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Carreira / Emprego - Talento e realização 

Data: 12/12/2008

 
 

O que é mais útil e necessário à organização: o profissional talentoso ou o profissional realizador? Responder “o talentoso” parece-me um convite ao discurso comum, ao chavão. Dizer que é “o realizador” é uma temeridade, um ir contra a maré. A pergunta não é óbvia e é sempre oportuna. O mesmo pode ser dito sobre a resposta.

Há muita gente que é brilhante, com talento bem acima da média, mas que tem sérias dificuldades em concretizar o que idealiza. Têm o foco abstrato, centram-se nas idéias. De outro lado, há aqueles que não são tão talentosos, mas são práticos; sabem operacionalizar as coisas; isto é, sabem dar forma acabada àquilo que o talento elaborou.

Portanto, responder à questão que abre este artigo enseja outras reflexões.

Em primeiro lugar, não é muito comum que as pessoas tenham estes dois predicados coexistindo. Em segundo, o dia-a-dia da maioria das organizações demonstra que isso é um fato. É claro que há exceções, mas este não é o foco da análise que farei.

As organizações buscam profissionais realizadores e com talento. Como esta coexistência é rara, devem valer-se da composição de equipes. Isso nos remete a avaliar a composição de equipes profissionais. Se você tem uma equipe composta somente por gente talentosa, certamente terá problemas.

Alguns deles, bons: as idéias jorram como água na fonte e há muita inovação, um diferencial competitivo. Outros ruins: jogo de vaidades, algumas “prima-donas”, etc. Mas o maior de todos os problemas será o da realização, de concretizar as idéias em produtos: os resultados.

O futebol é exemplar em ilustrar isso. O Real Madrid, que aglomera uma seleção de talentos, não obtém grandes resultados nos torneios que disputa. O sucesso comercial de manter uma equipe dessas é efêmero; em razão mesmo da falta de resultados. Essa falta de resultados termina por ruir o modelo de concentração de talentos. Ainda no futebol, o Barcelona é exemplo acabado de onde o modelo termina.

De outro lado, uma equipe de dedicados e voluntariosos pode manter-se por um breve tempo, e sempre por resultados alcançados. Mas a falta de talento tornará este modelo inapropriado e ele não se sustentará. Quando muito, chegará a uma situação mediana. Na linguagem do futebol: não ganha nada, mas não cai para a segunda divisão.

Equilibrar é preciso


Assim como um time de futebol precisa de alguns talentos, necessita também de um zagueiro que chute de bico, um volante que saiba destruir e um centro-avante aguerrido e competitivo que empurre a bola para o fundo das redes. Ou seja, gente que dá resultados, mesmo sem brilhar. Um exemplo que me ocorre é o do Dario (o Dadá Maravilha), que jogou nos anos 70: “batia de canela”, mas fazia muitos gols.

Nas organizações, a história não é diferente. Você precisa de gente talentosa para criar e precisa de gente realizadora para tornar isso realidade. Se encontrar isso reunido numa pessoa, ótimo. Mas prepare-se para ter um time misto, gente que idealiza e gente que realiza.

É freqüente nas empresas que as pessoas talentosas reclamem que o chefe não é o mais talentoso. Alguns até o acham um tanto limitado intelectualmente. Mesmo que seja verdade, a questão é: não será ele o realizador? Aquele que torna real as idéias dos talentosos da equipe?

Conheço casos empresariais que ilustrariam bem isso. Não convém citá-los por razões éticas. Posso dar meu testemunho pessoal, sem citar os personagens. Numa empresa que trabalhei, havia um gerente que era o modelo acabado do realizador. Apoiava os talentosos e obtinha deles as soluções necessárias aos projetos da empresa. Ele sequer tinha formação diferenciada; tinha feito uma faculdade sem expressão e não se especializara em nada. Mas o fato é que ele realizava.

Entre nós, seus subordinados (alguns muito talentosos – o que não é o meu caso), havia uma surda crítica sobre suas deficiências globais. Jamais consideramos sua principal virtude e (por que não?), seu maior talento: saber usar e gerir os talentos de que dispunha. Eu fazia coro com todos os que reclamavam. Anos mais tarde entendi o que se passara e percebi o quanto havia aprendido com aquele realizador.

Tornar-se realizador

Hoje penso que é possível a um profissional talentoso tornar-se um realizador: requer treino, disciplina e, em especial, humildade; coisa rara em pessoas talentosas. Como disse lá no início, é possível (mesmo que raro) concentrar essas duas qualidades numa mesma pessoa. Quando alguém as detém, é ouro puro. Feliz a organização que consegue identificar e reter um profissional assim. Mas a tônica é (e seguirá sendo) a das equipes bem compostas: talentosos e realizadores. Uma formula de sucesso sustentado.



 
Referência: curriculum.com.br
Autor: Sérgio Compagnoli
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