O filósofo e matemático inglês Bertrand Russel gostava de contar uma história
que envolvia duas máquinas. Ambas serviam para fabricar salsichas, e eram iguais
em suas peças e componentes, mas, com o tempo mostraram-se diferentes no
entusiasmo para transformar porcos em salsichas.
Uma delas sabia que sua missão era produzir salsichas e que, para tanto,
dependia de receber a carne que seria transformada, por isso respeitava e
interessava-se pelo porco que a fornecia. A outra dizia: “Que me interessa o
porco? Meu próprio mecanismo é bem mais interessante e maravilhoso do que
qualquer porco”. Rechaçou então o porco e passou a investigar apenas o seu
próprio interior. Mas, ao ficar desprovida da matéria-prima, seu alimento
natural, não só parou de produzir salsichas, como passou a se sentir cada vez
mais vazia e estúpida.
Russel comparava essa segunda máquina com um homem que perdeu o entusiasmo.
Dizia ele que “a mente humana é uma estranha máquina capaz de combinar de
maneira assombrosa os materiais que se lhe oferecem, pois sabe que sem eles não
poderá fazer nada, e o principal dos materiais é o conhecimento”.
A diferença entre o homem que empreende e a máquina que produz salsichas é que o
homem precisa, ele mesmo, prover o material necessário ao seu empreendimento.
Quando o homem se volta apenas para si mesmo, fica examinando apenas seus
interesses pessoais, sem considerar os dos fornecedores de seus insumos e o dos
consumidores de seus produtos, acaba como a máquina egoísta: vazio e estúpido.
O entusiasmo para empreender tem sua origem na percepção de que somos máquinas
transformadoras de sonhos em realidades. Mas o sucesso dessa transformação não
se faz ao acaso, e nunca acontece quando tem como finalidade atender à vaidade
ou responder ao desespero.
O vaidoso não prospera porque para ele importa menos produzir, e mais mostrar
que está produzindo, e acaba colocando mais energia na aparência do que na busca
da excelência. O desesperado, por sua vez tem, em sua situação, um péssimo
conselheiro, pois este é principalmente emocional, portanto míope, e como tal,
só consegue ver o presente, e não o futuro.
O empreendedor atinge seus objetivos quando se faz acompanhar do preparo
necessário e suficiente, e também da certeza de que nada se obtém sem trabalho
duro, paciência e persistência. A máquina de salsichas deve ser permanentemente
lubrificada, limpa e conservada, até porque, para que ela mesma se pague, terá
que produzir tantas salsichas que chegará a esquentar suas engrenagens com tanto
trabalho.
Bertrand Russel, que foi laureado com o prêmio Nobel de literatura em 1950,
interessava-se sobremaneira pelas características das pessoas produtivas e
felizes, e costumava afirmar que o entusiasmo está sempre presente nessas
pessoas. Entretanto, fazia questão de acrescentar que o entusiasmo não deriva do
nada, e sim da feliz coincidência de uma energia própria da pessoa, com a boa
relação com seu mundo. E nessa relação está incluída a percepção de como podemos
interagir melhor com a sociedade, buscando sempre a melhor alternativa para
sermos úteis ao maior número possível de pessoas.
A percepção de utilidade entusiasma, e nos transforma em empreendedores de
verdade. A melhor combinação é a de uma máquina forte e eficiente, com a melhor
matéria-prima e com o melhor sentimento de valor. Trata-se da combinação entre o
corpo que trabalha, a mente que planeja, o coração que se apaixona, e o espírito
que busca deixar um legado.