Finanças pessoais - As tentações financeiras
Algumas religiões prevêem, em seus credos, uma relação de vícios que fazem
parte dos instintos básicos dos seres humanos e que, portanto, precisam ser
identificados e controlados. Os sete peados capitais, como o catolicismo
classifica a inveja, a avareza, a soberba, a gula, a ira, a luxúria e a preguiça
podem relacionar-se, especificamente, ao dinheiro. Uma pessoa que é tida ou se
acha muito devota, por exemplo, quando trata com dinheiro, muitas vezes,
transforma-se completamente. O filósofo americano Jacob Needleman acredita que o
modo de lidar com o dinheiro explicita o caráter de uma pessoa.
Poucas pessoas convivem, saudavelmente, com o dinheiro. De acordo com pesquisas,
apenas uma em cada cinco pessoas sabe lidar com tranqüilidade com o dinheiro,
sem deixar-se levar pelas emoções. Os maiores obstáculos, na busca de uma vida
financeira mais equilibrada e próspera, são a vergonha de admitir e confessar
que estamos sem grana; o medo de sermos rejeitados por familiares, amigos e
colegas; e a raiva que nos faz gastar mais do que poderíamos. Isso acontece
porque nossa relação com o dinheiro está calcada numa série de crenças, muitas
delas equivocadas. São modelos financeiros que aprendemos desde crianças e que,
se não forem identificados e substituídos por outros melhores ou, pelo menos,
deletados, nos acompanham por toda a vida. Podemos tentar o que for: ler e
estudar conceitos em negócios, marketing, vendas, negociação, administração;
pedir dicas de especialistas em programas de rádio ou televisão, em jornais,
etc., assistir palestras sobre finanças pessoais “ao vivo” ou através do rádio e
da televisão; etc. Se nossa caixa de ferramentas interna não for adequada ou,
então, se nosso modelo financeiro não estiver ou não for programado para o
sucesso, nada do que aprendamos, saibamos ou façamos terá muita importância.
Além de questões emocionais e de sentimentos, cada vez mais percebidas e
pesquisadas – por terem decisiva influência no modo como lidamos com o dinheiro
–, existem outros fatores que concorrem para nossas dificuldades financeiras:
- cartões de crédito – facilitam a vida das pessoas: são mais aceitos,
oferecem maior segurança e comodidade, permitem uma melhor administração das
compras; facilitam os saques. As dificuldades começam quando incorremos em
alguns erros, como, por exemplo, utilizamos o cartão como forma de financiamento
(é uma das opções mais fáceis e, também, mais caras de crédito);
- facilidades de crédito: cheques pré, cartões de empresas, carnês;
- propagandas: querem nos convencer, através da publicidade criativa,
inteligente e, muitas vezes, com apelo emocional, de que não poderemos mais
viver ou sobreviver sem isso ou aquilo, fazendo-nos gastar, mesmo já
inadimplentes;
- não ter nenhuma reservar financeira;
- ignorar a real situação financeira: não ter idéia do quanto deve ou, em
pior situação, não se importar com o descontrole financeiro;
- desconhecer ou não acreditar no planejamento financeiro: uma das
maiores desculpas ou ilusões é acreditar que com uma renda ou salário maior ou
extra todos os problemas financeiros estarão resolvidos. Como diz Lair Ribeiro,
“problemas com dinheiro não se resolvem com dinheiro”.
É comum evitarmos tratar de assuntos desagradáveis, em todas as áreas de nossa
vida, o que inclui, evidentemente, a financeira. Esse tipo de postura,
geralmente, acaba piorando a situação. Caso tenhamos pouco dinheiro, nos
julguemos pobres, desprivilegiados, sem sorte, excluídos como alguns gostam de
referir-se a algumas pessoas pobres, etc. quanto mais tempo passarmos pensando e
falando, repetidamente, a respeito desses rótulos; reclamando das circunstâncias
ou dos progenitores; criticando governos e políticos, etc., menos tempo e
energia teremos para criar o que efetivamente queremos. Isso aumenta nossa
responsabilidade porque podemos atrair tanto coisas boas, quanto ruins. Depende
do que ocupamos nossa mente.
A melhora ou recuperação da saúde financeira passa, necessariamente, por
1) um trabalho interno, pesquisando nossa vida financeira, desde os
primeiros contatos com o dinheiro; e,
2) trabalho externo, consistindo de ações práticas, como anotar as saídas
e entradas de dinheiro; conferir os extratos bancários, elaborar um orçamento,
planejar a vida financeira. O cuidado com nós mesmos, além de periódicos exames
médicos e odontológicos, dentre outros, deve incluir, também, a nossa saúde
financeira. Doenças físicas decorrem, muitas vezes, de preocupações e estresse
relacionadas com dívidas que, por sua vez, são o resultado de decisões
precipitadas ou equivocadas. Somos livres para gastar o dinheiro que ainda não
temos. Só que qualquer liberdade vivida dessa maneira, geralmente envolvendo
cartões de crédito, cheques pré, etc., pode ser falsa. Como diz Aldo Novak, o
coach mais conhecido do Brasil e autor do livro O Segredo para realizar seus
sonhos, “somos livres para escolher, mas escravos das conseqüências”.
Referência:
gazetadosul.com.br
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