O que é mais útil e necessário à organização: o profissional talentoso ou o
profissional realizador? Responder “o talentoso” parece-me um convite ao
discurso comum, ao chavão. Dizer que é “o realizador” é uma temeridade, um ir
contra a maré. A pergunta não é óbvia e é sempre oportuna. O mesmo pode ser dito
sobre a resposta.
Há muita gente que é brilhante, com talento bem acima da média, mas que tem
sérias dificuldades em concretizar o que idealiza. Têm o foco abstrato,
centram-se nas idéias. De outro lado, há aqueles que não são tão talentosos, mas
são práticos; sabem operacionalizar as coisas; isto é, sabem dar forma acabada
àquilo que o talento elaborou.
Portanto, responder à questão que abre este artigo enseja outras reflexões.
Em primeiro lugar, não é muito comum que as pessoas tenham estes dois predicados
coexistindo. Em segundo, o dia-a-dia da maioria das organizações demonstra que
isso é um fato. É claro que há exceções, mas este não é o foco da análise que
farei.
As organizações buscam profissionais realizadores e com talento. Como esta
coexistência é rara, devem valer-se da composição de equipes. Isso nos remete a
avaliar a composição de equipes profissionais. Se você tem uma equipe composta
somente por gente talentosa, certamente terá problemas.
Alguns deles, bons: as idéias jorram como água na fonte e há muita inovação, um
diferencial competitivo. Outros ruins: jogo de vaidades, algumas “prima-donas”,
etc. Mas o maior de todos os problemas será o da realização, de concretizar as
idéias em produtos: os resultados.
O futebol é exemplar em ilustrar isso. O Real Madrid, que aglomera uma seleção
de talentos, não obtém grandes resultados nos torneios que disputa. O sucesso
comercial de manter uma equipe dessas é efêmero; em razão mesmo da falta de
resultados. Essa falta de resultados termina por ruir o modelo de concentração
de talentos. Ainda no futebol, o Barcelona é exemplo acabado de onde o modelo
termina.
De outro lado, uma equipe de dedicados e voluntariosos pode manter-se por um
breve tempo, e sempre por resultados alcançados. Mas a falta de talento tornará
este modelo inapropriado e ele não se sustentará. Quando muito, chegará a uma
situação mediana. Na linguagem do futebol: não ganha nada, mas não cai para a
segunda divisão.
Equilibrar é preciso
Assim como um time de futebol precisa de alguns talentos, necessita também de um
zagueiro que chute de bico, um volante que saiba destruir e um centro-avante
aguerrido e competitivo que empurre a bola para o fundo das redes. Ou seja,
gente que dá resultados, mesmo sem brilhar. Um exemplo que me ocorre é o do
Dario (o Dadá Maravilha), que jogou nos anos 70: “batia de canela”, mas fazia
muitos gols.
Nas organizações, a história não é diferente. Você precisa de gente talentosa
para criar e precisa de gente realizadora para tornar isso realidade. Se
encontrar isso reunido numa pessoa, ótimo. Mas prepare-se para ter um time
misto, gente que idealiza e gente que realiza.
É freqüente nas empresas que as pessoas talentosas reclamem que o chefe não é o
mais talentoso. Alguns até o acham um tanto limitado intelectualmente. Mesmo que
seja verdade, a questão é: não será ele o realizador? Aquele que torna real as
idéias dos talentosos da equipe?
Conheço casos empresariais que ilustrariam bem isso. Não convém citá-los por
razões éticas. Posso dar meu testemunho pessoal, sem citar os personagens. Numa
empresa que trabalhei, havia um gerente que era o modelo acabado do realizador.
Apoiava os talentosos e obtinha deles as soluções necessárias aos projetos da
empresa. Ele sequer tinha formação diferenciada; tinha feito uma faculdade sem
expressão e não se especializara em nada. Mas o fato é que ele realizava.
Entre nós, seus subordinados (alguns muito talentosos – o que não é o meu caso),
havia uma surda crítica sobre suas deficiências globais. Jamais consideramos sua
principal virtude e (por que não?), seu maior talento: saber usar e gerir os
talentos de que dispunha. Eu fazia coro com todos os que reclamavam. Anos mais
tarde entendi o que se passara e percebi o quanto havia aprendido com aquele
realizador.
Tornar-se realizador
Hoje penso que é possível a um profissional talentoso tornar-se um realizador:
requer treino, disciplina e, em especial, humildade; coisa rara em pessoas
talentosas. Como disse lá no início, é possível (mesmo que raro) concentrar
essas duas qualidades numa mesma pessoa. Quando alguém as detém, é ouro puro.
Feliz a organização que consegue identificar e reter um profissional assim. Mas
a tônica é (e seguirá sendo) a das equipes bem compostas: talentosos e
realizadores. Uma formula de sucesso sustentado.