A comparação é uma forma de nos avaliarmos, explica a psicóloga e
psicoterapeuta Clarice Barbosa. Assim, no dia a dia, comparamos nosso emprego
com o de conhecidos, os resultados que obtivemos na empresa com os dos colegas,
e até mesmo salários. "Estamos condicionados a fazer comparações o tempo todo e
nem percebemos. Na família, no trabalho, na profissão, na sociedade".
A psicóloga afirma que, desde cedo, pais e professores estimulam a comparação,
na esperança de motivar as crianças. "Eles separam os bons dos ruins, os
melhores do restante. Há escolas que até mesmo distribuem os alunos nas salas,
segundo suas notas", adverte.
Como nasce o sentimento de inadequação
O problema é quando a comparação se torna excessiva. Os resultados são a queda
da autoestima, a perda da identidade, o aumento do grau de ansiedade e de
insatisfação com relação à vida. Explica-se: a comparação excessiva com os
demais leva a pessoa a perder o foco, no lugar de voltar a si própria e
trabalhar seu potencial. Chega uma hora que ela passa a questionar quem
verdadeiramente é e quais são seus pontos fortes.
"Não é raro os profissionais desejarem ser tão competentes quanto determinado
colega ou conhecido. No final, por não conseguirem chegar ao patamar almejado,
eles entram numa onda de negatividade e se anulam. A tendência é achar que não é
bom o bastante, inteligente o bastante, carismático o bastante...".
A agressividade do mundo corporativo
Na nossa sociedade, ou se perde ou se ganha; ou uma pessoa é boa ou ela é ruim.
Não existe um meio termo. No mundo corporativo, esse raciocínio fica ainda mais
evidente. Iniciativas como o estabelecimento de metas ou mesmo o "funcionário do
mês" denotam o quanto é necessário ser o melhor nos dias de hoje.
Pode não ser difícil se destacar e ser o melhor em um dado momento. A questão é:
como manter isso? Que tipo de sacrifício o profissional que almeja ser o melhor
sempre acaba fazendo? Outro problema é que, se ele é bom sempre, na primeira vez
que se equivocar, se sentirá um completo fracasso, garante Clarice. E o pior: os
outros poderão vê-lo dessa maneira, porque se acostumaram com seus acertos
contínuos e o erro se torna algo bastante notável.
"Essa necessidade de, invariavelmente, ser o melhor está muito ligada à infância
do indivíduo", diz a psicóloga. "Se, quando criança, ele foi estimulado a ser o
melhor, o mais inteligente, e se os pais e os professores o desvalorizavam
quando não era o melhor, então por toda a vida esse profissional tentará se
destacar. E é de se esperar que tenha mais dificuldade de lidar com o fracasso".
Comparação positiva
Clarice alerta para o outro lado da história: o da comparação positiva. Há quem
olhe para o outro e se motive, sabendo lidar com os erros e os fracassos. Ele
não fica o tempo todo tentando ser quem não é. Portanto, não se sente inadequado
ou inferior aos outros. E mais: quem se utiliza da comparação sabe de seus
pontos fortes e volta para si mesmo.