Quando o diretor financeiro de uma multinacional do setor automobilístico foi
envolvido num caso de fraude, que culminou no afastamento do próprio presidente
da companhia, alguns ex-colegas de trabalho não se surpreenderam. No seu
anti-penúltimo emprego, ele já havia sido pego em flagrante cometendo um delito.
Sem autorização, estava embolsando o aluguel de casas da empresa destinadas a
executivos estrangeiros quando estes deixavam o país.
Na época, a questão foi resolvida e obviamente o ocorrido não constava em seu
currículo. A empresa que o contratou também não se empenhou em checar as
informações contidas no seu histórico profissional. Resultado: um grande
prejuízo para a companhia. Um serviço oferecido por investigadores
profissionais, já disponível no país, pode ajudar a evitar dores de cabeça como
essa.
Os peritos, que têm como regra número um a discrição - não tiram fotos nem falam
os nomes dos clientes - são empenhados em rastrear item por item as informações
contidas no currículo. Checam datas, nomes, endereços, escolas, cursos,
conversam com ex-empregadores, ex-companheiros de trabalho e tentam se
aprofundar ao máximo nos detalhes para traçar um perfil correto do candidato. O
que em alguns casos pode levar a histórias realmente surpreendentes.
O investigador Marcelo Gomes, da GBE Peritos Contábeis, lembra do caso de um
gerente de informática, de 34 anos, que apesar de ter à primeira vista um bom
currículo profissional, ao ser investigado, revelou-se que ele tinha sérios
problemas com a lei. "Atropelamento, porte de arma ilegal, droga e até agressão
física registrada na Delegacia das Mulheres", lembra o perito.
Outro executivo que estava sendo contratado para dirigir a área de suprimentos
de uma empresa, foi pego na investigação porque mentiu sobre sua vida pessoal.
"Ele disse que era casado e não tinha filhos, mas descobrimos que ele não só era
casado como tinha três ex-mulheres e três filhos", diz Gomes. "O pior é que ele
estava atrasado com a pensão de todas elas". Com um salário futuro de R$ 7mil, o
perito calculou que dificilmente ele conseguiria pagar suas dívidas. Depois de
descobrir a verdadeira história do candidato, Gomes encaminha um relatório à
empresa. "É a companhia que irá decidir se ainda irá contratá-lo ou não". Um
conselho do investigador: não contrate ninguém que tenha cometido um deslize nos
últimos cinco anos.
Nem todos os casos examinados pelos investigadores, no entanto, envolvem
questões criminais. Na maioria das vezes, a mentira aparece na informação sobre
cursos e graduações. "As empresas cada vez mais pedem MBAs e cursos de
especialização para determinada vaga, isso tem levado muita gente a mentir ou
alterar o currículo", diz Rodrigo Squizato, diretor associado da Kroll,
responsável pela equipe que faz o "check up" dos currículos. "Em certos casos a
pessoa fez o curso, mas altera a data para parecer mais atualizado", diz.
Informações falsas ou a mais no currículo não são a maior preocupação dos
peritos. "O que falta é que pode ser realmente comprometedor", diz Squizato.
Saber o porquê de uma demissão ou até se a pessoa tinha uma boa relação com
subordinados são dados que também podem ser levantados pelos investigadores do
"background" alheio.
Na filial brasileira da Kroll, empresa que atua na área de segurança e
gerenciamento de risco em 20 países, este tipo de serviço de checagem de
currículo vem crescendo e já é um dos seus principais produtos. Lá a equipe
coordenada por Squizato é bem diversificada: um advogado, um cientista político,
um relações públicas, um físico, um ex-policial. "Essa diversidade é importante
porque podemos ser acionados para investigar o currículo de pessoas que irão
atuar em qualquer área, e se tivermos alguém do mesmo meio isso facilitará as
coisas", diz o diretor que é formado em administração de empresas e jornalismo.
Gomes da GBE é doutor em ciências contábeis e já foi executivo nessa área,
atuando em multinacionais. "Minha passagem pelo mundo corporativo me ajudou a
entender o funcionamento das coisas e a querer montar esse serviço no Brasil, já
que lá fora isso é bem comum", diz.
A complexidade da investigação irá determinar o seu preço. Se a pessoa tiver
mais de 40 anos ou se tiver trabalhado em outros países, ela será mais cara. "Se
a empresa pensar que irá contratar alguém com um alto salário e que poderá se
tratar, na verdade, de um futuro sabotador, esse serviço sai quase de graça",
brinca Gomes.