DEFINIÇÃO GERALApesar de todas as vantagens e aplicações dos instrumentos derivativos no
gerenciamento de risco, existem muitos especialistas que criticam tanto a sua
função, como a dimensão assumida. A alegação que prevalece é uma valorização
rápida dos investimentos financeiros sem contrapartida em investimentos
produtivos.
No crescimento dos derivativos muitos o veneram, outros o criticam: há muitas
colocações evidenciando que a causa principal do surgimento de tais instrumentos
é a ganância do mercado. As financeiras estão em eterna competição e buscam
formas cada vez mais criativas de ganhar dinheiro.
Conforme JARDIM (1996), a globalização está produzindo concentração de renda
e também o fenômeno de financeirização que exponencia o capital na forma de
dinheiro, abrindo caminho para as operações especulativas e a valorização
meramente financeira em detrimento dos investimentos produtivos.
Para CARNEIRO (1994) uma grande faceta dos derivativos é que são totalmente
desregulamentados, o modelo perfeito do "darwinismo" de Wall Street.
Apesar das regulamentações que sofreu e que ainda esta sofrendo, a afirmação
de LAMB (1991) é que as inovações financeiras surgem num contexto de
desregulamentação.
Antonio Ermírio de Moraes in JARDIM (1996) declara que o mundo está se
transformando num ilusório cassino. Os riscos de um grande desastre crescem de
hora em hora. Os grandes prejudicados são os que vivem do trabalho. Eles é que
estão bancando os juros aufereridos pelos especuladores. Essa sangria é
contínua, crescente, corrosiva, debilitante e fatal, segundo o empresário.
O Deputado Delfim Netto afirma que, hoje em dia, não há preocupação com a
produção, só se pensa em papel e mais papel. Ironicamente, o Deputado lembra que
o destino de papéis, geralmente é ser queimado (GASPARI, 1995).
Segundo Merton MILLER (1995), perdas isoladas devidas às más decisões
comerciais tomadas por companhias comuns não precipitam crises financeiras.
Desta forma, propostas de regulamentação são equivocadas e podem inibir um
mercado tão útil na administração dos riscos de empresas e bancos.
O trabalho de CHESNEY & EID (1996) reforça a questão do efeito benéfico dos
derivativos, principalmente no gerenciamento de riscos, já que muitas pessoas se
mantêm cautelosas em função de considerar que estas operações aumentam o risco.
Eles demonstram que a introdução de opções é benéfica para o investidor, posto
que reduz a volatilidade do ativo objeto, existindo até uma tênue indicação de
que a volatilidade se torna mais estocástica com a introdução das opções.
Pode-se enumerar uma série de acontecimentos que demonstram a volatilidade
dos derivativos. A Revista Veja (1995) destaca: George Soros, o megainvestidor
americano, perdeu 600 milhões de dólares apostando errado na força do iene
contra o dólar, depois de ganhar, anteriormente, apostando certo contra a libra
inglesa. Na Califórnia, um condado inteiro faliu porque um tesoureiro apostou
que as taxas de juros americanas iam cair. A Kodak, bem como a Procter & Gamble
também acumularam prejuízos nos derivativos.
Esses escândalos demonstram como o mercado de derivativos pode atingir e
refletir grandes oscilações, bem como levar a obterem-se grandes perdas ou
ganhos expressivos. E isto nada mais é do que o contexto atual das finanças
mundiais como pode ser visto na tabela abaixo.
TABELA - Perdas e Ganhos no Mercado de Derivativos
Empresas com Ganhos |
Valor Ganhos |
Firmas com Perdas |
Valor Perdas |
Sallie Mae |
$ 639 million |
Orange Cty |
$ 1,7 billion |
Banc One |
$ 446 million |
Barings PLC |
$ 1 billion |
FHLB of NY |
$ 242 million |
Eastman Kodak |
$ 220 million |
Household Inter |
$ 207 million |
Procter & Gamble |
$ 157 million |
PNC Bank |
$ 203 million |
Gibson Greetings |
$ 20 million |
|
|
Metalgeselschaft |
$ 1,6 bilion |
Fonte: CHESNEY & EID(1996) ; BURNS, John (1995) (modificado)
A partir das considerações das várias formas de riscos, neste capítulo,
procura-se mostrar algumas ferramentas de análise utilizadas para um eficiente
gerencimento de riscos, utilizando derivativos.
TIPOS DE RISCOO fracasso de algumas empresas no uso de derivativos apontou três áreas de
risco, segundo WATERS (1994):
1) o risco levantado pelos mercados financeiros voláteis. Para o negócio de
administração do risco para o cliente - que cria derivativos complexos para
reduzir os riscos dos clientes institucionais e corporativos em movimentos de
taxas de juros, moedas ou commodities, a convulsão dos mercados financeiros
poderia ter um impacto de maior duração;
2) o risco para a imagem do banco, quando os produtos financeiros complexos
que ele negocia sucessivamente se deterioram. As ambições nos negócios com
derivativos, nos quais ele tem uma clara liderança sobre muitos concorrentes,
desviam a atenção dos riscos operacionais que estava correndo;
3) risco de que órgãos reguladores irão adotar medidas contra o banco
especificamente, e contra os mercados de derivativos mais genericamente. É um
risco mais difícil de quantificar, mas poderia ter repercussões de longo prazo:
o de que os zelosos órgãos disciplinadores e fiscalizadores irão tornar os
mercados de derivativos um lugar menos lucrativo para fazer negócios.
Em geral, os investidores buscam a otimização de três aspectos básicos em um
investimento:
a) retorno;
b) prazo;
c) proteção.
Ao avaliar o investimento, portanto, deve-se estimar sua rentabilidade,
liquidez e grau de risco. A rentabilidade é sempre diretamente relacionada
ao risco. Ao investidor cabe definir o nível de risco que está disposto a
correr, em função de obter uma maior ou menor lucratividade.
Pode-se classificar o risco avaliado pelo investidor em três níveis(veja o
Quadro 3.1):
QUADRO - Risco do Investidor
Alto |
Operações com derivativos;
Operações alavancadas (leverage). |
Moderado |
Participações acionárias;
Operações de proteção (hedge);
Operações de securitização. |
Baixo |
Imobiliários; Seguro; Moeda;
Para a atividade profissional;
Títulos de crédito |
Fonte: RUDGE & CAVALCANTE(1993)
Em toda operação que envolve transferência assume-se risco, e o grau desse
risco vai depender de alguns fatores determinantes, como destaca ARAUJO (1996):
a) condições econômicas em geral: produção, emprego, distribuição de renda e
inflação;
b) políticas do Banco Central: taxas de juros, reservas e seguro bancário;
c) capacitação e iniciativas da instituição: estrutura organizacional,
tecnologia, custos operacionais, recursos humanos e mercados de atuação;
d) políticas de administração de risco da instituição: critérios para
concessão e avaliação de risco.
QUADRO - Tipos de Riscos
EXÓGENOS |
ENDÓGENOS |
TIPOS |
EXEMPLOS |
TIPOS |
EXEMPLOS |
Políticos |
Mudança de regime, mudança de
governo; |
Operacionais |
variações nos custos, preços,
demanda ou no fornecimento de insumos; inadimplência de clientes |
Sociais |
greves, tensões sociais e
criminalidade; |
Financeiros |
taxa de juros, inflação, taxa de
câmbio |
Tecnológicos |
obsolescência de produtos e de
processos de produção |
|
|
Ecológicos |
Mudança de legislação, de hábitos
de consumo, de percepção de imagem; |
|
|
Desastres |
incêndios, inundações, acidentes; |
|
|
Fraudes |
roubo, sabotagem, extorsão,
seqüestro; |
|
|
Econômicos |
estatização, alterações nas
políticas fiscal, cambial, industrial; confisco de ativos; |
|
|
Fonte: RUDGE & CAVALCANTE (1993:239).
Conforme GITMAN (1987), o risco dos ativos consiste em dois componentes:
risco diversificável: também chamado de risco não-sistemático,
representa a parcela do risco de um ativo que pode ser eliminada pela
diversificação. Ele resulta da ocorrência de eventos randômicos, não
controláveis, tais como greves, processos, ações regulatórias, perda de cliente
especial e assim por diante. São eventos específicos de cada empresa;
risco não-diversificável: também chamado de sistemático, é atribuído a
forças que afetam todas as empresas como guerra, inflação, eventos políticos.
Logo, deve-se ter uma maior preocupação com este último tipo de risco, já que o
risco diversificável pode ser reduzido formando uma carteira de ativos que
diversificam o risco.
HULL (1994) alega que o risco sistemático, ao contrário do outro, não pode
ser diversificado porque ele surge da correlação existente entre os retornos do
investimento e os retornos do mercado como um todo. Um investidor comumente
demanda um retorno esperado maior que a taxa de juros livre de risco para
incorrer em importâncias positivas de risco sistemático. Um investidor também
está preparado a aceitar um retorno esperado menor que a taxa de juros livre de
risco, quando o risco sistemático de um investimento é negativo.
Existem alguns riscos mais específicos, como o que, nos últimos tempos,
convencionou-se a chamar risco dos países emergentes. A mensuração desse risco é
fundamental e determinante para o crescimento do país, pois os investidores
estrangeiros definem seus investimentos nos países de acordo com o risco
avaliado.
Para o Sistema Financeiro é tão importante o problema da administração do
risco que foram criadas as agências de rating. Estas agências são
especializadas na produção de listas de classificação de empresas e países
quanto à sua saúde financeira, informação que interessa aos investidores e pode
decidir custos e taxas. Elas vendem um produto(informação), enfim, elas
enquadram as instituições e países, em uma escala que determina o risco e
orienta as decisões dos investidores. As agências internacionais mais
respeitadas no mercado pela avaliação do risco de país e empresas são a Duff
& Phelps Credit Rating, Moody's Investors Service e Standard & Poor's Rating
Group.
Um dos trabalhos realizado pelas empresas acima citadas pode ser visto no
quadro 3.3 abaixo, com relação ao risco político e econômico de alguns países
emergentes.
QUADRO - Risco Dos Investimentos em Países Emergentes
PAÍS
|
|
AGÊNCIAS
|
|
|
DCR* |
MOODY'S** |
S & POOR'S*** |
Argentina |
risco mediano,
garantia modesta |
risco mediano,
garantia modesta |
risco mediano ,
garantia modesta |
Brasil |
risco mediano,
garantia modesta |
risco alto,
garantia sofrível |
risco alto,
garantia sofrível |
Chile |
risco baixo,
garantia satisfatória |
risco mediano,
garantia adequada |
risco baixo,
garantia satisfatória |
México |
risco mediano,
garantia modesta |
risco mediano,
garantia modesta |
risco mediano,
garantia modesta |
Fonte: SR Rating apud Junior (1996)
*Duff & Phelps Credit Rating, **Moody's Investors Service, ***Standard & Poor's
Rating Group
De acordo com a última avaliação dessas empresas, o Brasil não possui
perspectivas econômicas e políticas muito otimistas.
Os mercados financeiros tiveram uma revolução a partir dos anos 80, com a
explosão dos derivativos e o desenvolvimento das modernas técnicas de
administração de carteiras. Os chamados risks management (administração
de riscos) passaram a estar cada vez mais presente nas discussões atuais. Apesar
de algumas ferramentas de derivativos existirem há muitos anos, estes
instrumentos só começaram a ter intensa utilização e organização a partir das
últimas décadas, com a crescente preocupação com o gerenciamento de risco.
Conforme DANTAS (1993), se o mercado financeiro nacional já estava
complicado, com sua legião de ativos, índices e taxas oscilando muito, com os
derivativos torna-se mais difícil ainda. Porém, se passado o trauma inicial for
possível tirar proveito das oportunidades de administração de riscos oferecidas
pelo conjunto de instrumentos derivativos, ele torna-se mais simples.
Um dos problemas maiores com os derivativos é que eles misturam as apostas
com cálculos matemáticos sofisticados.
As pessoas responsáveis pelo gerenciamento dos riscos envolvidos nas
operações com derivativos precisam de conhecimento matemático, computadores,
estatística, porque trabalham com produtos financeiros complicados e somente com
complexos cálculos matemáticos podem estimar os riscos inerentes. "Caso um banco
calcule muito mal esses riscos, e venda contratos no valor de bilhões de dólares
que tenham desempenho ruim, seu capital poderá desaparecer na hora de pagar a
conta." (LUQUET, 1994:04)
Para ROSS (1989), a possibilidade da utilização pelas empresas de mecanismos
financeiros cada vez mais complexos, especialmente para estratégias de proteção
(hedge), aponta para a necessidade de preparação de pessoal adequado e de
estruturas administrativas capazes de gerir as operações no amplo sentido do
termo, levando-se em conta o custo de montagem do produto e das estruturas
administrativas para gerir o processo, seja ele um processo de administração de
carteiras ou um processo de financiamento.
BURNS (1995) diz que os riscos dos derivativos não são novos. O gerenciamento
das atividades de derivativos, contudo, é mais complexo que o gerenciamento dos
produtos tradicionais dos bancos. Para os operadores (dealers), dois
problemas estão presentes: o primeiro, relativo à complexidade na modelagem dos
derivativos, a qual prevê total conhecimento das reações de um derivativo na
mudança em uma das variáveis usadas para criar o instrumento; e, segundo, a
existência de conflitos de interesses entre o operador (dealer) e o
cliente, que é o responsável pelas conseqüências dos investimentos em
derivativos.
INSTRUMENTOS DE ANÁLISES DE RISCOSPara uma boa administração do risco, precisa-se equacionar os diferentes tipos
de risco e suas alternativas de cobertura, transferência ou atenuação.
Conforme COSTA (1994), o mercado de derivativos é reconhecido
internacionalmente pela sua eficácia na administração de riscos. De fato, as
primeiras operações foram criadas para proteger (hedge) as mercadorias (commodities)
contra variações bruscas de preço no mercado. Desde então, foram criadas
inúmeras formas de proteção ao risco, amplamente utilizadas pelas empresas no
mundo inteiro.
Os instrumentos derivativos auxiliam muito a administração do risco de
algumas operações, porém faz-se crucial o entendimento de algumas considerações
básicas para que uma alternativa de proteção, por exemplo, não se torne uma
posição arriscada.
Uma tendência que está surgindo no Brasil, principalmente nos bancos, é o
desenvolvimento de sistemas de gestão de risco, permitindo estabelecer limites
máximos de exposição a risco em diversos mercados, como câmbio, juros e ações, o
que no organograma dos bancos recebe o nome de market risk management.
Conforme BALARIN (1996), os motivos que levaram alguns bancos brasileiros a
abrirem área de gestão de risco é o reflexo de exemplos externos, como o "caso
Barings" e alguns casos internos, sendo que o modelo de gerenciamento de risco
que grande parte das instituições financeiras está usando segue a mesma
filosofia e é dividido em três segmentos:
Tecnologia e trading: elabora modelos de projeções futuras de índices,
determinação de preços e volatilidade;
Pesquisa: desenvolve modelos matemáticos, define limites e faz análises de
stress (quando é projetada uma situação completamente inesperada de
mercado);
Controle de posições: setor responsável por fiscalizar se um operador
ultrapassa um limite máximo de exposição do risco.
A maioria dos bancos desenvolve sistemas informatizados próprios, contando
com a ajuda das poucas empresas de informática que desenvolvem programas para
gestão de risco, e com a participação de empresas de consultoria.
Muitas teorias e modelos surgiram com o intuito de precificar opções e
operações com derivativos. Nesta parte do trabalho, será apresentado uma síntese
das principais considerações e modelos existentes no gerenciamento de risco com
derivativos. Um estudo mais aprofundado neste assunto foge ao escopo deste
trabalho.
CONSIDERAÇÕESO risco que engendra as operações financeiras não preocupa somente os agentes
financeiros que possuem suas riquezas nelas envolvidas. As instituições
governamentais estão atentas a essas operações, para evitar grandes catástrofes
financeiras. Nos últimos anos, com a expansão dos derivativos também para o
mercado de balcão, elevou-se a margem de risco não só dos bancos mas também de
todo o mercado financeiro.
O Banco Central controla as operações realizadas por instituições financeiras
pela sua contabilidade. Pela Resolução n. 2402, de 13 de janeiro de 1995, os
bancos são obrigados a lançar os valores referentes a operações de derivativos
em contas de compensação de natureza transitória e todo mês devem lançar as
diferenças no ativo ou no passivo, dependendo do resultado positivo ou negativo
da operação. A dificuldade do Banco Central é criar normas que busquem segurança
mas que não atrapalhem o crescimento do mercado, onde a liberdade de criar novas
soluções para problemas de clientela é essencial.
Conforme Gustavo Loyola, os Bancos Centrais, que são os reguladores, não têm
capacidade de supervisionar sozinhos operações complexas como derivativos que
surgem com a globalização dos mercados e o grande movimento de capitais (BORTOT,
1996). Os Bancos Centrais têm o papel de assegurar que as instituições tenham
modelos de gestão e de risco adequados. Os Bancos Centrais têm que se preocupar
muito mais em ter uma visão de evitar problemas futuros, uma tarefa mais de
projeção, ao invés de, depois de ocorrido o problema, apurar os prejuízos.
A meta de todos aqueles que trabalham com esses instrumentos deveria ser o
desenvolvimento e o aprimoramento do mercado de derivativos, procurando fazer
com que todos os participantes tenham conhecimento amplo e profundo sobre eles.
Apenas desta forma, serão evitados novos incidentes e o mercado de derivativos
poderá continuar a sua expansão.