Ações / Bolsa de Valores - Qual a melhor estratégia, apostar na retomada da bolsa ou migrar à renda fixa?
Os investidores que entraram na bolsa seduzidos pela expectativa de mais um
ano de diversos IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de Ações), ou mesmo após a
concessão do investment grade ao País por duas renomadas agências de
classificação de risco, com olhos apenas na expectativa de ganhos expressivos em
curto intervalo de tempo, não se deparam com o cenário esperado.
Depois de cinco anos consecutivos de significativa valorização, a bolsa
brasileira encontra em 2008 um obstáculo diferente. Algumas ações atreladas ao
setor de commodities, em geral, não mostram a mesma força e os desdobramentos
dos problemas da economia norte-americana põem em xeque este ciclo positivo do
mercado doméstico.
O retrato desafiador da bolsa pode frustrar os mais inexperientes. No mês de
junho, o saldo do Índice Bovespa é negativo em quase 10%. Sem o retorno
esperado, surgem questionamentos quanto ao futuro do mercado de ações.
Será que é momento para migrar para a segurança da renda fixa, ou apostar na
recuperação das ações? As estratégias podem ser variadas, mas o atual cenário
reserva algumas premissas que podem indicar a melhor postura por parte do
investidor.
Selic pode determinar rumos
Uma boa pista pode ser olhar para o cenário macroeconômico brasileiro. A ameaça
inflacionária já se tornou realidade entre consecutivos indicadores que apontam
para a aceleração da alta de preços.
Este fator tende a mexer ainda mais com o retrato do mercado, uma vez que
envolve a taxa Selic. Qualquer sinal de variação mais expressiva nos preços
remete imediatamente a aperto monetário. E uma trajetória ascendente do juro
básico brasileiro até o final do ano parece consenso entre os analistas, o que
tende a levar o juro básico brasileiro para algo entre 14% e 15% ao ano.
Somente esta premissa já mexe com duas variantes. O investidor pode buscar ações
que mais se beneficiariam da alta do juro, como o financeiro; bem como fugir de
setores penalizados pela maior dificuldade na concessão de crédito, como varejo
e construção civil.
Outra questão que vem à tona é a aposta na renda fixa. Para os mais
conservadores, a tendência ascendente da Selic incorpora viés positivo quanto
aos títulos públicos, além da relativa segurança desta alternativa de aplicação.
O investidor se limita a ganhos auferidos pelo pagamento do juro citado sem se
expor aos riscos do investimento em bolsa.
A hora da renda fixa
De olho nesta questão, os analistas disseram acreditar que o momento realmente
favorece este tipo de aplicação. Na avaliação de Silvio Campos Neto, economista
do banco Schahin, a tendência da Selic e o cenário às ações trazem de volta a
renda fixa como opção mais atrativa de investimento. "Essa migração de recursos
já está inclusive se refletindo na bolsa", salienta o analista.
Como o rumo dos mercados acionários ainda é incerto, o investidor mais
conservador pode, ainda, combinar as duas alternativas de investimento, expondo
parte de seu capital às ações e resguardar outra fatia na segurança da renda
fixa. Na opinião de Clodoir Vieira, economista da corretora Souza Barros, trocar
uma parte do capital para a renda fixa é aconselhável no momento.
A estratégia cabe a cada investidor decidir. Cautela com o mercado pode ser
sinônimo de mudança para a renda fixa, mas o cenário de alta da Selic também
pode reservar alternativas rentáveis na bolsa.
Apostando na baixa
Por outro lado, algo que para alguns é desconhecido é a estratégia de apostar na
baixa do mercado acionário. Torcer para o Ibovespa subir é a reação habitual,
mas perspectivas de desvalorização das ações também podem gerar bons frutos para
o investidor.
Uma opção para aqueles que vislumbram desvalorizações na bolsa e não querem se
desfazer de algum ativo ou apostar na renda fixa é o aluguel de ações. Se o
investidor acredita que seu ativo irá se desvalorizar no curto prazo, mas
engatar recuperação em seguida, pode "emprestá-lo" para outro investidor que o
toma mediante o aporte de garantias.
Quem aluga também pode se beneficiar de um movimento negativo do mercado. Basta
vender o papel alugado imediatamente no mercado e ao término do período de
empréstimo, recomprá-lo a preço mais baixo do que o vendido anteriormente,
ganhando na arbitragem. O objetivo desta operação é conseguir comprar o mesmo
papel alugado e depois vendido a valor inferior ao tomado no empréstimo.
Outra estratégia que entra em pauta para os que apostam na baixa pode ser o
investimento no mercado de derivativos, em opções. Há duas diferentes maneiras
de operar: comprando opção de venda ou lançando uma opção de compra.
No primeiro caso, a estratégia será bem sucedida caso a diferença entre o preço
de exercício e a ação no mercado à vista seja maior que o prêmio pago pela opção
de venda. Em outras palavras, o investidor compra no mercado à vista a ação e a
vende ao 'exercido' lançador da opção de venda. A diferença entre o prêmio da
opção e o ganho obtido entre comprar a ação e exercer a opção será o lucro desta
operação.
Já a segunda alternativa diz para o investidor comprar uma ação e lançar uma
opção de compra desta. Considerando que o viés do mercado é de baixa, caso na
data do exercício da opção o preço da ação no mercado à vista seja inferior ao
preço de exercício, o investidor não será exercido; ainda que o papel detido
tenha se desvalorizado entre a compra e a data do vencimento da opção, não
exercida, o ganho da operação se dará se esta perda for menor que o prêmio
recebido pela opção lançada.
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