Grande parte dos casais brasileiros não conversa sobre dinheiro. A afirmação
foi feita pela psicóloga Cleide Maria Guimarães.
Baseada em sua tese de mestrado, para a qual entrevistou casais de 25 a 35 anos,
com nível superior completo, sem filhos e com união formalizada, a psicóloga
declarou que grande parte dos casais deixa as finanças abalarem a relação,
porque não consegue manter um diálogo claro e aberto sobre dinheiro.
"Muitas vezes as pessoas não sabem nem o que seus cônjuges esperam com relação
ao dinheiro. Muitos casais me procuram e depois de um teste simples ficam
surpresos ao descobrir que o parceiro sonha com um carro novo e a parceira
prefere investir num plano de previdência", conta Cleide.
Dinheiro
De acordo com a psicóloga, a forma com que cada uma das pessoas lida com o
dinheiro é uma herança da família da qual vieram. "Cada membro do casal possui
uma idéia com relação ao dinheiro que vem da forma como os seus pais tratavam o
assunto. Se os pais brigavam muito por isso, pode ser que a pessoa não goste
muito de gastar ou associe dinheiro a poder. Já os que não tinham problemas na
infância, provavelmente gastarão mais. Por isso, é importante saber quais são as
idéias que seu parceiro herdou antes da união civil".
Ela explica ainda que, em razão das mensagens recebidas pela família, homens e
mulheres gastam de forma diferente. "Mulheres são criadas para cuidar dos outros
e por isso acabam gastando mais com coisas da casa ou para o bem da família.
Muitas se sentem até culpadas em comprar algo pessoal, pois sentem que estão
tirando um dinheiro que podia ser gasto para o bem-estar de todos. Enquanto os
homens gastam mais com carros e educação", explica.
"Além disso, para haver harmonia entre o casal, é preciso que um aprenda lidar
com os desejos de consumo do outro e isso não é fácil", conta Cleide.
Conta conjunta?
A psicóloga afirma que, quando um casal que não tem harmonia financeira
possui uma conta conjunta, a situação pode ficar complicada. "Na conta conjunta
cada gasto fica registrado. O marido sabe quanto a mulher gastou em sua última
ida ao shopping e ela sabe quanto ele gastou no bar com os amigos. Se não houver
maturidade, a conta pode ser um fator complicador".
No entanto, Cleide acredita que optar por contas separadas é opção de casais que
não vivem uma relação sólida. "Casais que moram junto, mas não unem sua renda,
mostram que também não são unidos na relação. Essa coisa de o que é meu é meu e
o que é seu é seu revela que as pessoas não estão preparadas para dividir as
coisas e não estão disponíveis para ajudar o outro. Já tive clientes que
emprestavam dinheiro para suas mulheres e faziam elas assinarem um recibo com a
promessa da devolução daquele valor".
A psicóloga alerta ainda para outro fator que pode danificar o casamento.
"Algumas pessoas, sejam homens ou mulheres, utilizam o dinheiro como poder.
Quando estão casadas, elas até possuem uma conta conjunta, mas fazem questão de
lembrar que depositaram mais dinheiro na conta do que o outro. Isso não é
saudável, porque cria situações de opressão dentro do relacionamento", explica.
"A qualidade da relação influencia muito a forma como o casal lida com o
dinheiro. Casais que se dão bem se ajudam financeiramente, mas casais com muitas
diferenças tentam se punir por meio do dinheiro. A solução é tentar manter a
independência financeira, mas sempre incluir e solicitar ajuda do outro na hora
de definir o destino que será dado ao dinheiro", garante.