As emoções são inerentes a todo ser humano. Elas acontecem. Não são nem
positivas nem negativas, mas naturais. Entretanto, atrapalham o dia-a-dia no
trabalho, pois todo sentimento induz uma ação. Que devemos aprender a lidar com
elas, todos estão cansados de saber. A pergunta é: como?
Para a psicóloga e psicoterapeuta Clarice Barbosa, os sentimentos são
importantes porque dão pistas do porquê de nossas atitudes. Mas quando alguém
não sabe lidar com a raiva, ela se transforma em ira. "Estudos mostram como
funcionam as emoções no cérebro. A raiva gera adrenalina, a circulação sangüínea
fica mais forte, os batimentos cardíacos aceleram", revela a especialista.
O que fazer?
Recomendar que a pessoa se acalme pode soar como uma piada. Algumas vezes, não
dá para se acalmar, da mesma forma que um profissional que sente mágoa não
consegue simplesmente perdoar o causador do sentimento, sem mais nem menos, de
uma hora para a outra. Então, siga a dica: use a emoção a seu favor, e não para
se prejudicar!
Para tal, Clarice propõe: durante 15 dias, anote o que sente no dia-a-dia do
trabalho e quais foram suas reações e atitudes. Por exemplo, um colega mentiu
para puxar seu tapete e você não fez nada, mas deixou de dormir à noite, de
tanta raiva que sentia. Anote isso. Seu chefe gritou com você e sua reação foi
falar mal dele para todos os seus amigos. Anote isso também.
No final dos 15 dias, dependendo de sua situação e da empresa na qual trabalha,
pode ser que tenha folhas e mais folhas de anotações. Com o material em mãos,
analise suas atitudes. Quais delas não tiveram nenhum resultado prático? Quais
delas poderão te prejudicar profissionalmente? Qual delas poderá até mesmo
causar sua demissão? Não se engane e diga que não se importaria se fosse
demitido. A realidade é que a maioria das pessoas depende do trabalho para se
sustentar e manter suas famílias.
Passo 1: reconhecendo seus sentimentos
O importante desta análise é que ela permite que reconheça seus sentimentos.
Acredite ou não, trata-se da etapa mais difícil. "Normalmente, as pessoas não
assumem seus sentimentos. A tendência é disfarçá-los. É um processo
inconsciente. Então, reconhecê-los já é meio caminho andado", garante a
psicoterapeuta.
Para exemplificar: não é raro as pessoas sentirem inveja dentro do ambiente
profissional. "A gente se pergunta: por que fulano conseguiu aumento e eu não?
Por que sicrano foi promovido? Por que o trabalho do meu colega sempre fica
melhor que o meu? Como ele conseguiu comprar uma casa? Mas quase ninguém assume
que tem inveja", diz Clarice.
O que o outro pretende?
Antes de encontrar as respostas quanto ao que fazer, Clarice propõe outro
exercício: analise como o outro te prejudica e causa em você sentimentos como
rejeição, medo ou raiva. Mas, no lugar de focar nele, foque em você.
"Geralmente, as atitudes de quem causa sentimentos como a mágoa ou a raiva têm a
ver com poder. É um padrão de comportamento de pessoas que podem ser inseguras",
explica a psicóloga. A mensagem que elas passam (ou querem passar)? Aqui, eu
domino!
"Se for reparar, as pessoas estão sempre defendendo suas idéias e interesses no
trabalho. Se um profissional quer impor seu jeito de fazer as coisas, é comum
que seja agressivo, para que façam sua vontade. Tudo isso está relacionado com
poder. Mas saiba que quem te acusa ou te provoca não está preocupado com você. O
foco dessa pessoa é subir no cargo ou ganhar um aumento. O que se passa com ela?
Não sei".
O que Clarice quer dizer é que não dá para ficarmos o tempo todo pensando no
outro. Portanto, não perca tempo se perguntando por que alguém te prejudicou ou
por que seu chefe foi injusto contigo. O foco deve ser você, em seus
sentimentos.
Tome uma vacina
Seja realista. No imaginário de muitos profissionais, existe uma empresa
perfeita, com colegas bondosos e justos 100% do tempo. Mas estamos falando de
seres humanos que, como explicamos no início desta matéria, cultivam sentimentos
dos mais variados.
"Muitos dizem para si mesmos que gostariam que as pessoas fossem diferentes.
Alguns até tentam mudar o próximo. Porém, ninguém vai mudar". Para Clarice, o
pensamento correto seria: "está bem, não posso mudar o mundo, mas posso sim me
transformar. Esse poder de mudança é meu".
Fica a dica: deixe de lado a posição de vítima, sendo realista. Tome uma vacina:
não crie expectativas com relação às pessoas. No contexto de uma empresa,
invariavelmente, em algum momento, se sentirá frustrado.
Uma vez que assume o que sente e passa a focar em si mesmo, fica mais fácil
encontrar soluções para o que lhe aflige. Assim, se alguém discute com você, no
lugar de responder de forma grosseira, proponha uma reunião dali a duas horas,
quando estiver mais calmo. Se sente inveja do colega que parece ser mais
talentoso, aproveite e aprenda com ele. Isso, caro leitor, é que é inteligência
emocional!