo político e pouco se pode fazer contra ele. Nesse sentido, você deve
resistir a qualquer tipo de sacanagem e partir para a conquista efetiva da
liderança se quiser registrar o seu nome na história.
Por esses e outros motivos, a liderança também é cíclica. A cabeça dos
líderes pode rolar de acordo com o humor dos acionistas, a insatisfação da
própria equipe, a conspiração silenciosa dos demais líderes e a própria falta de
adaptação do líder ao cargo. Por outro lado, alguns líderes tiranos e
prepotentes tendem a se sustentar no cargo com a obtenção de resultados
favoráveis seguidos, alcançados mediante coerção, ameaças, jogo sujo e um pouco
de sorte.
Em muitos casos, esse comportamento acaba encobrindo os defeitos e premiando
a incompetência dos líderes no trato com as pessoas, mas, infelizmente,
acontece. Para muitas empresas, o que interessa é o resultado, portanto, mesmo
que a direção tenha conhecimento dos desmandos, posturas assim são ignoradas em
nome do lucro.
De maneira geral, líderes realizam trabalhos por meio de outras pessoas,
tomam decisões difíceis, alocam e distribuem recursos e dirigem as atividades de
outros com o intuito de atingir determinados resultados. A parte técnica é mais
fácil, depende apenas de você, entretanto, a parte humana é mais complexa.
De acordo com Robert Katz, professor norte-americano e pesquisador do
comportamento organizacional, a liderança demanda três competências essenciais:
* Habilidades Técnicas: capacidade de aplicação de
conhecimentos ou especialidades específicas. Diz respeito à formação e ao
conhecimento do líder, à sua expertise, aquilo que você realmente sabe fazer.
* Habilidades Humanas: capacidade de trabalhar com outras
pessoas. Diz respeito à sua habilidade de relacionamento interpessoal: saber
motivar, ser bom ouvinte, saber comunicar-se, formar equipes de alto desempenho,
enfim, saber lidar com gente.
* Habilidades Conceituais: diz respeito à sua capacidade de
analisar e diagnosticar situações complexas e, com base nelas, tomar decisões
acertadas para o bem da empresa.
Um indivíduo pode ter capacidade técnica e humana, mas pode fracassar como
líder por causa da sua incapacidade de processar e interpretar racionalmente as
informações.
Apesar disso, penso que você deve encontrar o próprio jeito de liderar, agir
com bom-senso, equilíbrio e serenidade. Liderar não é algo tão simples quanto
você imagina, porém não é um bicho de sete cabeças. Posicionamento é a chave.
Senso de justiça é obrigatório. O resultado é pura consequência dos seus atos.
Ao ser elevado à condição de líder pela primeira vez, pense na liderança como
uma lição de sobrevivência que você deve aprender rapidamente, se quiser
manter-se no cargo e conquistar o respeito do grupo. Todo líder já foi um
simples subordinado e passou pelas mesmas dificuldades iniciais, portanto, não
se apavore. As regras são universais e podem ser aplicadas em qualquer condição
de liderança:
* Esclareça as expectativas: você não vai competir com os
membros da equipe; você vai dirigi-los, orientá-los, motivá-los, fazê-los
alcançar resultados, portanto, seja claro quanto ao propósito da sua missão e ao
papel de cada um dentro da equipe.
* Imponha seu próprio ritmo: você é o maestro, portanto,
dita o ritmo da equipe, ajusta o foco, seleciona os membros de acordo com a sua
expectativa em relação ao que é necessário para atingir os resultados esperados
pela organização.
* Liberdade vigiada: embora você seja o maestro, monte uma
equipe em que se possa confiar e que cada membro saiba tocar o seu próprio
instrumento; equipes de alto desempenho são feitas de pessoas que cumprem o seu
papel à risca; confie e monitore os resultados.
* Reúna o grupo com frequência: reuniões extensas e muito
frequentes São maçantes e improdutivas; reuniões coordenadas, com pauta
pré-definida, de 30 a 45 minutos no máximo, no início de cada semana são
necessárias para manter o foco e a comunicação alinhada, além de ajudar a
corrigir a rota quando necessário.
* Crie um bom networking com os demais líderes:
você é um tomador e um prestador de serviços ao mesmo tempo, portanto, construa
um bom networking com os demais líderes, mantenha-os informados a respeito da
sua área e evite a competição; faça o seu trabalho.
* Comemore os resultados: eis aqui um bom diferencial
competitivo; a maioria dos líderes está preparada para cobrar, competir e sugar
a energia da equipe; você pode fazer tudo isso, porém, ao comemorar os
resultados poderá conquistar confiança e o respeito do grupo.
No meu livro Manual do Empreendedor (Atlas), eu dediquei um capítulo
específico para o líder empreendedor, pois considero a liderança é a virtude
mais apropriada para a mudança que queremos ver no mundo. Ser elevado à condição
de líder é uma oportunidade única que não deve ser desperdiçada. É a sua chance
de demonstrar a habilidade para fazer as coisas do seu jeito, mas diferente do
que você está acostumado a ver no mundo corporativo. Não tenha medo, respeite
suas limitações e elas não se voltarão contra você. Aproveite seus pontos
fortes, faça o melhor que puder e o restante acontecerá naturalmente. Pense
nisso e seja feliz!