CUIDADO! O mundo corporativo está cheio de armadilhas. Vira e mexe e você, se
não estiver atento, acaba caindo em uma delas e sofrendo as dolorosas
conseqüências do passo descuidado. Pior ainda é quando a armadilha é
imperceptível porque vem camuflada de “paradigma da gestão moderna”. Desta vez,
falo da indecorosa idéia de que pessoal e profissional são aspectos distintos de
nossas vidas. Mais uma abobrinha promulgada diuturnamente nos corredores e salas
de reunião, e vendidas em palestras e livros de auto-ajuda, que mais ajudam os
seus autores.
Observe as frases abaixo, ouvidas pessoalmente ou extraídas de artigos:
- “Você deve buscar equilíbrio tanto em sua vida pessoal como profissional!”
- “Cuidado para não deixar que sua vida profissional interfira em sua vida
pessoal!”
- “Esta palestra foi excepcional, tanto para a vida profissional como para a
pessoal!”
Basta! É suficiente para constatarmos que a idéia está mais enrolada do que
briga de cobra. Vamos aos fatos e ao esclarecimento. Você é uma pessoa ou um
indivíduo único, com características únicas, e com duas esferas de
relacionamentos: a exterior e a interior. Na exterior, você exerce vários papéis
distintos. Além do profissional (empresário, servidor, funcionário, diretor,
autônomo...), você exerce também o papel familiar (pai, mãe, filho, namorada,
irmão...), e o social (cidadão, amigo, membro de clube ou organização...). Na
interior, um único papel: o EU, formado por mente, corpo e espírito. Todos esses
papéis são exercidos pela mesma pessoa, são interdependentes, e não isoláveis. É
como se fossem gases que não se misturam, mas impossível de detectar suas
fronteiras. Tudo que você faz em uma esfera ou papel afeta os outros.
A idéia de compartimentalização do indivíduo é retrógrada, arcaica e remonta aos
organogramas departamentais, que criavam feudos estanques. Daí a falsa idéia de
que você pode ser um cidadão, ou um pai, independentemente de ser um
profissional. É como se você pudesse exercer sua profissão desconsiderando o
fato de ter outros papéis. Ora, todas as experiências acumuladas por você no
exercício dos outros papéis, que não o profissional, são arquivadas no mesmo
corpo, mente e espírito que você também utiliza em seu trabalho. Não existem
compartimentos em sua mente que alojem separadamente essas realidades. Assim,
elas se misturam e vão definindo quem você é. Não vá, pelo amor de Deus, me
dizer que você é a mesmíssima pessoa que era desde que entrou no seu emprego
atual! É óbvio que não. E é bem possível, também, que sua atividade profissional
interfira, positiva ou negativamente, em sua relação familiar, social e
vice-versa. Ou seja, o tempo passa e os papéis e suas relações com os outros e
consigo mesmo vão construindo uma nova pessoa. Mas tudo diz respeito à mesma
pessoa, ao mesmo indivíduo. Você não pode, ou não deveria, ter valores que só
valessem para um determinado papel. Fidelidade é um valor que deve valer para o
casamento e para a empresa, por exemplo. Isso significa dizer que, enquanto
estiverem juntos, as atenções são unicamente dirigidas para a outra parte.
Normalmente, as melhores empresas para trabalhar tratam os seus funcionários
como seres holísticos, integrados, e valorizam o exercício dos outros papéis
dentro do trabalho, ao invés de exortarem a idéia de isolarem seus “outros
lados”. Sabem que fazendo isso eles não precisam ficar se negando, tentando
esconder as realidades de seus outros papéis. Na verdade, elas entendem que isso
é impossível e estimulam que os colaboradores busquem o equilíbrio no
desenvolvimento de todos esses papéis, porque sabem que eles sinergicamente
concorrem para o crescimento pessoal, ou seja, para o sucesso dos entes
profissional, familiar, social e do EU (interior).
Fazer ginástica ou desenvolver sua espiritualidade, por exemplo, são bons para o
seu corpo, espírito, mente e para suas relações no trabalho, em casa, e em
grupo. Assim, não se engane: tudo que concorre para seu sucesso profissional
concorre, também, para seu sucesso pessoal. E vice-versa.