Carreira / Emprego - Um favor aqui, outro ali e a promoção vem
São Francisco de Assis, padroeiro dos pobres e dos oprimidos, poderá ter de
ampliar suas funções e acumular funcionários de corporações em seu guarda-chuva
de proteção. A proposta foi feita por Francis Flynn, professor de administração
da Universidade de Columbia, que comprovou a eficiência da aplicação da máxima
franciscana "é dando que se recebe" para obter um melhor desempenho dos
profissionais de empresas no mesmo estágio da carreira.
Em sua pesquisa "Quanto Devo Dar e Com que Freqüência - Os Efeitos da
Generosidade e Freqüência da Troca de Favores no Status Social e na
Produtividade", Flynn identificou que os colegas de trabalho que fazem favores e
os recebem no ambiente corporativo na mesma proporção são mais produtivos do que
os outros mais "egoístas" ou "solícitos em demasia".
"Quando os funcionários descobrem mais sobre que tipo de colaboração podem
oferecer a seus colegas, eles aprendem mais sobre as efetivas potencialidades de
ajuda que cada um pode oferecer ao outro. Isso ocorre em especial com aqueles
que praticam a generosidade com maior freqüência.", disse Flynn, em entrevista
ao Valor, por telefone, de Nova York.
Uma outra correlação entre a troca de favores e a produtividade está na
confiança que os empregados generosos despertam nos seus colegas, aumentando a
possibilidade de oferta de ajuda. Isso porque eles ficam mais "crentes na
reciprocidade". "É um bom exercício para aumentar a tolerância", comenta Flynn.
A troca de favores permite ainda o aumento da afinidade e uma maior compreensão
do próximo, tanto de seus interesses como de seus valores. Esses fatores são
importantes para elevar a produtividade e a criação de um ambiente de trabalho
mais agradável.
As constatações de Flynn foram feitas a partir de uma pesquisa realizada com 161
engenheiros que trabalham para uma empresa de telecomunicação na região de São
Francisco, na Califórnia - "mera coincidência", garante o autor. Na linha "é
dando que se recebe", Flynn observou que os funcionários que fazem mais favores
do que recebem são menos produtivos do que os outros que trabalham no esquema de
reciprocidade. O ponto positivo é que eles são admirados, muito bem-vistos e têm
uma reputação muito melhor.
Esse conjunto de adjetivos poderia levar a uma promoção, mas a boa imagem pode
ficar comprometida pela análise dos resultados, uma vez que a produtividade
dessas pessoas é mais baixa do que as das outras. E o pior: suas habilidades
profissionais podem ser escondidas pelos favores. A recomendação do professor,
portanto, é que haja uma dose equilibrada entre dar e receber. Com a moderação,
a troca será mais efetiva para a produtividade e para o profissional.
Mas como que é um favor na empresa? O trabalho mostra que os favores trocados
entre funcionários podem variar de uma pequena ajuda técnica a uma mãozinha na
promoção do colega. Ele mapeou seus estudos com base em seis categorias de
benefícios: informação, bens, serviços, status, dinheiro e amor.
Os favores estariam mais baseados em fontes concretas, como serviços
(assistência), informação (conselho) e bens (equipamentos) do que em aspectos
simbólicos, como amor e status. "O dinheiro está em outro domínio, o da
economia", destaca.
Apesar da definição de categorias da realização de favores, eles não são tão
simples de ser identificados pelos colegas. "Na média, os empregados acreditam
que fizeram mais do que receberam. Há uma espécie de egocentrismo nas relações
trabalhistas que não permite uma percepção real dos fatos", observa o autor.
Em outro estudo, intitulado "Identidade e Formas de Relacionamento Social em
Organizações", o professor Flynn detectou que os funcionários de uma empresa
sempre solicitam cooperação, mas a forma como essa relação se dá pode variar.
Isso ocorre porque há três tipos de identidades para as relações na empresa: a
individual, a relacional e a coletiva. "A diferença fundamental entre essas três
é como a pessoa que recebe o favor se enxerga como um membro da relação
inter-pessoal", observa o professor.
A cooperação na corporação é diferente das outras relações de troca de favores,
em especial quando há uma combinação do tipo "eu o ajudo nisso e você me ajuda
naquilo". "Numa troca de favores negociada, os atores estão focados nos
benefícios tangíveis que eles podem obter ao participar da ação, ao contrário do
que ocorre num favor social (fora da organização), no qual se espera, em geral,
afeto", indica o trabalho.
As pessoas com identidade do tipo individual se caracterizam por sua auto-estima
expandida e por fazerem comparações por meio de avaliações com os colegas que
participam da troca de favores. São comuns os pensamentos: "Sou relativamente
mais bem-sucedido do que meus colegas?".
Esses profissionais agem motivados por interesses próprios e não para o
bem-estar do próximo. Por isso, preferem troca de favores em que a identidade do
realizador da tarefa seja mantida e não neutralizada pelo coletivo. É uma
espécie de toma lá dá cá. Nesse caso, vale o velho trocadilho: "vem a nós tudo,
vosso reino, nada".
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