Finanças pessoais - Há seis maneiras de lidar com o dinheiro, e elas revelam muito sobre você
Existem seis formas de lidar com o dinheiro. Uma mesma pessoa pode apresentar
duas ou três delas simultaneamente ou ainda mudar ao longo da vida, de acordo
com as necessidades e as situações que se apresentam.
"Dependendo da época da vida, a pessoa pode mudar a maneira como lida com o
dinheiro", garante a consultora de Finanças e diretora da Sinergia Consultores,
Glória Pereira.
Compras sem dinheiro
Dos seis perfis, o mais comum entre os brasileiros é o consumista,
contabilizando mais de 60% das pessoas. O consumista age por impulso, não é
lógico. "Não é à toa que há propagandas que dizem: compre agora e comece a pagar
daqui a 60 dias. As empresas que realizam diversos estudos de marketing e
pesquisam o comportamento dos consumidores se utilizam desses recursos", afirma
a consultora.
O sistema nervoso do indivíduo com perfil consumista é o que o leva a consumir.
"Quantas pessoas não saem de casa para ir ao cinema e voltam com uma sacola?
Hoje, para comprar, não é mais preciso ter dinheiro (graças ao crédito)".
Outro povo em que esta forma de lidar com o dinheiro predomina é o americano.
"Apesar da renda deles ser superior à dos brasileiros, o fato é que a população
média americana não sabe lidar com o dinheiro. Daí a origem da crise subprime.
Já o adulto japonês e europeu é menos consumista. Os jovens, por sua vez,
apresentam um comportamento parecido em todo o mundo: querem estar na moda e são
seduzidos pelas novidades", explica Glória.
"Não há nada de errado em comprar, mas o problema ocorre quando a pessoa acaba
comprando o que não quer", alerta.
O entesourador e o desligado
Um perfil mais raro, com menos de 20%, é o do entesourador, que tende a guardar
tudo para o futuro e não viver o presente. Enquanto o consumista reclama que não
sobra dinheiro para investir, o entesourador pode trocar de carro, comprar muita
coisa, mas prefere garantir seu futuro. "Não existe uma idade para o
entesourador. É um comportamento que aparece de forma inconsciente. Há crianças
de dez anos que guardam toda a mesada", revela a consultora.
Já o desligado não faz questão de fazer compras. Não raro, ele deixa alguém
tomar conta do seu dinheiro, a mãe ou a esposa, por exemplo. Esse tipo de pessoa
não se envolve muito com a questão financeira. Pouco mais de 10% da população
tem o perfil desligado, que é mais comum entre homens do que entre mulheres.
"Muitos homens trabalham e dão o contracheque a suas mulheres".
"Quando o desligado é jovem, simplesmente deixa o dinheiro no banco. E então o
gerente pode acabar vendendo uma infinidade de produtos que não são muito
vantajosos. O principal problema do desligado é que, ao deixar de cuidar do seu
dinheiro, ele dá brecha para que outras pessoas se aproveitem dele", admite
Glória.
Ela lembra que algumas profissões estão mais ligadas ao tipo desligado, tais
como a de jornalista, professor e artista. "O que essas profissões têm em comum?
Nelas, os profissionais adoram o que fazem e acabam não se preocupando muito com
o dinheiro. Às vezes, por ganharem pouco, preferem não se ligar no dinheiro,
para não se sentirem infelizes", explica.
O escravo
O escravo é um tipo que aparece combinado com outros e é muito comum, acometendo
entre 30% e 40% dos brasileiros. A principal característica é que ele trabalha
para terceiros, nunca ganha o suficiente e não utiliza o dinheiro para si.
"O escravo gostaria de ter o suficiente para pagar tudo a quem ama. O foco de
sua vida não está nele, mas nos outros, em sua família, em sua religião ou em
seu partido. Se sua família for consumista, não importa o quanto ele trabalhe,
será pouco".
É aí que ele se depara com um beco sem saída. O corpo não descansa e o estresse
aparece. Ao mesmo tempo, a sensação de escravidão aumenta.
"É um problema comum entre engenheiros, executivos e empresários, cujas famílias
passam a consumir cada vez mais e sem fazer nada. É cômodo ter um escravo em
casa", afirma Glória. Esse tipo de pessoa deve ensinar as pessoas da família a
lidar com o dinheiro e, acima de tudo, aprender a aproveitar a vida e fazer o
que gosta.
Confusos entre o amor e o dinheiro
Os confusos entre o amor e o dinheiro são pessoas alegres e generosas, que lidam
muito bem com o dinheiro e, geralmente, não têm dívidas. No entanto, elas olham
para a família e para os amigos que, sem dinheiro, passam por alguma necessidade
e acabam ajudando-os. De verdade, tudo que elas queriam, ao ajudar, é que as
pessoas que amam quitassem suas dívidas e passassem a viver melhor. Mas isso
raramente acontecem.
"Às vezes, o amigo ou parente não utiliza o dinheiro emprestado para seus
devidos fins. Ou pior: passado algum tempo, eles se deparam com uma situação
difícil novamente. E então a pessoa com o perfil confuso, que emprestou o
dinheiro, fica ressentida. Elas entram em um verdadeiro curto-circuito: se dão o
dinheiro, se sentem culpadas, mas, se não dão, se sentem culpadas também. A
verdade é que elas acabam acostumando aqueles que dependem delas".
O último perfil é também o mais raro, o de quem tem raiva do dinheiro. Esse
perfil aparece em menos de 1% da população e, quando aparece, é em membros ou
funcionários de famílias ricas.
Explica-se: aqueles que vivem em ambientes tranqüilos financeiramente observam
seus pais ou pessoas próximas fazerem o que querem com o dinheiro e passam a
desejar ter esse poder também. Mas o fato é que elas não têm poder para decidir
nada. "Via de regra, são pessoas com grande potencial para finanças e negócios,
mas que não sabem disso", diz Glória, com base em sua experiência.
Buscando o equilíbrio
É por meio da educação financeira que podemos transpor as barreiras que
enfrentamos, ainda que elas tenham sido impostas por nós mesmos, de forma
inconsciente. O primeiro passo é admitir, com sinceridade, qual é seu estilo ao
lidar com o dinheiro. "O mais importante é querer mudar", reflete a consultora.
Analisando seu próprio comportamento no dia-a-dia e entendendo como ele
funciona, o desligado pode se ligar, o escravo se libertar - e passar a enxergar
o prazer da vida que renega a si mesmo - o consumista, planejar, e o confuso
aprender a lidar com o afeto e o dinheiro, sem se culpar. "Esse processo de
educação dura toda uma vida, enquanto vivemos, seguimos aprendendo!", completa
Glória
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