Omisso é aquele que deixa de se envolver ativamente numa situação onde outra
pessoa precisa de ajuda, onde uma ou mais pessoas estão em apuros.
Segundo Aristóteles, a pior situação é quando alguém está em pleno conhecimento
e no ponto de agir e não o faz.
Os omissos poderiam mudar o resultado das situações através de algum tipo de
ação. O que teria acontecido com Jesus Cristo, se Pilatos não tivesse se
omitido?
Não existem omissos inocentes porque escolher não ser parte da solução é ser
parte do problema.
Na empresa, a omissão está presente na dinâmica dos relacionamentos. Quando as
pessoas têm consciência de um problema, mas não se envolvem ativamente na sua
solução, elas estão perpetuando e agravando o problema.
Há dois tipos de omissos, no meu entendimento:
- os que necessitam se omitir para continuar sobrevivendo dentro da
empresa que tem uma posição existencial autoritária; são os omissos
modelados pela cultura da empresa;
- os que já chegaram com a omissão introjetada na sua performance
corporativa, pois já aprenderam há muito tempo, na infância talvez, a fazer
da omissão um jogo de poder.
Acredito que a construção de muros e feudos entre os departamentos muito
contribui para o desenvolvimento do primeiro tipo. A briga pelo espaço leva as
pessoas a se imporem de tal forma que o outro começa a ficar quieto, com medo de
falar, de sugerir, de opinar, de participar, de perguntar.
Comum é sentir na postura ou ouvir frases do tipo: “isso não é da sua conta,
cuide do seu serviço”, “como ousa se intrometer na minha área?” Daí em diante, o
comportamento começa a se modelar no sentido da omissão em face da coerção do
poder; a omissão ocorre como defesa, para se proteger de punições e situações
desagradáveis, ou para não bater de frente, como se costuma dizer.
As pessoas não falam nem mesmo o que teria que ser falado, omitindo de uma forma
passiva, submissa, informações que custam muito para a empresa. Estes são os
omissos construídos e moldados pelos donos do poder. Uma equipe obediente? Ou um
grupo de omissos? Depois, o departamento de Recursos Humanos contrata shows de
motivação falando em criatividade, espontaneidade e tudo o mais. A esquizofrenia
corporativa está instalada.
Há os omissos que já chegaram assim, já haviam construído um caráter onde a
omissão faz parte do caminho para a construção da carreira. Ficar quieto, não
dizer nada, como uma forma de prejudicar o outro para se destacar, deixar o
circo pegar fogo para depois vir com um baldinho de água na frente do chefe,
geralmente, e talvez até ganhar uma promoção. O “estilo Pôncio Pilatos”, sem
compromisso com o que está acontecendo, para salvar a própria pele, embora o
discurso verbal seja de comprometimento e lealdade com a empresa.
A grande sacada de Freud foi perceber tudo onde aparentemente não está
acontecendo nada. O autoconhecimento e o trabalho em equipe estão na moda.
Praticá-los é o grande desafio.