Então aprenda a liderar em situações nas quais você não tem a autoridade
formal do comando
Se você quiser ser mesmo um líder eficaz no século 21, já não é mais suficiente,
apenas, aprimorar suas habilidades para comandar e motivar subordinados. Você já
deve ter percebido que liderar de cima para baixo é a parte mais simples e fácil
das tarefas que tem enfrentado no papel de líder. Também não adianta mais
procurar inspiração em livros, cursos e seminários sobre liderança.
O que você precisa aprender, daqui por diante, é como liderar em situações nas
quais você não tem a autoridade formal do comando. Seu teste de fogo será o de
liderar pessoas fora de sua equipe, ou seus pares, ou, até mesmo, o seu chefe.
Em suma: você será o líder que se espera numa empresa moderna quando tiver que
liderar para os lados ou para cima. Esses, sim, serão os momentos da verdade
para você.
A "nova liderança" vai ainda além disso: será cada vez mais necessário para o
bom profissional, no ambiente de negócios do século 21, liderar pessoas que,
além de não ser seus subordinados, também não fazem parte do organograma da
empresa. Isso mesmo - prepare-se para situações em que poderá ser preciso
liderar um cliente importante ou, então, um poderoso fornecedor do qual você
depende, mais do que nunca, para salvar os preços daquela proposta que já
encaminhou ao cliente-chave da empresa.
Os líderes da "Era da Conectividade" que se inicia agora precisam derrubar essas
paliçadas, mudar a mentalidade de que liderança é uma extensão do verbo "mandar"
e construir pontes internas e externas que liberem a criatividade dos talentos
humanos - conectando-os melhor tanto entre si, dentro da empresa, quanto
externamente, com clientes, fornecedores e comunidades em que atuam.
Esse novo conceito não resulta de formulações abstratas. Ele é fruto de mudanças
concretas que estão acontecendo na economia de hoje - e das exigências práticas
trazidas por essas mudanças. No Brasil, em especial, a questão se coloca com
clareza evidente. O mercado, hoje, precisa de pessoas capazes de liderar três
novos tipos de empresas que passaram a fazer parte do novo cenário empresarial:
as empresas pós-privatizadas, as resultantes de fusões ou aquisições e as que
estão tentando se internacionalizar.
Se você trabalha em uma empresa envolvida no processo de privatização, já
percebeu que não é fácil mudar uma cultura que operou durante décadas como um
monopólio que insistia em desconhecer as mais elementares regras de marketing,
produtividade e competitividade. Pense na dificuldade que a equipe do Banco Itaú
deve ter enfrentado quando iniciou o processo de reconversão do Banerj para um
sistema mais competitivo. Se você esteve do lado que foi privatizado, por certo
já percebeu que o exercício da liderança se estreitou, pois a prática que vai
prevalecer é a da empresa privada, não a da antiga estatal.
Os líderes precisam estar capacitados para obter resultados de equipes
interempresariais compostas de diferentes empresas e culturas envolvidas. A
capacidade de liderar networks, em vez do simples comando de subordinados,
passou a ser uma habilidade diferenciada e cada vez valorizada no mercado.
A Odebrecht, em particular, tem sido um benchmark no processo de delegação de
autoridade a seus líderes nos 14 países onde atua. . Mas não é preciso ter
filiais no exterior ou ser exportador para ter seu negócio afetado pela
globalização da economia - e, em conseqüência, ter que liderar situações criadas
pela competição internacional.
Será valorizado, nesse ambiente, o líder "global" - ao mesmo tempo líder global
e local, um cidadão do mundo que não precisa estar o tempo todo dentro de um
avião, e que não deixa de ser muito atuante na comunidade da qual participa.
Esse líder é capaz de navegar adequadamente em diversas culturas, dominar as
peculiaridades do seu negócio e cultivar suas raízes - um provinciano de várias
províncias.
No Brasil, pouco a pouco, várias empresas estão estimulando seus funcionários a
adotar o sistema de trabalho em casa. A Kodak, por exemplo, foi uma das
pioneiras e até hoje mantém o vínculo empregatício com seus vendedores que pouco
vão aos escritórios. A Andersen Consulting tenta maximizar o tempo de seus
consultores, fazendo-os ficar mais próximos de seus clientes, e não no
escritório. A Avon vai no mesmo caminho.
O comércio eletrônico, por exemplo, vai transformar a natureza do trabalho feito
pelo vendedor tradicional. As empresas, crescentemente, investigam as
possibilidades de reduzir custos cortando a utilização de intermediários para
vender seus produtos ou para comprar insumos. Estoques serão substituídos por
informação. As pessoas poderão comprar cada vez mais coisas sem precisar sair de
casa.
Como, então, liderar pessoas com as quais só nos encontramos esporadicamente?
Será possível liderar por controle remoto? A tecnologia eletrônica, por outro
lado, está democratizando velozmente o acesso à informação. Tornou possível a
você, independentemente do cargo que ocupa, acessar as informações que sejam
relevantes para a empresa onde trabalha e se comunicar com pessoas de escalão
superior ao do seu chefe imediato.
Cada vez mais a autoridade para liderar não será proveniente do cargo que você
ocupará, mas do seu poder de acessar informação em tempo hábil e de persuadir
pessoas que necessitam dessa informação para produzir resultados. Na era
eletrônica, as pessoas podem saber "on-line", no momento em que está ocorrendo,
o que está sendo decidido. São transformações que alteram profundamente o
exercício da liderança. Liderar quando só você está de posse das informações
importantes é uma coisa. Liderar quando todos sabem de tudo, ao mesmo tempo que
você, é outra bem diferente.
Muito bem - e quais serão, precisamente, esses novos atributos de liderança? Não
é o caso de se fazer uma lista completa, pois eles sempre serão passageiros.
Mais relevante é ficar naquelas competências duráveis, que você deverá cultivar
sempre: sua capacidade de aprender de forma contínua; integridade; criatividade;
postura empreendedora; orientação para resultados; atitude multifuncional com
experiência diversificada em várias áreas de um empreendimento.
Na Era do Conhecimento, porém, as empresas não podem mais se dar ao luxo de
privilegiar o pensar apenas no topo. Precisam da criatividade humana em todos os
níveis para ser competitivas. A disponibilidade de líderes (em vez de simples
gerentes) para empresarial produtos, áreas geográficas, mercados ou projetos
passou a ser um dos maiores fatores de distinção de empresas vencedoras.
Por essas razões, você será considerado um líder eficaz se souber criar
condições para que a liderança se manifeste em outras pessoas. Em vez do mítico
líder carismático que serviu de modelo na Era do Comando que se finda, os
líderes eficazes do próximo milênio serão aqueles capazes de arquitetar e
implantar formas de organização que permitam o florescimento da liderança nos
outros. Nada mais natural que você possua uma visão do conceito de autoridade
muito diferente daquela esposada pela geração anterior, que enfatizava valores
como a obediência e a troca de sacrifícios na vida pessoal pela estabilidade no
emprego.
Em qualquer circunstância, lembre-se: inovação, flexibilidade e agilidade serão
as marcas registradas da Era da Conectividade no século 21. E cuidado! Não caia
na tentação de jogar o novo jogo da liderança usando as velhas regras da Era do
Comando. Ela está ficando tão fora de moda quanto o cartão de ponto, que foi tão
útil nos tempos da economia industrial quando a presença física era a forma de
medir a produtividade das pessoas.