A Pesquisa de Orçamento Familiar, POF, feita pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), tem como objetivo traçar o perfil do
consumo da família brasileira, independente do rendimento. A pesquisa
mostra o que e como o brasileiro come, veste, estuda e diverte-se.
Foi a partir da primeira POF, cuja pesquisa aconteceu entre os anos 1974 e 1975,
que surgiram os primeiros índices de inflação feitos pelo IBGE.
Com os dados da POF, é possível conseguir informações sobre questões tão
diversas quanto os gastos das famílias com educação quanto qualidade nutricional
dos alimentos e suas conseqüências. A POF é uma ótima ferramenta para decidir os
rumos de políticas públicas ou mesmo tendências do
mercado. Conheça, então, um pouco mais da sua metodologia.
Histórico da pesquisa
A primeira POF se chamou Estudo Nacional de Despesa Familiar
e aconteceu entre 1974 e 1975. Com apoio da Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a pesquisa abrangeu vários
pontos do território nacional, abordando tanto o Brasil urbano quanto o Brasil
rural.
Com os resultados da pesquisa, surgiram os índices de inflação medidos pelo
IBGE: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e seus
derivados como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A ponderação matemática de cada item dos índices inflacionários como transporte
ou alimentação é feita baseada nos pesos de cada item no POF. Além disso, a
pesquisa tem sido base para grande parte de outras pesquisas e para o
planejamento de políticas públicas.
Nas pesquisas seguintes às de 1975, a POF acabou limitada a onze cidades
consideradas as maiores do País. São elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba,
Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Goiânia, Belém e
Distrito Federal.
Já aconteceram quatro pesquisas de orçamento familiar no
Brasil. Entre 1974 e 1975, entre 1987 e 1988, entre 1995 e 1996, e a última,
entre 2002 e 2003. O IBGE pretende iniciar uma nova pesquisa ainda em 2007
.
No decorrer dos anos, a metodologia da pesquisa foi melhorando e ampliando a
cada ano. Veja mais detalhes nas próximas páginas.
Quem é entrevistadoComo já foi dito, a Pesquisa de Orçamento Familiar é
feita em onze capitais brasileiras. São elas: São Paulo, Rio de Janeiro,
Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Goiânia,
Belém e Distrito Federal.
Através dos dados do censo, os pesquisadores fazem uma amostragem dos mais
diferentes perfis de famílias para a POF. São escolhidas proporcionalmente
famílias de todas as classes sociais, do mais rico ao mais pobre,
dos moradores de condomínio de luxo aos moradores de favelas. O número de
entrevistados em cada classe social é escolhido proporcionalmente a distribuição
de renda entre a população brasileira. Na última POF, por exemplo, foram
pesquisados 48.500 domicílios.
Como e o que é perguntadoA Pesquisa de Orçamento Familiar é uma das mais longas
pesquisas feitas pelo IBGE. Sua duração é de 12 meses. Durante
esse período, os pesquisadores visitam várias vezes as casas e fazem perguntas
diretamente a cada integrante da família e, com mais detalhes, para o(a) chefe de família. A grosso modo, os pesquisadores
querem saber no que a família gasta seus rendimentos, além disso, parte
importantíssima da pesquisa é a nutricional, quando os
entrevistados chegam inclusive a ser pesados e medidos.
Outra novidade da pesquisa na sua última versão foi a utilização do laptop
durante as entrevistas para compilar os dados. No início, os técnicos
acreditavam que o aparelho poderia intimidar os entrevistados, mas a reação foi
contrária à expectativa. Eles perceberam que os entrevistados colocavam mais
credibilidade nos técnicos com a presença do equipamento.
Depois de familiarizado com o método, os próprios entrevistados chegam a
preencher uma caderneta de despesas. Durante sete dias, tudo o que for comprado
para casa, deve constar dessa caderneta.
Para entender um pouco melhor os métodos da pesquisa, é interessante conhecer o
perfil dos seis questionários:
- Características do domicílio - são feitas perguntas
para definir o perfil de cada morador sobre nível escolar, religião, cor,
ocupação etc. de cada morador.
- Características do rendimento - detalhes sobre os
ganhos da família.
- Despesas coletivas - detalhes sobre os gastos comuns de
toda família como luz, água, aluguel, compra de eletrodomésticos etc.
- Despesas individuais - detalhes sobre o que cada pessoa
consome individualmente como mensalidades escolares, transporte, lazer,
vestuário etc.
- Caderneta de despesa - nesse caso, os entrevistados
devem anotar durante uma semana todas as despesas feitas para a casa, da
alimentação ao material de limpeza.
- Condições de vida - introduzido na última pesquisa,
esse questionário tem 12 perguntas qualitativas para o chefe de família como
por exemplo, se ele acha que a renda é suficiente para as despesas.
Com todos esses dados na mão, vem o momento do cruzamento de informações. Tal
trabalho pode criar milhares de conclusões diferentes.
Novidades na próxima
Para a próxima pesquisa, que deve começar a ser feita em
2007, o IBGE vai incluir um questionário sobre alimentação fora de casa.
Já que o hábito é cada vez mais comum nas famílias brasileiras. |
Veja o que a pesquisa já detectou nesses anos de existência.
Resultados
Para ter uma idéia da importância de uma pesquisa, é interessante ver os
resultados e saber o que eles podem dizer, por exemplo, sobre uma sociedade.
Dos últimos dados divulgados pelo IBGE da Pesquisa de Orçamento Familiar, um
teve bastante destaque na mídia. Foi sobre a obesidade e excesso de peso.
Os números mostraram um aumento do número de obsesos e pessoas com
quilos a mais que o ideal no Brasil e uma diminuição dos adultos com
déficit de peso, o que pode significar desnutrição. Em 1975,
7,8% das mulheres e 2,8% dos homens eram considerados
obesos. Já em 2003, 12,8% das mulheres eram obesas e 8,8% dos
homens. Quanto ao déficit de peso, em 1975, 10,2% das mulheres e 7,2%
dos homens tinham esse problema. Em 2003, eram 5,4% das mulheres e 2,8% dos
homens.
Além desses dados, a pesquisa traça as diferenças de consumo entre classes
sociais. Em 2003, por exemplo, nas famílias que ganham até R$ 400,
o consumo de bebidas alcoólicas foi de 1kg por ano,
enquanto, na faixa de rendimentos acima de R$ 3.000, ingeriu-se
até 15kg. O mesmo acontece com bebidas não alcoólicas, cuja
aquisição cresceu de acordo com os rendimentos, variando de 12kg até 72kg.
Bebida de preferência nacional, o café é uma exceção no grupo, pois apresenta
quantidades variando em torno de 2,5kg a 2,9kg em todas as classes de
rendimentos.
Uma das grandes mudanças detectadas nesses anos de Pesquisa de Orçamento
Familiar foi a forma de alocação dos recursos pelas famílias e a conseqüente
perda do montante de investimentos. Há 30 anos, a parcela dos
gastos permanentes com alimentação, habitação, saúde, impostos, obrigações
trabalhistas correspondia a 79,86% e, em 2003, aumentou para 93,26%. Com isso,
os investimentos (em imóveis e outros) na última pesquisa ficaram em 4,76%. Eles
já foram mais que o triplo (16,50%) em 1974/75.
A pesquisa mostra que, em 30 anos, o brasileiro diversificou sua
alimentação, reduzindo o consumo de gêneros tradicionais como arroz,
feijão, batata, pão e açúcar e aumentando, por exemplo, o consumo
per capita de iogurte, que passou de 0, 4 kg
para 2,9kg ou de refrigerante sabor guaraná, que saiu de pouco mais de
um kg (1,7 kg) por pessoa/ano para quase 8 kg (7,7 kg). Até o leite de vaca
pasteurizado, que é o produto adquirido em maior quantidade pelas famílias (38
kg por pessoa, anualmente), teve seu consumo reduzido em 40%, tendo chegado a
62,4kg em 1987. Já o consumo de água mineral saltou de 0,3 kg para 18,5kg per
capita por ano. Um outro sinal de mudança nos hábitos é dado pelo consumo dos
alimentos preparados, por exemplo, que passou de 1,7 kg para 5,4 kg per capita,
no período.