A cada dia, nas empresas, aumenta a quantidade de sentimentos e pensamentos
que querem se manifestar. Por isso, hoje, mais do que em qualquer outro período
da história da Humanidade, a liberdade de expressão é sagrada.
Eu acho que estão cometendo uma grande injustiça contra a chamada Lei da
Mordaça. Gente, ela pode ser muito útil nas empresas, querem ver? É só
aplicá-la da maneira correta:
- É proibido fazer fofoca!
- É proibido falar mal do colega!
- É proibido espalhar boatos!
- É proibido xingar os colegas!
- É proibido gritar com qualquer membro da equipe!
- É proibido usar palavrões no trabalho!
- É proibido comentar particularidades pessoais dos colegas!
E assim por diante. Útil, não? No entanto, se não for com aqueles saudáveis
objetivos exemplificados, que se exclua essa expressão do nosso vocabulário.
Está certo que, sob muitos aspectos, o mundo corporativo é uma micro-reprodução
da sociedade. Mas vamos imitá-la no que ela tem de bom, certo? Já existem muitas
mazelas organizacionais oriundas do próprio ambiente de trabalho...Não
precisamos agregar-lhe nenhuma outra de contextos externos, sobretudo se não
somam qualidades.
Sempre que ouço essa expressão “Lei da Mordaça”, fico me perguntando:
numa empresa, a quem pode interessar o impedimento da livre manifestação dos
pensamentos e sentimentos?
Rapaz...As respostas que me vêm à mente não são nada agradáveis...
Eu, felizmente, trabalho numa verdadeira empresa-sorriso ( tema sobre o qual já
escrevi um artigo ) onde existe uma Constituição interna que garante
absoluta liberdade de expressão. Assim, qualquer funcionário, a qualquer
momento, pode conversar com quem quiser, inclusive com o presidente da
organização. Por telefone, e-mail ou pessoalmente. Isso não é legal?
Não é tranqüilizador você saber que pode compartilhar suas preocupações,
insatisfações, alegrias, sonhos e sucessos com qualquer colega, sem o medo de
sofrer retaliações?
Pois, então, a quem poderia não interessar essa sadia política em todas as
empresas?
Eis aqui algumas respostas simples e objetivas: a quem tem algo a esconder. A
quem tem medo da verdade. A quem sabe que está procedendo de forma contrária às
práticas da organização a que serve. A quem acha que deve ter o monopólio das
informações e decidir sozinho o que deve ser passado adiante. Confere?
Eu fico pasmo diante da incompreensão de muitos profissionais quanto à
necessidade absoluta de ser criado e mantido um ambiente de trabalho agradável,
amistoso, justo, motivado e compensador – o que não é possível sob a Lei da
Mordaça. A grande maioria das pessoas fica diariamente mais tempo com os colegas
de trabalho do que com sua própria família. No mínimo 8 horas. Em alguns casos
ficam até 10 ou mais. Agora, some-se a isso o tempo que a pessoa leva no
trânsito, o tempo que fica estudando, dormindo – o que sobra para a vida
pessoal, já que o dia tem apenas 24 horas? Conheço profissionais que tem saldo
de 2 horas...
Esse quadro se agrava quando o ambiente de trabalho é um verdadeiro campo de
batalha... ou de concentração. E depois as pessoas ficam se perguntando porque
estão tão estressadas, deprimidas ou desanimadas...
Há várias formas de se administrar essa situação, resolvendo alguns problemas
aqui e minimizando outros ali. Certamente uma valiosa contribuição para a
melhoria da qualidade de vida é possibilitar que o ambiente de trabalho, em
favor do qual investimos tanto tempo de nossas vidas, se torne e se mantenha
agradável, harmonioso e onde se possa ser feliz. O profissional que considerar
isso utópico, que me desculpe: ou é autor, vítima ou espectador passivo da lei
da mordaça corporativa na sua área.
“Não dá mais pra segurar, explode, coração!” – lembram do Gonzaguinha?
A cada dia aumenta o número de perguntas que não querem calar. A cada dia
aumenta a quantidade de sentimentos e pensamentos que querem se manifestar. Por
isso, hoje, mais do que em qualquer outro período da história da Humanidade, a
liberdade de expressão é sagrada. “Não concordo com uma só palavra do que
dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo!” – já
pregava, sabiamente, o filósofo Voltaire, símbolo do Iluminismo.
Claro, há quem aproveite a liberdade de expressão numa empresa para fazer
denúncias vazias, acusações infundadas e revanchistas, nascidas do ressentimento
e da inveja. Este é um dos desconfortos com o qual toda gestão democrática deve
aprender a conviver e a administrar com discernimento, serenidade e bom senso.
Deve fazer a necessária separação do joio e do trigo.
De qualquer forma, o excesso de informações é preferível à falta delas. No
primeiro caso, na pior das hipóteses, você tem escolhas e pode tomar decisões.
No segundo caso, você nada pode fazer porque nada sabe.
Devemos começar em casa a destruição das mordaças que impedem a livre, sincera e
transparente comunicação entre as pessoas. A família agradece. Depois, façamos a
mesma coisa na empresa. O ambiente de trabalho agradece. Mas, atenção: neste
contexto, se você, antes, não descobrir a quem interessa manter a Lei da
Mordaça, o bicho pode pegar...