Hoje pela manhã recebi o telefonema de um grande amigo que assumiu a
presidência de importante grupo de varejo do país. Uma notícia que até então
poderia ser comum se não fosse o fato dele atingir o topo com apenas 36 anos.
Seu maior desafio, aliás, tem sido comandar uma equipe de executivos que já
beiram os 45 ou mais.
"Logo que entrei enfrentei minha primeira prova de fogo. Um deles quis testar
minha competência na hora de tomar uma decisão delicada", confessou-me. Sua
experiência, entretanto, não é e nem será a única. Cada vez mais cedo os
profissionais vêm conquistando postos de comando, ao mesmo tempo em que parte da
geração Y começa a experimentar o gostinho do poder. Dados da consultoria Hay
Group apontam que no Brasil cerca de 20% de jovens com menos de 30 anos já
ocupam cargos de chefia.
Fenômeno que vai impactar de forma irreversível a relação entre chefes e
subordinados. Aí faço as seguintes perguntas: Será que um chefe jovem está
preparado para liderar equipes mais velhas? Ou até que ponto um profissional com
invejável bagagem no currículo aceita ser comandado por quem ainda não viu o
filme todo?
Não há dúvidas que poucos terão a coragem de assumir o quanto se sentem
desconfortáveis. Ouso dizer que embora muitos afirmem não ver problemas, eles
serão velados, provocando atritos irreparáveis. Pode até rolar uma discreta
sabotagem.
Lembro-me de outro amigo executivo - na época com quase 50 anos - que pediu
demissão quando soube que o novo diretor da sua área tinha 17 anos a menos que
ele. Mesmo sem ter para onde ir, preferiu largar um emprego bacana por temer
futuros problemas.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Lens & Minarelli há alguns anos,
envolvendo 250 executivos, mostrou que mais da metade já teve um chefe mais
jovem. Desse total, 63,9% revelou ter enfrentado algum tipo de dificuldade de
relacionamento.
Nada contra jovens talentos estarem assumindo posições de chefia, muito pelo
contrário. Mas é preciso reconhecer que uma grande maioria não possui maturidade
suficiente para lidar com situações de extremo grau de estresse, contam com uma
carga emocional adversa e ansiedade à flor da pele que os impede ter
discernimento do que é bom senso (nas clínicas de planejamento da vida há
relatos de CEO jovens que se refugiam no banheiro para chorar de desespero!).
Entre as diversas credenciais necessárias para um verdadeiro líder está
exatamente o bom senso adquirido por meio da experiência. O chefe jovem tem
pouca milhagem e, portanto, alguns mostram uma visão equivocada do que é preciso
decidir rápido. Já ouvi alguns talentos da geração Y dizer: "Os mais velhos são
muito lentos para decidir, ficam remoendo o assunto e perdem o "timing" por
conta disso". Infelizmente, acabam confundindo rapidez com ponderação e não raro
erram feio em suas decisões.
Claro que toda regra tem sua exceção. Quando encontramos chefes jovens dotados
de grandes habilidades para tomar decisões, precisamos tirar o chapéu. A estrada
é longa e o desafio para aqueles que estão experimentando o poder tão cedo
consiste em ter coragem e humildade necessárias para entender que quanto mais se
aprende menos se sabe.
A imaturidade leva à arrogância, autoritarismo, descontrole, insegurança,
impaciência e competitividade exarcebada. Aspectos que precisam ser olhados com
cuidado por quem está no início da vida profissional. Se você faz parte da
geração Y precisa se preparar para ocupar cargo de chefia e comandar os mais
velhos.
Já para quem acumula uma bela trajetória profissional, saiba lidar com esse novo
cenário que desponta. Há pontos positivos de uma liderança jovem que somados à
sabedoria de executivos tarimbados resultarão em um modelo de gestão
equilibrado. Todos sairão ganhando.