Nas últimas décadas, o mundo vem observando, às vezes com entusiasmo, outras
com ressalvas, a conquista do mercado de trabalho pelas mulheres. Ainda que elas
continuem, em grande parte das vezes, ganhando menos do que os homens,
atualmente, já é possível encontrá-las nas chefias de grandes corporações ou
exercendo profissões antes consideradas exclusivamente masculinas. Mas será que
os hábitos de consumo femininos acompanharam estas mudanças?
Na opinião da professora do departamento de economia da PUC-SP (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo), Anita Kon, os gastos femininos continuam
direcionados aos mesmos produtos, como cosméticos e moda, com a diferença de
que, hoje, elas gastam mais.
"O consumo, o gosto feminino não mudou, o que mudou foi a intensidade. Por conta
da inserção e evolução das mulheres no mercado de trabalho, hoje, elas podem
gastar mais", avalia a professora.
Mercado
Opinião semelhante a de Kon possui o professor de marketing da FEA (Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade) da USP (Universidade de São Paulo),
Marcos Cortez Cantomar, para quem não foram os hábitos de consumo das mulheres
que mudaram, e sim, o mercado voltado para esta parcela da população que
acompanhou tais conquistas.
"As conquistas das mulheres fizeram com que elas pudessem comprar carros?
Fizeram. Apartamentos? Fizeram. Mas, as transformações nos produtos que elas já
compravam exemplificam, de forma mais evidente, estas conquistas. A indústria da
moda passou a confeccionar roupas mais ousadas, a produzir modelos femininos com
cortes masculinos, por exemplo, a fim de atender às novas necessidades de suas
consumidoras", afirma Cantomar.
Hábitos masculinizados
Por outro lado, o superintendente de marketing da FGV (Fundação Getulio Vargas),
Marcos Henrique Facó, acredita que as conquistas femininas masculinizaram os
hábitos de consumo das mulheres, na medida que, apesar de não abandonarem os
costumes antigos, agora elas se sentem mais confortáveis e seguras para consumir
produtos antes voltados quase com exclusividade ao público masculino.
"Antigamente, apesar de influenciar, as mulheres não compravam carros,
eletroeletrônicos, esses produtos eram voltados especialmente aos homens. Hoje,
se você for à loja de alguma grande fabricante de computadores e produtos
eletrônicos, o público é majoritariamente feminino. Além disso, ao contrário do
que ocorria há algumas décadas, também podemos ver que as mulheres investem
grande parte de seus rendimentos na própria carreira, hábito que há pouco tempo
era mais associado aos homens."
Modo de comprar
Se o fato de ter havido ou não mudanças nos produtos adquiridos pelas mulheres
ainda gera divergências entre os especialistas, o modo de comprar feminino, ou
seja, como elas tomam suas decisões de compra, praticamente não causa atritos.
Facó diz que, independentemente das conquistas, o que se observa é que as
mulheres continuam comprando mais baseadas na emoção e os homens, na razão. "Ao
comprar, as mulheres procuram o produto que traz, sobretudo, satisfação. Já os
homens são mais racionais e consideram vários elementos antes de realizarem suas
compras", comenta.
Isso talvez explique o fato de grande parte das pesquisas de comportamento
apontarem as mulheres como as principais praticantes das compras por compulsão.
De acordo com o psicólogo Alexandre Bez, a cada dez pessoas que gastam dessa
forma, nove são mulheres. No entanto, explica ele, isto não significa que os
homens sejam comedidos. "A diferença é que, em geral, suas aquisições são mais
planejadas."
Segundo Bez, a compensação é um comportamento típico do arcabouço de defesa,
muito comum na estrutura psicológica feminina. "Por uma questão de
personalidade, elas estão mais dispostas a gastar e comprar o que muitas vezes
não precisam como, por exemplo, "todas" as novidades em cosméticos e produtos
para beleza", exemplifica o psicólogo.