O salário nem sempre é a resposta para a satisfação no trabalho, de acordo
com o quinto estudo anual da empresa de orientação vocacional e treinamento do
Reino Unido, City & Guilds Happiness, publicado esta semana. Constatou-se que,
na realidade, ter interesse pelo que se faz é o fator número um, quando o
assunto é felicidade.
A pesquisa foi realizada com mil trabalhadores do Reino Unido, de 20 profissões
diferentes. A contradição é que, enquanto trabalhadores britânicos protagonizam
aumento do custo de vida e da jornada de trabalho, deixam uma mensagem um tanto
inusitada aos empregadores: a remuneração não é garantia de felicidade no
emprego.
Só gostar do que faz também não é suficiente
É verdade, no entanto, que o simples interesse pelo trabalho, isolado, isto é,
sem um salário que atenda às expectativas dos profissionais, sem plano de
carreira e sem uma boa liderança, por exemplo, não é suficiente para manter
alguém no emprego. A felicidade no trabalho depende de um conjunto de manobras
por parte das empresas.
A necessidade desse conjunto de fatores ficou clara na pesquisa: 57% das pessoas
decidiram se manter no emprego porque tinham um grande interesse pelo trabalho
que desenvolviam, 56% ficaram graças ao bom relacionamento com os colegas, 48%
porque sentem que, no atual emprego, têm qualidade de vida e conseguem
equilibrar trabalho e vida pessoal, e 44% ficaram no emprego porque o salário
era compensador.
Curiosamente, esteticistas foram apontadas pelo estudo como sendo as
profissionais mais felizes do Reino Unido, graças a esse conjunto de fatores.
Por outro lado, construtores e gerentes e diretores de bancos são os mais
infelizes.
City & Guilds Happiness demonstrou que as empresas precisam expandir seu pacote
de benefícios, se quiserem manter seus funcionários. É verdade que muitas delas
(43%) oferecem bônus, mas apenas uma, a cada cinco, adotam programa de jornada
de trabalho flexível. Além disso, somente 10% permitem o trabalho em casa, muito
embora a qualidade de vida seja apontada como essencial pelos profissionais.
Dificuldade de reter talentos
Por conta das rápidas mudanças globais, cuja primeira conseqüência é o aumento
do nível de exigência por parte dos profissionais, as empresas enfrentam hoje
dificuldades enormes no que tange à retenção de talentos.
"A preocupação com a felicidade no ambiente de trabalho está elevando o nível de
responsabilidade das empresas, que não podem ignorar os fatos. As organizações
não podem mais confiar nas recompensas estáveis e nas políticas de
reconhecimento que falham em influenciar os profissionais, sendo insuficientes
no combate ao estresse", analisa o diretor da City & Guilds Happiness,
Bob Coates.
"A aproximação pouco realista tende a aumentar o número de trabalhadores
desmotivados e menos produtivos, e até mesmo ocasionar perdas de funcionários à
concorrência", acrescentou.
Salário e motivação
Para o gestor de Recursos Humanos Washington Sorio, ao associar teorias
utilizadas em psicologia na questão do salário como fator de motivação,
identifica-se que a remuneração contribui para as necessidades humanas. "As
pessoas desejam dinheiro porque lhes permite não só a satisfação de necessidades
fisiológicas e de segurança, mas também dá plenas condições para a satisfação
das necessidades sociais, de estima e de auto-realização".
Todavia, o dinheiro não é um fim, ele não é a chave para a motivação, mas o meio
que faz com que as pessoas atendam suas necessidades e, aí sim, se motivem. "O
salário não é fator de motivação, quando analisado isoladamente. A troca fria de
produção por salário não gera satisfação ao empregado. É apenas recompensa justa
pelo seu trabalho".