O dinheiro traz felicidade. Mas exige planejamento e uma nova atitude diante
do que ele pode comprar para fazer você mais feliz. Em geral, a pessoa trabalha,
recebe seu salário e mesmo ganhando mais sente que está faltando algo. Como
explicar que um ganhador da loteria possa estar infeliz um ano depois? Ou que um
executivo compre um carro zero e tenha vontade de trocar o veículo em poucos
meses?
'Isso ocorre porque a felicidade está ligada a expectativas', diz Manuel
Baceulls, professor da Iese Business School, escola de negócios da Universidade
de Navarra, na Espanha. 'A questão é que as pessoas se acostumam rapidamente a
um nível de vida mais alto e querem mais quanto mais têm.' Isso não sacia os
desejos. Só gera angústia. Junto com Rakesh K. Sarin, da Ucla Anderson School of
Management, dos Estados Unidos, o professor Manuel desenvolveu o estudo Com Mais
Dinheiro se Pode Comprar Mais Felicidade? Ele foi publicado em inglês no início
do ano. A dupla apresenta os motivos que levam as pessoas a ficar angustiadas
mesmo quando têm mais dinheiro e dão dicas de como usar sua carteira de maneira
mais eficiente. O segredo é a adaptação às novas situações e a uma nova
realidade econômica. Se essa transformação for gradual, planejando
cuidadosamente o consumo ao longo do tempo, você certamente conseguirá tirar
mais proveito do dinheiro e será mais feliz. Duvida? Veja como fazer isso em
apenas quatro passos. O professor Manuel falou à VOCÊ S/A e sugere o seguinte:
1 - Mude o padrão de vida aos poucos
As pessoas acostumam-se rápido com a aquisição de novos bens. Depois de alguns
meses, a casa nova já perdeu a graça e o carro novo parece velho. Isso gera uma
profunda angústia, que só será sanada se novas aquisições forem feitas. Quanto
mais se tem, mais se quer. Mudar essa situação é difícil porque o processo de
adaptação é inerente ao ser humano. Tentar retardar isso também não é uma das
coisas mais simples. Uma possível solução é não gastar tanto dinheiro em bens de
valor tão alto. Por isso, você deve mudar o padrão de vida gradualmente e
calcular o efeito da adaptação ao longo do tempo. Quando a projeção não está
correta e a acomodação acontece mais rápido do que o esperado, você gastará mais
dinheiro em outros bens para se sentir melhor.
2 - Cuidado com a comparação social
Não há como negar: todas as pessoas têm uma tendência a se comparar com os
vizinhos, principalmente com os mais ricos. Alguém que mudou de bairro quer se
comparar com as pessoas que estão melhor posicionadas socialmente. Quando uma
pessoa fica sócia de um clube também costuma traçar comparações entre a sua vida
e a dos colegas. E, normalmente, essas comparações são feitas com quem tem mais
dinheiro, o que pode gerar insatisfação e angústia. Os professores ensinam que
neste caso é preciso mudar o foco da comparação. Por que não comparar outros
aspectos da vida? Por exemplo, com alguém que entenda mais de vinhos ou mais de
filmes. Por que comparar apenas o seu padrão de consumo se nem tudo você vai
poder comprar?
3 - Evite consumir muitos produtos supérfluos
Quando as forças da adaptação e da comparação social se unem, elas podem dar
lugar a uma profunda insatisfação social. Esse fenômeno é observado no mundo
todo por meio de estudos de medição da felicidade. Os habitantes dos países
ricos são, na média, mais felizes do que o de países pobres. Por quê? Porque a
ascensão econômica deles já foi realizada e o padrão de vida das pessoas é muito
semelhante. Já nos países em desenvolvimento o progresso é necessário para
solucionar a fome, a doença e os problemas de adaptação social. E as diferenças
sociais estimulam o consumo e a busca por mais dinheiro. Por isso, até os mais
pobres caem na armadilha de gastar mais com produtos supérfluos, como bebidas
alcoólicas, do que com os bens de primeira necessidade.
4 - Aumento de salário nem sempre traz felicidade
Paradoxo de Easterlin é uma teoria que explica que a felicidade não depende só
do dinheiro. Estudos mostram que nos países ricos, como Japão e Estados Unidos,
o aumento de renda por si só não garante mais felicidade. A partir de um certo
nível de renda, por exemplo, 15 000 dólares por mês, mesmo que se ganhe mais
dinheiro, ele não trará mais felicidade. Essa tendência é explicada porque a
sensação de felicidade depende também da estrutura genética, das relações
familiares, da comunidade, dos amigos, da saúde, do trabalho, dos valores
pessoais, como religião e espiritualidade. Para sermos verdadeiramente felizes,
deveríamos dar valor aos bens básicos, como alimentação, descanso, amizade, e os
outros bens materiais que não custam caro. Não desejar apenas ganhar mais.