Conseqüências do exagero
A natureza humana é bastante inteligente, mas facilmente manipulável. O grande
potencial emocional nos torna seres únicos, capazes de reações e sentimentos
maravilhosos, mas muito perigosos quando misturados às finanças cotidianas. Como
conseqüência do apelo emocional, compramos e consumimos produtos apenas para
aumentar nossa sensação de bem-estar e nosso nível de satisfação. As
necessidades, nossas e do próximo, nem sempre aparecem no topo da cadeia de
prioridades.
A maioria de meus textos deixa clara minha natureza apaixonada. Acredito mais
nas pessoas que no dinheiro e me orgulho muito de ser assim. Quando menciono,
neste artigo, o envolvimento entre dinheiro e emoção, estou me referindo ao
exagero, ao excesso, ao que realmente está além dos limites do bom senso. Nos
jovens, é latente o desejo pelo “agora”, pela sensação de pleno bem-estar e
poder. Simplificando, a busca pela realização imediata frustra a necessidade de
pensar no dia seguinte.
Esse exagero pode trazer sérios efeitos colaterais no futuro:
• Aposentadoria tardia. Quanto mais você adia seus planos
financeiros, mais posterga seu ideal de aposentadoria. Deixando para depois, o
depois nunca chega, é o que diz meu senso prático. Comece a se preocupar com a
idéia de parar de trabalhar enquanto você ainda tem mais gás e disposição,
facilitando assim sua vida aos 40, 50 ou 60 anos. Longe demais? Repare que não
tenho o menor interesse em definir o que significa aposentar-se cedo, já que
essa é uma decisão bastante pessoal. A questão central é outra: você já se
preocupa com isso?
• Trabalhar em algo que não lhe traga satisfação. Se você é
capaz de pensar no seu dinheiro, também enxerga nele uma oportunidade de
independência. Trabalhar é ótimo, desde que seja em algo que lhe traga prazer,
satisfação e realização. Isso muitas vezes só é possível quando você tem
formação de capital suficiente para abrir seu próprio negócio ou permanecer um
tempo se especializando e procurando por algo melhor. Culpar o patrão diverte,
mas não resolve nada. Não faz sentido?
• Problemas conjugais. Este ponto merece muita atenção, já
que as estatísticas são cruéis com os casais. Problemas financeiros estão entre
as maiores causas dos os divórcios e problemas conjugais, aqui e no mundo. Está
certo que, em muitos casos, o dinheiro é apenas o bode expiatório da relação, a
justificativa mais fácil para deixar de lado o esforço necessário para reerguer
a relação. Mesmo assim, ele é parte importante na criação da unidade familiar,
do lar doce lar. Planejar cedo exercita essa relação dinheiro-amor-família, faz
bem e facilita.
• Ausência de hobbies e momentos de lazer. Dedicar parte de
seu tempo aos amigos, às suas manias e ao carro turbinado são atividades
importantes para sua felicidade e satisfação pessoal. Momentos assim aliviam
situações de estresse e permitem que você tenha tempo para si mesmo. Pensar na
vida como uma sucessão de eventos facilita a atitude de poupar e investir em si
mesmo o mais cedo possível. Alguns hobbies são caros, outros não, mas todos eles
exigem planejamento, dedicação e algum dinheiro. Acostume-se!
• Oportunidades perdidas. Ao gastar hoje todo o suado
dinheiro que ganha, sem pensar no futuro, você pode estar jogando pela janela
futuras oportunidades de multiplicar seu patrimônio, investir em um negócio com
um sócio ou mesmo de ajudar um familiar em algum problema crítico. Oportunidade,
cabe lembrar, é tudo aquilo que pode fazê-lo crescer, pessoal e
profissionalmente, transformando-o de alguma forma. A disponibilidade financeira
não é fator preponderante na geração de oportunidades, mas pode ser essencial
quando se trata de agarrá-las.
Cultivar, hoje, bons hábitos financeiros pode facilitar suas decisões
futuras, além de trazer melhores alternativas de vida. Comprar coisas supérfluas
pode trazer imenso prazer, eu concordo, mas essa decisão age, muitas vezes,
contra seu próprio patrimônio e capacidade de prosperar, dando margem aos
devaneios consumistas contemporâneos que tanto combatemos.
A experiência mostra que muitos problemas podem ser evitados se despejarmos
suficiente energia nas atitudes certas, ainda no presente. Diferente de
viver o presente é viver no presente.