As recentes turbulências de mercado tornaram diversos investidores,
principalmente os estrangeiros, muito mais seletivos na hora de escolher ações
brasileiras para compor suas carteiras. Mas não é somente a qualidade de crédito
e as perspectivas que estão sendo analisadas mais de perto: a liquidez passou a
ser um fator de extrema relevância.
Um exemplo claro é o desempenho de ações de empresas que recentemente abriram
seu capital, os IPOs. Muito do fraco desempenho da maior parte destes papéis em
relação ao Ibovespa não se refere somente a uma alteração nas condições ou
perspectivas da companhia: papéis de menor liquidez têm sido, em geral, mais
penalizados.
Liquidez é necessária
O raciocínio é simples. Investidores institucionais, principalmente os
estrangeiros, têm apetite somente em operações onde possam participar de forma
relevante. Não interessa a um fundo norte-americano comprar, por exemplo, R$ 1
milhão em uma oferta pública brasileira: o esforço para analisar a companhia não
justifica o baixo valor.
Estes investidores buscam aplicar valores elevados, na casa de dezenas de
milhões de dólares, em cada oferta, de forma que o esforço em "garimpar" uma
alternativa interessante de investimento seja devidamente remunerado. Neste
sentido, boa parte das recentes ofertas públicas se "qualifica", já que em raras
ocasiões o volume captado ficou abaixo de R$ 500 milhões.
Porém, conseguir entrar na oferta é necessário, mas não suficiente. O investidor
institucional também precisa ter condições de sair da ação quando achar
vantajoso, seja uma mudança de estratégia, realização de lucros ou redução do
volume de investimentos alocados ao Brasil ou ao setor. É neste ponto que a
liquidez se torna fundamental.
Quanto tempo para vender?
Vamos imaginar um investidor estrangeiro que comprou R$ 20 milhões em uma
recente oferta pública brasileira e agora decida vender o papel por qualquer
motivo. A velocidade no qual ele irá colocar em prática sua estratégia depende
do volume negociado pela ação.
Por exemplo, em uma ação que negocie, em média, R$ 500 mil ao dia, ele
necessitará, no mínimo, 40 pregões para se desfazer de sua posição, dentro de
uma hipótese pouco provável que ele seja o único vendedor. Para "agilizar" este
processo, somente uma solução: ofertar as ações a um preço mais baixo, buscando
atrair novos compradores.
Deste modo, se esta decisão for tomada por um ou mais investidores
institucionais, o efeito sobre as ações será muito grande, explicando quedas
significativas nos papéis, que, muitas vezes, não tem relação com qualquer
alteração nos indicadores ou perspectivas da companhia.
Atenção também à liquidez
Em momentos de maior incerteza, a tendência da maioria dos investidores é tentar
se posicionar em ativos de maior liquidez, o que explica parte do desempenho
muito melhor em 2008 de ações como Petrobras e Vale, por exemplo, em relação à
grande maioria dos papéis da Bolsa. Vender R$ 20 milhões em ações de qualquer
das duas empresas pode ser feito em um dia, sem qualquer efeito significativo
sobre as cotações.
Portanto, na hora de aproveitar potenciais oportunidades em ações que sofreram
quedas recentes significativas, não esqueça também de analisar a liquidez.
Embora o mercado seja relativamente eficiente no sentido de identificar papéis
que estejam "baratos" em relação a seus fundamentos, ele não é perfeito,
sobretudo em ações cuja liquidez diária é inferior a uma faixa entre R$ 3 e 5
milhões diários.
Ainda existem muitas ações, principalmente de IPOs, cujas cotações seguem
pressionadas para baixo por investidores institucionais se desfazendo dos papéis
na busca de ações de maior liquidez. Portanto, analise todos os elementos antes
de tomar sua decisão, sobretudo em momentos, como o atual, quando o humor do
mercado varia de forma significativa.