O 13º salário aquece o mercado e ofertas surgem por todo lado. Mas todo
cuidado é pouco na hora de usar seu dinheiro extra para trocar de carro
Por Marcio Ishikawa | ilustração: Glauco DiógenesLink oficial da reportagem:
http://quatrorodas.abril.com.br/reportagens/conteudo_261071.shtml
Calculadora feita para essa reportagem:
http://www.igf.com.br/calculadoras/FinanciamentoVeiculo.aspx
A chegada do 13º salário deixa um dinheiro extra nas contas bancárias de
muitos brasileiros - e boa parte deles opta por usá-lo para trocar de carro.
Exatamente por isso, a movimentação no mercado de carros, novos e usados,
aumenta muito nessa época do ano, fazendo pipocar ofertas e promoções
supostamente irrecusáveis. Mas nem tudo que reluz é ouro. É preciso ter atenção
para não ficar com um mico na mão ou mesmo jogar dinheiro fora.
O mercado de carros zero-quilômetro apresenta três situações nesta época do
ano: modelos 2007/2007, 2007/2008 e 2008/2008. De acordo com Vitor Meizikas
Filho, diretor técnico de pesquisas da Molicar, empresa especializada na
pesquisa de preços e tendências no mercado automotivo, os modelos 2007
apresentam características peculiares que pedem muita atenção.
No caso de modelos 2007/2007, os lojistas costumam oferecer descontos
para limpar os estoques. Mas, antes de se animar com o desconto, o consumidor
deve pesquisar se o veículo escolhido não passará por uma reestilização no
próximo ano. Caso isso aconteça, sua depreciação será grande e muito
provavelmente não compensará o desconto oferecido.
Há ainda modelos que acabaram de sofrer alguma mudança e que por isso são
vendidos com descontos maiores. É o que ocorre, por exemplo, com o Fiat Siena,
que pode ser encontrado em São Paulo por um preço 15% menor que o de tabela.
No entanto, segundo Meizikas, é melhor não se empolgar demais: "Você comprou
barato, mas também irá vender barato mais à frente", explica. "O negócio só vale
a pena se o desconto chegar perto de 20%, para compensar a depreciação que
certamente acontecerá."
Vale, ainda, a velha receita da pesquisa e negociação. O consultor de
finanças Alexandre Lignos, da Consultoria IGF, lembra que os maiores
interessados em limpar os estoques são os lojistas. "Os vendedores sempre vão
dizer que há vários interessados ou que aquela é a última unidade disponível",
diz. "Não caia nessa conversa. E a velha recomendação de pesquisar
exaustivamente é mais atual do que nunca."
Em carros modelo 2007/2008, a regra é a mesma, mas vale atentar para
dois outros fatores. Primeiro, em relação aos modelos 2008/2008, você terá uma
pequena vantagem na hora de pagamento do IPVA do ano que vem, já que pagará o
tributo de um modelo 2007, sempre mais em conta que os 2008.
Meizikas lembra que, nesse caso, os melhores negócios devem aparecer em
janeiro. "Essa seria a recomendação que eu faria para as pessoas", disse. "Nesse
período é possível encontrar muito mais oportunidades e um leque maior de
ofertas." Se não encontrar nenhum negócio que se encaixe nas situações
descritas, o analista da Molicar recomenda que o consumidor passe a pesquisar os
modelos 2008/2008.
Como pagar - Até agora vimos como selecionar e escolher as melhores
oportunidades que brotam no mercado nesta época do ano. Mas, mesmo que encontre
um modelo que o agrade e que seja um bom negócio, não baixe a guarda. É hora de
analisar as melhores opções para pagar pelo seu carro novo.
Segundo Lignos, o ideal é que se faça um planejamento de longo prazo,
guardando dinheiro aos poucos num investimento, para conseguir efetuar o
pagamento à vista. Além de não pagar juros, o consumidor ganha rendimentos com
as aplicações, conseguindo comprar o bem em um período menor que o de um
financiamento. Isso, no entanto, requer muita disciplina para aplicar, todo mês,
o valor predeterminado - e poucas pessoas conseguem realizar esse tipo de
projeto.
A opção preferida atualmente por 71% dos consumidores, em tempos de crédito
farto no mercado, é a do financiamento. E, nesse caso, as recomendações básicas
indicadas pelo consultor da IGF são:
- Não comprometer mais de 30% do rendimento líquido familiar. Se houver
outra dívida - por exemplo, o parcelamento de um imóvel -, é preciso
encaixar os dois financiamentos nesse teto.
- O número de prestações deve ser o menor possível. Se o valor não atingir
o teto de 30% do seu rendimento, é recomendável reduzir o número de
parcelas. Assim, você pagará menos juros.
- Financiar o menor valor possível. E nisso seu 13º salário, junto com o
carro que você já possui, irá ajudar muito.
- Lembrar-se de ter uma reserva - que pode ser separada do valor do 13º -
para o pagamento das despesas extras que você terá com o carro novo, como
documentação, diferença de IPVA e no valor do seguro
- Pouca gente se dá conta, mas as taxas de juros são negociáveis. Diante
disso - mais uma vez -, é indispensável pesquisar. Não só em várias lojas e
bancos, em relação ao mesmo modelo, mas também verificar preços e vantagens
de marcas e modelos diferentes, para não deixar passar alguma boa
oportunidade. Deve-se também levar em consideração os valores do seguro, que
podem variar de acordo com seu perfil e tornar um modelo mais atraente que o
outro.
Existe atualmente uma modalidade de financiamento de longuíssimo prazo, em
até 84 parcelas (7 anos). Mas a recomendação geral de todos os especialistas é
limitar o financiamento a 36 meses, no máximo.
Por fim, Lignos dá algumas recomendações práticas na hora de sair para
pesquisar os carros. "Evite levar filhos ou amigos, que acabam influenciando o
lado emocional", afirma, dizendo que é preciso, nesse momento, exercitar o lado
racional e controlar o consumismo. "Mesmo diante de uma oportunidade que lhe
pareça boa, não haja impulsivamente. Conte até dez, volte para casa e faça os
cálculos antes de fechar negócio."
DÚVIDAS
JURO ZERO - Às vezes, anúncios vendem um modelo que pode ser
financiado com "juro zero". Lignos afirma que, geralmente, os juros estão
camuflados, pois o mesmo modelo, à vista, é vendido com desconto. Para ser juro
zero, o valor financiado tem que ser igual ao valor à vista.
INVESTIR OU FINANCIAR? - Com alguns fundos de investimento rendendo
mais de 50% ao ano, muitas vezes surge a dúvida se não vale a pena financiar o
carro e aplicar o dinheiro, em vez de pagar à vista. Segundo o consultor, isso
só é válido caso o consumidor tenha uma quantia extra, além do valor do veículo,
de reserva. Como os fundos de investimento são voláteis, é possível que em
determinados momentos seu rendimento seja zero ou mesmo negativo. Nesses casos,
é preciso deixar o dinheiro aplicado por mais tempo para que ele volte a se
capitalizar. Caso o dinheiro seja "justo", o risco das aplicações não compensa.
Além disso, é preciso ter um certo conhecimento de mercado para não cair em
ciladas e, no caso de quantias reduzidas, o baixo rendimento, ainda que um pouco
acima das taxas de juros, não vale o risco