Ele é como um imã. Alguém está com um problema sério na família? Ele é todo
ouvidos, e não se importa de perder uma hora só escutando, sem falar nada. Um
colega de trabalho precisa de ajuda? Ele pára tudo que está fazendo, e até
esquece de suas prioridades, para ajudar. A equipe está enfurecida com a empresa
e pensando em mudar de emprego? Vai consultá-lo, sem medo nenhum de que as
queixas cheguem à chefia. Ele é confiável e entende todo mundo.
Estamos falando do profissional carismático. Para as pessoas ao seu redor, um
misto de amigo, pai e anjo da guarda. Se você não é ele, provavelmente já
conheceu alguém assim.
O administrador e palestrante Jerônimo Mendes, autor do livro "Oh, Mundo
Cãoporativo!", acredita que o carismático tem uma luz diferente, uma expressão
diferente e uma forma de se comunicar diferente.
Geralmente, são pessoas bem-humoradas, independentemente da circunstância;
otimistas, apesar de terem os pés no chão; sorridentes - mas não a ponto de
serem hipócritas -; e de bem com a vida. Também são comunicativas. Mas não no
sentido de falantes. "Os carismáticos são bons ouvintes. Eles mais ouvem do que
falam. Por isso acabam conquistando as pessoas. O ser humano é carente e gosta
de atenção".
O outro em primeiro lugar
Por que o carismático é uma referência para muitas pessoas? Porque, para ele, as
necessidades alheias vêm em primeiro lugar. "É o tipo de pessoa que não se
importa em ficar uma hora seguida ouvindo alguém, sem falar nada, apenas dando
espaço para o próximo. Além disso, sabe o nome e o sobrenome das pessoas, o que
é muito importante em uma empresa", afirma Mendes.
As pessoas naturalmente carismáticas são solidárias, mas não de forma forçada.
Elas não pensam em um tipo de retorno. "São indivíduos bons em sua essência,
humildes, respeitadores e que trazem em sua história lições de vida", acrescenta
o palestrante.
A executive coach da Sociedade Brasileira de Coaching, Claudia Watanabe,
concorda. Para ela, a pessoa carismática é muito empática, porque consegue
entender as necessidades dos outros ao seu redor. "E então as pessoas se sentem
livres e confortáveis para compartilhar suas vidas, seus segredos e receios. É
aquela velha história de saber ouvir".
Carisma e liderança
Mendes conta que foi o sociólogo Max Weber o primeiro a utilizar a palavra
carisma, em seus estudos sobre a liderança que arrebata a imaginação das massas
e inspira inabalável devoção. Com o tempo, a palavra passou a ser vinculada a
figuras públicas, como artistas, políticos, empresários e religiosos, que
exercem influência e fascinação sobre o público.
Segundo ele, durante muito tempo, existiu uma crença errônea de que, para
liderar, as pessoas precisavam ser severas e rígidas. Hoje, estudiosos já
sustentam o contrário: para liderar é importante ser carismático, ser alguém em
quem todos confiam, com quem dividem seus problemas e compartilham os mesmos
valores. "Pessoas não confiáveis não são carismáticas", sublinha.
Para Claudia, o ideal é que os líderes sejam carismáticos e competentes, ao
mesmo tempo. "Não adianta ter uma liderança carismática se o carisma se sobrepõe
à competência", garante, ao opinar que ainda existe o risco de as pessoas não
respeitarem o carismático. "Por achar que ele é amigo e que entende tudo", diz.
Essa situação seria negativa para a empresa.
"Mas usar o carisma na hora de dar feedback seria fantástico, porque o
carismático sempre encontra uma forma mais adequada para dizer o que tem que ser
dito, sem magoar ninguém", contrapõe ela.
O perigo do carisma forçado
A executive coach explica que existe o carismático por natureza, que, quando não
ocupa uma posição alta na empresa, cumpre o papel de líder informal, e o
carismático por necessidade ou conveniência.
O problema do carismático por conveniência é que, cedo ou tarde, seus valores
entram em conflito com os valores dos outros. "Geralmente, em uma situação de
risco, esse profissional coloca suas próprias necessidades e vontades em
primeiro lugar".
Os outros percebem quando alguém não é carismático por natureza? "Sim", garante
Claudia. "As pessoas acabam percebendo por meio do tom de voz e da maneira de
falar".
Raridade
Além disso, segundo Jerônimo Mendes, os carismáticos têm algo de muito raro: a
importância que eles dão à opinião alheia. Quando o carisma é forçado,
justamente a indisponibilidade acabará denunciando-o. "As pessoas não têm muito
tempo nem disponibilidade. Então ouvir o próximo é complicado", diz ele, ao
acrescentar que a vida é feita de um eterno dar e receber.
O autor finaliza lembrando que poucos têm o dom de estabelecer uma relação de
amizade e companheirismo com as pessoas ao seu redor. O carismático consegue
fazer o outro se sentir melhor, porque se importa de verdade. "E é aí que surge
a liderança. Liderar é fazer os outros se sentirem tão bem que eles acabam
fazendo o que é necessário", diz ele. E quem tem carisma é líder, ainda que seja
um líder informal, que não ocupa um cargo alto. Porque ele é visto e respeitado
pelas pessoas próximas como tal.