Carreira / Emprego - Ninguém é insubstituível: mito ou verdade?
Ninguém é insubstituível. Quer discurso mais batido do que este? O jargão tem
o poder de afetar a auto-estima dos profissionais, que sentem que, não importa o
quanto estudem e se esforcem, sempre existirão outras pessoas naquele mesmo
patamar, prontas para substituí-los.
A analista de RH da Catho, Adriana Souza, concorda que ser importante e
essencial para o negócio não implica ser insubstituível. "Não podemos acreditar
que o sucesso da empresa está nas mãos de uma única pessoa", afirmou. "No
mercado atual, temos uma gama bastante diversificada de profissionais, alguns
que já estão prontos para ocupar determinada posição e outros que são como
diamantes que precisam ser lapidados".
Para o diretor do Grupo Soma, Arlindo Felipe Jr, é verdade que ninguém é
insubstituível, mas vale fazer algumas observações...
O mundo evolui, as empresas também
"Como tudo na vida evolui, podemos dizer que esse jargão também deve evoluir. Em
um mundo repleto de informações, novos conceitos e distanciamento de contato
pessoal [por conta das tecnologias], de alguma maneira estamos retomando
alguns valores que foram esquecidos", afirmou Felipe.
"Comprometimento, relacionamento de médio e longo prazos, entre outros, estão
voltando a tona, por quê? Em se tratando desse jargão, excessivas mudanças das
cadeiras trazem à empresa o custo da substituição e da perda de conhecimento.
Empregado e empregador precisam ter mais tolerância e visão de médio e longo
prazos. Para concluir, parafraseando conselhos de especialistas do mercado
financeiro: para ter um bom negócio, é preciso ter uma visão de longo prazo",
acrescentou.
A mentalidade do RH
O discurso de que ninguém é insubstituível não domina todos os departamentos de
Recursos Humanos. O RH estratégico, por exemplo, que mapeia os profissionais que
são talentosos e as competências necessárias para o crescimento da empresa,
conta com ferramentas para tomar decisões ponderadas, visando àquilo que é
melhor para o negócio, nas palavras do diretor do Grupo Soma.
"E a melhor decisão para a empresa pode passar por uma avaliação criteriosa,
levando à conclusão de que determinadas mudanças de pessoal podem ser onerosas",
garantiu. Isso significa que as empresas mais bem-estruturadas estão pensando
duas, ou até três vezes, antes de dispensar alguém da equipe.
O problema é que algumas organizações ainda cultivam aquele departamento de RH
que não é estratégico. "Se não estiver estruturado, ou seja, o RH estratégico
não estiver implantado, ele (RH) poderá ser omisso por falta de ferramentas e
fatos comprobatórios para tentar interceder em decisões emotivas", explicou
Felipe.
Adriana enfatizou que o RH tem papel fundamental na retenção de talentos, e,
para isto, a valorização do profissional é essencial. Mas existe uma outra
faceta do RH, o desenvolvimento de pessoas, por meio do qual as competências
profissionais podem ser aprimoradas, desde que o profissional também esteja
aberto a este investimento. Assim, as pessoas podem ser desenvolvidas para
atingir aos resultados esperados, o que reforça a idéia de que ninguém é
insubstituível.
Profissionais raros
Questionado sobre se alguns profissionais poderiam ser considerados únicos,
Felipe respondeu: "Único, acreditamos ser muito difícil, em um universo de
milhões de trabalhadores, mas o termo raro acredito ser mais apropriado. Os
motivos podem ser: especificidade, conhecimento tecnológico, tempo de
experiência e vivência, e tudo isso depende do segmento de atuação da empresa".
Segundo ele, o tipo de profissional de que as empresas mais podem sentir falta é
daqueles profissionais hands-on. Traduzindo: aquelas pessoas orientadas a
resultados, que fazem acontecer, que mudam as coisas para melhor. Ou seja,
estamos falando do realizador.
Difícil de substituir
A analista de RH da Catho lembra que, apesar de ninguém ser insubstituível,
existem alguns profissionais que são mais difíceis de serem substituídos, por
conta de seus conhecimentos técnicos, sua especialização e seu perfil
comportamental.
"Quando profissionais bons saem das empresas, elas sentem muita falta. No
entanto, mesmo estes profissionais não podem ser chamados de insubstituíveis,
pois pode ser que, no mercado, seja encontrado alguém igual ou até mesmo melhor
do que ele, que apresente outras competências que até o momento não haviam sido
consideradas importantes para o cargo", disse ela.
"O mercado de trabalho é bastante dinâmico e está em contínuo processo de
transformação. Um profissional que é essencial num determinado contexto, se não
buscar desenvolvimento e aperfeiçoamento, por estar acomodado a este status e
sentir-se insubstituível, pode se tornar obsoleto quando a empresa passa por
reestruturações e mudanças", alertou Adriana.
"Ser proativo, criativo, especialista e um bom líder é importante para que os
negócios possam fluir de maneira mais produtiva. Estes são os profissionais mais
difíceis de serem encontrados e, por isso, a sua substituição pode demorar mais
tempo, mas não é impossível. Esta é a árdua tarefa da área de recrutamento e
seleção", finalizou ela.
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