Carreira / Emprego - Ambientes de casa e trabalho têm mais similaridades do que você imagina
Ele dá bronca, elogia, premia e coloca todos sob sua tutela. Você pode estar
pensando que estas atitudes são referentes a um pai (ou mãe), mas, muito mais do
que isso, são comportamentos de um líder.
"O executivo é conselheiro, impõe regras, pune ou premia", afirmou o engenheiro
Frederico Ricardo Pabst, autor de uma dissertação defendida no Departamento de
Administração (ADM) da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com ele, o
gestor age com seus funcionários exatamente como os pais atuam com os filhos.
O engenheiro chegou à conclusão depois de analisar executivos de grandes
empresas, na faixa de 40 anos e que lideravam uma equipe há pelo menos cinco
anos. O pesquisador queria descobrir como os executivos atuam na construção do
discurso de suas organizações e mantêm seu poder.
Similaridades
Existem, de acordo com Pabst, outras atitudes que se repetem no ambiente de
trabalho e familiar. Uma delas é o fato de os gestores privilegiarem ou
promoverem aqueles que estão muito próximos deles, da mesma forma que um chefe
de família tende a privilegiar o caçula ou o primogênito. Ambos (pais e
gestores) querem o sucesso de seus confiados.
A hierarquia familiar é refletida em todas as esferas da vida, conforme disse o
engenheiro, uma vez que o ser humano a vivencia desde os primeiros anos de vida.
"Essa não é uma característica que vem das organizações, mas do próprio
indivíduo", explicou Pabst.
Outro ponto identificado foi a noção de hereditariedade. Os gestores ressaltam o
papel daquele que iniciou o empreendimento, história relembrada na expectativa
de formar novos visionários, ou herdeiros.
Adesão ao discurso
A hierarquia similar em casa e no trabalho leva o funcionário a aderir ao
discurso organizacional por hábito. Assim como obedece seus pais, obedece o
gestor. Além disso, a pesquisa mostrou que o comprometimento e o sonho do
sucesso são outros fatores que levam os empregados a proceder de acordo com os
anseios da empresa.
O comprometimento é uma mola propulsora para que o profissional se dedique. É
como aquelas pessoas que começam a se preocupar com a natureza quando ingressam
em uma empresa que valoriza a sustentabilidade. Incorporar o discurso facilita o
crescimento dentro da organização.
Quanto ao sonho de sucesso, neste caso, o executivo desempenha um papel
fundamental, uma vez que representa a personificação deste anseio. "Ele
concretiza o sucesso, seja pela carreira, estilo de vida, roupas, carro, casa,
ser convidado para fazer palestras", explica.
Servidão voluntária
De acordo com a pesquisa, componentes de sedução e fascínio, que têm origem no
discurso da organização desde a entrevista de emprego, fazem com que o
funcionário se dedique mais do que deveria à empresa.
Os dados revelam que, logo que o funcionário é contratado, a empresa tenta fazer
com que os sonhos dela substituam os sonhos dele. Se conseguir, terá um
indivíduo motivado para alcançar os objetivos da empresa. E quando essa fase se
completa, o indivíduo passa a viver para a organização. Quem não conhece alguém
capaz de dar a vida pelo seu trabalho?
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