Carreira / Emprego - Não desista diante das dificuldades
Quando alguém aparece meio desanimado, pensando em desistir de algum projeto
que não consegue caminhar, costumo contar uma história que vivi quando tentei
publicar meu primeiro livro, "Como falar corretamente e sem inibições".
Levei nove longos anos para chegar ao fim do último capítulo. Um dos motivos
para tanta demora foi a falta de prática. Até então eu não havia me aventurado
em um trabalho dessa envergadura. Meus textos se limitavam a redações acadêmicas
e a um ou outro artigo esporádico.
Também fui perfeccionista. Na época em que me dediquei a escrever o livro, havia
em São Paulo duas grandes escolas de oratória que concorriam comigo, a do
professor Oswaldo Melantonio (o melhor durante os 50 anos em que atuou) e a do
professor Admir Ramos.
Para que nada saísse errado no livro, eu escrevi cada um dos capítulos
imaginando que os dois mestres concorrentes estavam postados em pé, ao meu lado,
me observando escrever e aguardando qualquer deslize para criticar.
Eu era muito ingênuo. Pensava que terminado o livro encontraria inúmeras
editoras disputando a tapas o "privilégio" de publicá-lo. E houve um fato que
aumentou ainda mais minha autoconfiança.
No princípio da década de 1980, Nilson Lepera, hoje diretor comercial da Editora
Saraiva, foi meu aluno no curso de Expressão Verbal e se mostrou interessado em
conhecer a obra.
Ele me perguntou se eu já havia assumido compromisso com alguma editora e,
diante da minha resposta negativa, pediu que o procurasse assim que o livro
estivesse concluído.
Cerca de dois anos depois, com o último capítulo finalizado, liguei para
avisá-lo de que o livro estava concluído. Assim que ele atendeu, percebi que a
história mudara de rumo.
Ele me disse: Polito, há pouco interesse em publicar seu livro, porque o assunto
foge do nosso foco de atuação, que se restringe às obras didáticas e jurídicas.
Fiquei sem chão. Afinal, já estava até fazendo as contas dos direitos autorais
que receberia! E, agora, por onde começar? Eu não havia suposto aquela negativa
e não me preparara com planos alternativos.
Aí começou a minha peregrinação mandando os originais para diversas editoras. Na
maioria dos casos nem resposta recebia. Ninguém se interessou. Por isso, como
última e única saída, fiz o levantamento de custos para bancar a publicação.
No dia em que eu estava para bater o martelo e me comprometer com os diversos
fornecedores, ainda vislumbrando uma pequena chama de esperança, resolvi fazer
uma derradeira ligação para o Nilson e avisar que publicaria o livro por minha
própria conta.
O resultado desse telefonema foi surpreendente —ele me disse de maneira
veemente: "não faça isso". E explicou: "O fato de o assunto não estar em nenhuma
das nossas áreas não significa que eu tenha desistido".
Falou ainda com entusiasmo: "Acho que seu livro poderá dar início à publicação
das obras de interesse geral na nossa editora. Tenho certeza de que o 'Como
falar corretamente e sem inibições' será um sucesso histórico".
Só que a novela não estava concluída. Ele passara os originais para o editor
responsável para que fizesse uma análise mais criteriosa. Esse profissional
aproveitaria o final de semana para avaliar o conteúdo e dar um parecer.
Foi o fim de semana mais longo da minha vida. Durante o dia eu ficava imaginando
que parte do livro ele estaria lendo. Será que ele estaria gostando de
determinado capítulo? Torcendo o nariz para outro?
Demorei a pegar no sono no domingo. Na segunda-feira, tive que conter minha
ansiedade e não ligar para a editora logo às 8 horas da manhã. Às 9 horas em
ponto disquei os números que sabia de cor.
Conversa vai, conversa vem e em pouco tempo eu estava em sua jugular: e aí, qual
foi o parecer do editor? O Nilson, que evidentemente nem de longe tinha a mesma
preocupação com o assunto, me respondeu com toda a naturalidade: "Rapaz, você
não sabe o que aconteceu. Na correria, ele acabou deixando os originais na
gaveta. Mas, fica tranqüilo que ainda neste mês vamos ter uma resposta".
Agradeci, desliguei o telefone e fui dar uma volta de carro para atenuar minha
frustração.
Três dias depois recebi o telefonema que tanto esperava. O Nilson me dizendo que
estava peitando o projeto e que assumiria a responsabilidade pela publicação.
Agradeci feliz, desliguei o telefone e comecei a dar pulos de alegria para
comemorar a conquista.
Não sei se o meu hoje querido amigo Nilson Lepera baseou essa profecia apenas na
sua experiência e visão profissional ou em algum tipo de intuição. Conhecendo
seu caráter e profissionalismo sei que só por amizade ele jamais tomaria essa
decisão.
Os anos que se seguiram mostraram que ele, felizmente, tinha toda razão. A área
de interesse geral da Saraiva é uma realidade e o "Como falar corretamente e sem
inibições" está fazendo história, pois é de longe a obra no gênero mais
publicada no Brasil.
O livro entrou para as listas dos mais vendidos do país e permaneceu nelas por
três anos, sendo que em algumas delas figurou em primeiro lugar. Desde o seu
lançamento caminhou bastante e chegou agora na 111ª edição, com mais de 500 mil
exemplares vendidos.
Entre suas proezas, está o fato de ter sido selecionado pela Secretaria
Municipal de Educação de São Paulo e para o programa Fome de Saber, que integra
a ação do Governo Federal Quero Ler - Biblioteca para todos. Além de ter sido
lançado em diversos países.
O livro ganhou outros parceiros com ótima aceitação dos leitores. Hoje tenho 16
livros publicados, sendo que cinco deles entraram para as listas dos mais
vendidos. O último, "Superdicas para falar bem", foi um dos dez mais vendidos no
país em 2006.
É só lançar um livro novo e o "Como falar corretamente e sem inibições" volta a
ser exposto com destaque. E lá, do alto das estantes, garboso, ele parece dizer
aos novos livros que escrevo: sejam bem-vindos, mas não se esqueçam de que fui o
primeiro, o iniciador dessa história.
É uma fabulação, mas, afinal, se seu próprio título é Como falar, por que ele
também não poderia contar essa vantagem, ainda que em silêncio?!
Não sei o que teria sido da minha carreira profissional e da minha vida como
escritor se o Nilson Lepera não tivesse aparecido no meu caminho e acreditado na
qualidade do meu primeiro livro.
Às vezes, fico pensando qual seria a história desse livro que fez e faz tanto
sucesso se eu o tivesse publicado por conta própria. Conhecendo melhor o mercado
editorial como conheço hoje, muito provavelmente ele não teria passado da
primeira edição.
O melhor de todos os aprendizados, entretanto, foi o de ter acreditado naquela
remota possibilidade e feito aquele último telefonema. As pessoas que me
conhecem sabem que essa se tornou uma espécie de marca no meu comportamento
—nunca desistir de um projeto até que todas as chances tenham sido efetivamente
esgotadas.
Tenho contado essa história para os alunos que precisam de uma palavra de
incentivo para continuar firmes em sua trajetória de vida. E cada vez que narro
este fato eu também me estimulo cada vez mais a perseverar na busca dos meus
objetivos.
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