Carreira / Emprego - Criatividade não é um dom pessoal! Veja o que fazer na falta de inspiração
"O dramaturgo francês Molière certa vez contou a história de um homem que
perguntou o que era prosa e espantou-se ao descobrir que falara em prosa a vida
inteira. Ocorre o mesmo com a criatividade. Muita gente ainda a considera como
um atributo misterioso e concedido a uns poucos indivíduos privilegiados, no
entanto, todas as pessoas são capazes de acionar o seu potencial criativo".
É desta maneira que a consultora do IDORT-SP, Denise Bragotto, que fez doutorado
em Psicologia da Criatividade, explica o que significa ser criativo, em um mundo
onde, cada vez mais, quem tem boas idéias é mais valorizado. Você já reparou
que, nas empresas, as pessoas que têm resposta para tudo e sempre dão soluções
para as questões mais problemáticas são mais valorizadas?
É importante que as empresas compreendam que criatividade não é um dom pessoal,
e sim uma capacidade que pode e deve ser desenvolvida, na opinião de Denise, que
também é diretora da Criabrasilis (Associação Brasileira de Criatividade e
Inovação). "Trata-se da primeira barreira a ser removida. Essa crença impede que
as empresas tenham acesso a milhares de novas idéias latentes em seus
colaboradores".
Inspiração: como chegar a ela?
"A história traz exemplos bizarros a respeito da inspiração: Isaac Newton
produziu a lei da gravidade após observar uma maçã caindo em seu jardim; o poeta
Hart Crane se inspirava ouvindo músicas; Proust trabalhava num quarto forrado de
cortiça; Mozart fazia ginástica; Shiller colocava maçãs podres em sua mesa; e há
o caso extremo de Kant, que trabalhava na cama enrolado em lençóis de uma
maneira inventada por ele mesmo".
Denise ainda mostra a importância da observação no processo criativo. "Nem
sempre um bom observador é criativo, mas diria que o criativo é sempre um bom
observador. Não falo exatamente em olhar para as coisas, mas na forma de se
observar. Você pode ver o que todos vêem, mas interpretar de uma forma
diferente, usando a idéia que surge desse estímulo para a criação de algo novo.
Proust disse que a verdadeira viagem de descobrimento consiste não em procurar
novas paisagens, mas em possuir novos olhos".
Há ainda outros elementos importantes no processo criativo. Entre eles, o uso do
humor, a ousadia e a paixão. Segundo a consultora, o envolvimento com a tarefa é
o combustível que alimenta as possibilidades que, em uma primeira vista, possam
parecer impossíveis.
A pressão ajuda ou atrapalha?
Não há certeza se a pressão inspira ou mina a criatividade. Para Denise, depende
de como a situação é percebida e como a pessoa lida com ela. "Se encararmos um
fato como desafiador e não destruidor, tenderemos a reagir de forma positiva e
criativa. Se você olhar para os grandes momentos de sua vida, verá que muitos
deles resultaram de situações que, a princípio, pareceram impossíveis ou
aterrorizantes", conta.
A criatividade tende a aumentar na medida em que se tem consciência da própria
capacidade criativa e do quanto fazemos uso dela. Antes de conseguir solucionar
um problema de forma criativa, a pessoa precisa assumir, consigo mesma, o
compromisso de realizar a tarefa.
O que fazer nos dias sem inspiração?
A consultora garante que existem inúmeras maneiras de incentivar a criatividade.
"Incentivamos a criatividade quando nos envolvemos com o projeto, damos
liberdade de criação, encorajamos a expressão de idéias, aceitamos as diferenças
de cada um, auxiliamos a ver as questões sobre diferentes pontos de vista,
ouvimos sem julgamento prévio, incentivamos a expressão criativa, incentivamos a
ousadia, possibilitamos o sucesso, ensinamos a resolver problemas e a tomar
decisões, e quando somos um modelo positivo para nossos pares".
Por que as empresas valorizam os criativos?
A especialista conta que "as empresas que compreenderem que no contexto atual,
com mudanças tão rápidas, ser inteligente não basta e que é preciso saber
conectar idéias de forma original para fazer a diferença no mercado estão dando
um passo à frente".
O problema é que as empresas não podem valorizar a criatividade. Elas devem, na
realidade, valorizar o desenvolvimento da criatividade. Desta maneira, é preciso
que os líderes valorizem as tentativas e não se apeguem somente aos resultados
imediatos.
"Criatividade implica fazer diferente e, quando tentamos ser ou fazer algo
diferenciado, estamos nos arriscando. E tudo que envolve risco gera ansiedade,
então é preciso aprender a tolerar as incertezas e aprender a lidar com elas.
Portanto, ser criativo envolve várias dimensões: intuição, afetividade,
inteligência e razão", justifica a especialista no assunto.
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