O professor do Ibmec-SP e diretor da multinacional francesa Groupe BPI no
Brasil, Gilberto Guimarães, conta em seu livro "Tempos de grandes mudanças", que
o fenômeno mundial do desemprego passou a ser encarado sob a perspectiva do
medo. As pessoas passaram a temer ficar sem trabalho.
"Apenas como exemplo, em 1989, o Brasil tinha um índice de desemprego de 3,1%,
taxa considerada de pleno emprego. Anos depois, os índices se fixam ou se mantêm
em algo próximo de 11%. Isso significa que, como em todos os outros mercados, o
mercado de trabalho também já não cresce nas mesmas proporções. Para alguém
arrumar um emprego, outra pessoa está deixando de se empregar", diz ele em seu
livro.
"A grande maioria da população afirma que seu maior temor é perder o emprego. No
Brasil, segundo pesquisas, esse medo atinge 63% da população", acrescenta
Guimarães.
Medo e competição
Para a socióloga e consultora organizacional do Idort/SP, Tânia Zarpelão, tanto
medo de demissão gerou uma perceptível competição nas organizações. Mas por que
as pessoas vivem dia após dia com esse medo? Ela explica que muitos
profissionais têm medo da humilhação, porque viram colegas que, ao serem
demitidos, passaram por situações embaraçosas.
Outros acreditam que não estão preparados para o mercado, que está cada vez mais
competitivo, ou têm uma rede de relacionamentos pequena, insuficiente para o
caso de precisarem de ajuda. Eles pensam "se eu sair daqui, o que vou fazer?".
"Muitas vezes, as pessoas se acomodam onde estão e não se preparam para o
mercado".
Há ainda o medo causado pela pressão familiar, isto é, como alguém pode se
permitir ficar desempregado com tantas pessoas dependentes dele para sobreviver?
Tânia lembra também que existem situações propícias para o medo da demissão:
quando a empresa passa por um processo de fusão ou aquisição, quando chega um
novo funcionário talentoso demais, quando muda a liderança, entre outras tantas.
Por fim, há quem tenha medo de ser taxado como incompetente. Trata-se de uma
crença geral. Mas a consultora do Idort/SP garante que nem sempre as pessoas são
demitidas por falta de competência. "Às vezes, as demissões acontecem por conta
de reestruturações internas ou de salários altos".
O remédio para afastar o medo
Tânia diz que para combater o medo é necessário investir no autoconhecimento.
"Sem confiança, o profissional pode sentir muito mais o baque de uma demissão e
demorar mais para arranjar um novo emprego".
Além disso, como o medo é causado justamente pela insegurança, as pessoas devem
ter consciência de suas habilidades e talentos, devem saber quem são e como
estão posicionadas na comparação com o mercado.
Isso significa que é importante investir no aprimoramento profissional e na
pesquisa acerca do seu mercado de atuação. Analise o que profissionais
"concorrentes" têm que você não tem, e também o que você tem e eles não. Por
fim, abra seu leque de opções quanto aos lugares em que pode trabalhar. Por
exemplo, um engenheiro pode trabalhar na área técnica, na comercial e,
dependendo, até no marketing. Da mesma maneira, um jornalista pode trabalhar em
assessoria de imprensa, rádio, jornal, revista, televisão e sites.