Se você perde a noção do tempo quando trabalha, não se incomoda tanto quanto
seus colegas de ter de ir ao escritório no final de semana, ou de fazer horas
extras quase sempre, se orgulha de suas realizações e nunca se arrepende da
profissão que escolheu, parabéns! É um apaixonado pelo que faz!
Mas, antes de comemorar a descoberta - que talvez não fosse novidade alguma para
você -, saiba que nem sempre amar a profissão é positivo. Existe o lado bom, é
claro. "Quando o profissional conquista seu propósito e trabalha por algo mais
do que dinheiro, sente que cumpriu sua missão. Ele realizou um sonho e o
dinheiro é apenas um valor-meio e não um valor-fim", afirma o especialista em
Carreira da Sociedade Brasileira de Coaching, Maurício Sampaio.
"Por exemplo, para um jornalista que ama a profissão e sempre teve como
propósito melhorar a vida das pessoas, por meio da informação, não existe
barreira. Para as pessoas que amam o que fazem, inexiste a palavra "não". Às
vezes, o que os outros falam entra por um ouvido e sai pelo outro. É uma paixão
que pode cegar a pessoa e aliená-la da realidade que a cerca", acrescenta ele.
Isso sem falar que é mais difícil frustrar um profissional que adora o que faz,
mesmo diante de uma demissão, já que, para ele, as empresas e os empregos são
apenas meios para que possam atingir seus objetivos pessoais.
Mas os anos passam...
Todavia, o profissional apaixonado pelo que faz pode passar muitos anos se
entregando de corpo e alma ao trabalho, estudando e se aperfeiçoando, galgando
os degraus, um por um, para chegar ao topo e é possível que, ao finalmente
chegar lá, ele olhe para baixo e pense: "Nossa, como minha vida passou rápido e
eu nem percebi!".
Nessa hora, pode bater um arrependimento... Por não ter acompanhado o
crescimento dos filhos, por ter abandonado amigos no meio do caminho, por não
ter dado atenção suficiente à vida amorosa, por ter esquecido de cuidar da
saúde, por não ter viajado mais e conhecido lugares que, provavelmente,
permanecerão desconhecidos.
A coach, psicóloga organizacional e consultora do Idort/SP, Rosana Bueno, admite
que a vantagem de amar o que faz é que a pessoa trabalha com prazer, tem menos
estresse que os demais e não vê as horas passarem.
Problemas
Mas existem problemas e um deles é que, ainda que sem querer, esse profissional
coloca o trabalho em primeiro lugar, em detrimento de outros setores de sua
vida. "Tudo que é feito em excesso faz mal", garante a consultora do Idort/SP.
A outra questão reside no fato de que, apesar de as pessoas serem cada vez mais
incentivadas a fazer o que gostam, quando o assunto é carreira - segundo
especialistas, esta é uma premissa para o sucesso -, a verdade é que "nem sempre
quem faz o que gosta é bem-sucedido", nas palavras de Rosana. "Se a remuneração
de um profissional é incompatível com o que ele desenvolve em uma empresa, então
fazer o que gosta não foi suficiente para ele. Para obter sucesso, é preciso um
misto de talento, formação e prazer", explica ela.
E acrescenta: "Alguém que trabalha 10, 12 horas por dia pode não ter o estresse
psicológico, mas terá o físico. A saúde pode ficar comprometida. Além disso,
muitas pessoas esquecem de suas famílias e outras tantas acabam protagonizando
divórcios. É preciso equilibrar". A conclusão é que amar a profissão não é
sinônimo de sucesso nem de felicidade.
Mercado pode ser um "aspirador"
Na opinião de Sampaio, quem possui uma paixão desenfreada pelo que faz pode se
tornar um mártir para si próprio. "Algumas pessoas realmente se deixam sugar por
esse "aspirador" que é o mercado de trabalho. Elas não conseguem impor barreiras
para si próprias e, por vezes, vivem a pensar no futuro, e não no presente.
Desse jeito, é claro que a vida passa mais rapidamente. A sensação é de que o
tempo voou", diz ele.
Para aqueles que amam o que fazem, fica o recado: não deixe a paixão se
transformar em obsessão!