Durante muito tempo, predominou a idéia de que pessoas enérgicas tinham mais
chances de atingir suas metas do que aquelas de fala mansa e maneiras suaves, em
geral tidas como tímidas ou de pouca iniciativa. Agressividade passou a ser
confundida com eficiência e os tipos "entrões" e falantes tornaram-se mais
valorizados do que sujeitos naturalmente cordatos que atinham-se a desempenhar
bem suas funções.
Hoje, no entanto, as táticas de terrorismo e a figura do chefe que inspira medo
já não surtem mais tanto efeito. Num momento em que o mundo já procura retomar
valores como a qualidade de vida e todos voltam-se para uma reflexão em busca de
paz e harmonia interiores, é preciso reavaliar se as antigas técnicas de
comunicação ainda funcionam como antes. É uma exigência do conjunto de boas
maneiras que se espera hoje no ambiente de trabalho - e, também, um fator de
eficiência profissional.
"Quem não se comunica se trumbica" - sábia frase do Velho Guerreiro. Mas a
questão, hoje em dia, não é comunicar-se ou não (até porque, nesta era de
telecomunicações e avanços tecnológicos, nunca foi tão fácil e rápido
comunicar-se com qualquer parte ou pessoa do globo), mas sim a maneira como o
fazemos. É perfeitamente possível impor respeito e galgar degraus na hierarquia
de uma empresa comunicando-se de forma cortês, sem invadir espaços, sem levantar
a voz ou fazer carranca de monstro. Aliás, é infinitamente mais agradável, além
de muito mais eficiente.
Não se trata de ser ou dar impressão de ser) frouxo ou tímido, e sim de ter uma
atitude positiva e democrática em vez de negativa e absolutista. Até mesmo para
reclamar ou reivindicar, uma abordagem cuidadosa e mais simpática pode render
muito mais frutos do que uma colocação dura (por mais verdadeira que seja) da
situação.
Reclamar por reclamar não leva a nada. Quem age dessa forma acaba perdendo o
respeito dos colegas, chefes e subordinados. O que fica é apenas a imagem da
pessoa que jamais está satisfeita, e vê defeitos em tudo. Não se trata de calar
sempre e deixar de colocar os seus pontos de vista. Mas, ao fazê-lo da maneira
correta, as chances de alcançar sucesso, ou pelo menos simpatia, por qualquer
que seja a causa, aumentam bastante.
Para começar, tente substituir determinadas expressões negativas, por outras
mais amenas. Exemplo:
Em vez de "Detesto que...", porque não usar "Não seria melhor se nós..."?
Ou, então, "Porque será que nada está funcionando..." pode se tornar mais
simpático com "E se nós tentássemos..."
"Isso é bobagem". Além de agressivo, não acrescenta nada ao problema. Já o
"Temos uma alternativa, o que vocês acham de..." é mais diplomático, traz uma
sugestão de solução ao que você considera uma bobagem.
Finalmente, o desanimador "Isto não vai dar certo" pode ceder espaço a um
cauteloso "Estou lembrando que esta solução não funcionou na empresa x ou y,
devemos pensar melhor antes de implantar esta idéia..." Uma postura mais
democrática também dá mais espaço para que pequenos ajustes sejam feitos ou
corrigidos. E não fará de você um ogro ditatorial.
"Eu ouvi dizer que..." é muito mais suave do que "Ele sempre diz...". "É
incrível como nunca se consegue..." soa quase como ofensa pessoal. Já um "Nós
realmente temos tido problemas com..." chama a responsabilidade para quem está
falando além de envolver os interlocutores diretamente no assunto.
"Todo mundo acha" não dá a menor brecha para um diálogo ou discussão. Por sua
vez "Muita gente parece achar que..." dá a entender que outras opiniões são
igualmente bem-vindas. É uma questão de palavras e entonação. Mas que podem
fazer toda a diferença e até mudar a atitude de seus interlocutores com relação
ao que esta sendo discutido. Ao se comunicar de forma mais gentil e democrática,
a resposta flui melhor, mais diretamente. As pessoas perdem o medo de emitir
opinião e se colocarem. E fica muito mais fácil saber em que terreno está
pisando.
Adote uma atitude positiva: pode valer pena. Ao fazê-lo, você estará
automaticamente sendo mais receptivo. O que é ótimo, uma vez que alguém com a
capacidade de enxergar vários aspectos, leva vantagem sobre quem insiste em
martelar sempre o mesmo ponto de vista.
Isso vale também para as situações em que se recebem reclamações: é preciso
educar-se para ouvir e compreender o que a outra pessoa está querendo dizer e,
mesmo que isso não seja fácil, formular perguntas até estabelecer um diálogo.
Isso elimina a possibilidade de a conversa virar uma discussão. Uma vez
registrada a queixa, pedir ao interlocutor que ofereça ele próprio uma solução é
uma maneira educada de fazê-lo perceber que você está aberto, sim, a sugestões e
até se propõe a ouvir mais a respeito do assunto. Cria, no mínimo, um clima de
companheirismo em um momento frequentemente delicado.
Finalmente evite comparações de qualquer espécie. Nada pode ser mais indelicado
e contraproducente. Ao dizer: "Por que é que o departamento tal tem 30
computadores e o nosso apenas 5 ?, você corre o risco de parecer uma criança
emburrada. Já o argumento preparado pode surtir muito mais efeito e economizar
tempo na negociação: "Fizemos um estudo e percebemos que com apenas cinco
computadores estamos perdendo x horas por semana, além de y pessoas ficarem
ociosas durante muito tempo enquanto esperam para utilizar as máquinas. Com
isso, estamos deixando de ganhar z por mês. Talvez seja o caso de pensar em
adquirir mais computadores, até porque, em pouco tempo, eles estariam se
pagando..." Melhor, não ?
Na verdade, em nosso dia-a-dia, já há pressão suficiente e ninguém tem mais
paciência com posturas radicais, muito menos tom de voz prepotente. Quem
realmente tem poder, dificilmente eleva a voz. E não eleva porque entende por
que isso não tem cabimento. Falar alto, ser agressivo é coisa de gente insegura.
Os verdadeiros poderosos já passaram da fase dos escândalos e das demonstrações
patéticas de autoridade. Basta lembrar personagens antológicos como Don Corleone
de Marlon Brando em O Poderoso Chefão. Quando muito, ele se limitava a acenar
para que o interlocutor chegasse mais perto e pudesse ouvir claramente seus
recados meramente sussurrados. Porém, cumpridos escrupulosamente à risca.