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Aposentadoria - Você trabalhou duro, economizou e acaba de se aposentar: como pretende cuidar de suas finanças agora?  

Data: 04/07/2007

 
 

No momento em que os baby boomers (geração nascida depois do fim da Segunda Guerra Mundial) começarem a se aposentar e a gastar suas economias, eles precisarão de novos produtos financeiros que façam seu dinheiro durar mais. É o que dizem os conferencistas presentes ao recente Congresso de Impacto da Wharton intitulado ?Gerindo o dinheiro da aposentadoria: como posicionar, investir e gastar seus ativos?. O congresso tratou de padrões emergentes de gastos durante a aposentadoria e discutiu novas idéias para ajudar os aposentados a administrar suas finanças depois de deixar a ativa.

De acordo com Olivia S. Mitchell? diretora executiva do Conselho de Pesquisa de Pensão da Wharton (Pension Research Council), e diretora do Centro Boettner de Pesquisa sobre Pensões e de Aposentadoria (Boettner Center for Pensions and Retirement Research), patrocinadores do encontro ? há um volume substancial de pesquisas sobre a eficácia da poupança para fins de aposentadoria e sobre a transição dos planos tradicionais de pensão para programas que permitem ao interessado escolher a solução mais adequada ao seu caso. Agora que a geração dos boomers está prestes a se aposentar, os analistas começam a se preocupar com a forma como as economias desses indivíduos será gasta.

?Decidimos que era hora de voltar nossa atenção para a fase de ?desacumulação? da seguridade dos aposentados?, disse Mitchell. ?O foco hoje é no futuro. Como essas pessoas encaram, ou deveriam encarar, a gestão do seu dinheiro agora que estão aposentadas??

Fornecedores de serviços financeiros, pesquisadores e órgãos reguladores ?têm dedicado muita atenção à parte de ?acumulação? do ciclo de vida ? insistindo com as pessoas para que poupem mais para a aposentadoria e diversifiquem suas economias?, disse. ?Falta, infelizmente, uma análise coerente da gestão de risco durante a fase de gastos da aposentadoria.?

Uma das formas de o aposentado lidar com esses gastos consiste em voltar a trabalhar. Entre um terço e metade de todos os trabalhadores que se aposentam integral ou parcialmente voltam a trabalhar de uma ou de outra forma, explica Swin Chan, diretora adjunta de Políticas Públicas da Robert F. Wagner Graduate School of Public Service, da Universidade de Nova York. Chan apresentou um estudo elaborado por ela em parceria com Ann Huff Stevens, professora de Economia da Universidade da Califórnia, em Davis, intitulado "A aposentadoria está passando por uma reformulação? Fatos sobre padrões de mercado de trabalho em idades mais avançadas."

"Quando pensamos em aposentadoria, a idéia que nos vem à mente é mais ou menos a seguinte: trabalhe, trabalhe, trabalhe e se aposente", disse Chan. "Contudo, muita gente opta por uma aposentadoria mais gradual, reduzindo o volume de trabalho antes de abandonar permanentemente a ativa. Há também pessoas que invertem o processo, reintegrando-se à força de trabalho depois de se aposentarem."

O retorno à força de trabalho se dá por meio de empregos chamados de "empregos-pontes", que podem durar até cinco anos. Os indivíduos parcialmente aposentados passam de 16 horas por semana a 40 semanas ao ano nesse tipo de atividade, observa Chan. A decisão de voltar ao trabalho pode também alterar os padrões de investimentos da aposentadoria, disse ela. "Alguém pode se dispor a embarcar em um portfólio mais arriscado logo que se aposenta, sabendo que pode voltar ao mercado de trabalho pouco mais à frente."

Menos gastos com alimentação e mais com entretenimento

Apesar da preocupação com os níveis de poupança dos aposentados, Erik Hurst, professor de Economia da Graduate School of Business, da Universidade de Chicago, assinala que a maior parte - ou quase todos - os trabalhadores americanos parecem estar poupando o suficiente para uma aposentadoria segura. Hurst disse que a queda no consumo logo depois da aposentadoria não é prova de que os aposentados tenham economizado pouco; pelo contrário, ele constatou que boa parte da queda nos gastos está concentrada em categorias de trabalho relacionadas, sobretudo transporte, vestuário e consumo de alimentos fora de casa. Com base em registros diários de monitoramento de gastos com alimentação e ingestão de nutrientes, Hurst concluiu que os aposentados gastam mais tempo em casa produzindo alimentos a um custo menor do que no trabalho. Ao mesmo tempo, observou, há um aumento no gasto com entretenimento. "Eles estão comendo menos fora, mas continuam a jogar golfe com a mesma freqüência."

Hurst disse que, apesar de todas as descobertas feitas, pode haver uma fração substancial de aposentados que não economizou o bastante para uma aposentadoria confortável. Com relação aos gastos com alimentação, os que estão no quartil inferior de riqueza acumulada para uso durante a aposentadoria tiveram quedas de mais de 30% nesse segmento, ao passo que os indivíduos situados nos níveis superiores da escala tiveram quedas de 9% a 14%.

Os que abandonam a força de trabalho repentinamente, talvez por motivo de saúde, podem também ter declínios mais acentuados nos gastos que podem estar associados a outros fatores além do fim de sua vida ativa, acrescentou Hurst. "A média dos indivíduos parece planejar bem. Há, porém, um segmento - talvez de mais de 25% - que não planeja tão bem assim e, portanto, deverá gastar menos, talvez em decorrência de problemas de saúde. Deve-se procurar identificar esses indivíduos e de que forma se comportam."

A maior fatia do patrimônio líquido de muitos aposentados está atrelada à sua casa. Os aumentos significativos observados nos preços dos imóveis despertaram o interesse pela forma como os aposentados poderão recorrer a esse ativo para financiar sua aposentadoria.

O valor do imóvel residencial subiu cerca de 40% entre 2000 e 2005. A casa é um patrimônio que, de modo geral, representa mais de 60% do patrimônio líquido do indivíduo, conforme explica Todd Sinai, professor de Bens Imóveis da Wharton, e Nicholas Souleles, professor de Finanças. Ambos analisaram o percentual do valor do imóvel que poderia ser usado na aposentadoria em um estudo intitulado "Patrimônio líquido e valor do imóvel durante a aposentadoria". [O valor a que se refere o título do estudo é o que se conhece como equity, isto é, a diferença entre o valor atual da casa e o valor da hipoteca paga pelo indivíduo].

Não importa o quanto o imóvel desses indivíduos se valorize, observou Sinai, o aposentado ainda precisa gastar alguma coisa com ele depois que pára de trabalhar, mesmo que ele venha a vender o imóvel e embolse o montante correspondente à valorização de sua propriedade.

Para avaliar quanto do valor do imóvel estaria disponível para o consumo relacionado a outros itens da aposentadoria, Sinai e Souleles construíram dois modelos. Usando os programas atuais de hipoteca reversa antes da incidência de taxas, os estudiosos concluíram que um aposentado de 90 anos poderia gastar até 75% do valor de sua casa, enquanto um aposentado de 65 anos poderia consumir metade desse valor. De acordo com outro modelo baseado em uma hipoteca reversa ideal de liquidez máxima, essa faixa é maior. Aos 90 anos, o valor da casa disponível para consumo saltaria para 84%, ou cerca de 94.000 dólares, ao passo que um aposentado médio de 65 anos poderia recorrer apenas a 34% do valor do seu imóvel, ou cerca de 36.000 dólares. O estudo assinala que 15% desses lares não teriam essa possibilidade.

"Tivemos um aumento considerável no valor das casas, o que levou a um aumento do patrimônio líquido, mas nem todo esse valor pode ser consumido", concluiu Sinai. "Temos de levar o seguinte em conta: a fração consumível não teve alteração, embora haja uma mudança real no montante disponível às pessoas de mais idade em decorrência da elevação dos valores da moradia."

Vivendo até 110 anos

Boa parte da pesquisa apresentada no congresso preocupou-se em mostrar como evitar viver além do que se tem durante a aposentadoria. Mitchell observou que as anuidades cumulativas existem já há algum tempo, mas pouca atenção tem sido dada às anuidades de pagamentos, ou contratos financeiros que asseguram uma renda estável durante o tempo de vida do consumidor.

"Agora que os boomers estão prestes a se dar conta de que a aposentadoria não é mais um sonho, e sim uma realidade, deve-se avaliar de que modo as pessoas poderão evitar de gastar mais do que possuem?, disse ela. ?Para isso, uma anuidade de renda para toda a vida atrelada à inflação deve desempenhar um papel importante na carteira de muitos boomers. O problema consiste primeiramente em fazê-los entender isso, e quanto tempo sobreviverão à aposentadoria; em segundo lugar, que tipo de proteção buscar para uma vida extremamente longeva. Só então será possível fazer com que os boomers levem o risco da longevidade a sério. Pessoalmente, planejo viver até os 110 anos! E isso me preocupa."

Mitchell analisou uma parte desse "enigma da anuidade" em um estudo escrito por ela em parceria com Jeffrey R. Brown, professor de Finanças, e Marcus Casey, candidato ao doutorado em Economia, ambos da Universidade de Ilinóis, em Urbana-Champaign, intitulado "Quem dá valor à anuidade do seguro social? Novas evidências do estudo sobre saúde e aposentadoria".

Brown ressaltou a "falta de conexão" entre o valor das anuidades pagas ao contratante até sua morte e falta de interesse em adquiri-las. Essa falta de conexão se tornará cada vez mais importante à medida que os planos de aposentadoria com benefícios definidos que garantem a renda ao longo da vida forem perdendo força e não forem substituídos pelo mercado voluntário de anuidade, disse ele. "As pessoas terão de começar a descobrir a importância das anuidades." Na prática, a Seguridade Social é uma anuidade, ?mas fora isso, pouca gente usa as anuidades na aposentadoria".

Brown apresentou diversas explicações para a demora na aceitação dos produtos de anuidade atuais. Entre outros:

• Seus preços são considerados altos pelo público;
• Há o desejo de transferir as economias para os herdeiros;
• Necessidade que tem o consumidor de liquidez para se proteger de surpresas com gastos médicos;
• Tendência dos aposentados de adiar a reflexão sobre a morte;
• Dependência dos benefícios da Seguridade Social;
• Inexistência de artifícios de proteção contra a inflação nos produtos mais interessantes.

"Contudo, o enigma persiste", disse Brown. "No fim das contas, a pesquisa continua sem explicar por que os aposentados demoram para aceitar a anualidade."

Os autores entrevistaram os participantes do Estudo sobre Saúde e Aposentadoria de 2004 e pediram a 1.000 pessoas entre 50 e 64 anos que se imaginassem com 65 anos e recebendo 1.000 dólares ao mês em benefícios do Seguro Social. Elas estariam dispostas a reduzir o benefício para 500 dólares ao mês para receber um pagamento único no valor de 87.000 dólares? Os pesquisadores ficaram surpresos em constatar que praticamente 60% dos entrevistados disseram que aceitariam receber esse montante em vez dos pagamentos da Seguridade Social pelo resto da vida. O público entrevistado demonstrou, sem dúvida alguma, uma certa sensibilidade aos preços; consumidores avessos ao risco valorizam a anuidade paga ao longo de toda a vida indexada à inflação de 20% a 50% a mais do que seu valor atuarial. No entanto, um aumento no preço de 25% seria suficiente para induzir 11% do público a aceitar o montante único. O levantamento foi feito antes da discussão ocorrida em 2005 em torno da sustentabilidade do programa de Seguridade Social, de modo que os participantes não tiveram de responder se acreditavam na possibilidade de redução dos benefícios.

Mercado: um campo de batalha

Às vezes, o mercado de remuneração de aposentados parece um campo de batalha em que os boomers são aconselhados a aderir integralmente à anualidade, ou evitá-la por completo, diz Mitchell. E acrescenta: "Nossa pesquisa, e a pesquisa de outros colegas, indicam que talvez haja espaço para compromisso, o que deixaria os consumidores em uma situação muito melhor."

Alguns dos produtos que poderiam desempenhar esse papel são as anuidades com impostos diferidos e as de nível duplo - que pagam mais no caso de incapacidade e de necessidade de cuidados médicos no lar -, pagamentos atrelados à inflação e anuidades variáveis, dando ao investidor acesso às ações do índice utilizado mesmo em caso de aposentadoria. Planos de saque graduais também podem se beneficiar de mecanismos de proteção contra a inflação por meio de Títulos do Tesouro Protegidos contra a Inflação (TPIS), disse Mitchell.

Uma nova estratégia para a gestão do risco financeiro dos aposentados pode ser a estratégia do "cofre compartimentado" proposta por William F. Sharpe, um dos fundadores da Financial Engines e professor emérito da Graduate School of Business da Universidade de Stanford, laureado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas por seu trabalho no desenvolvimento de modelos que auxiliem a decisão de investimento. Sharpe liderou a apresentação de um estudo intitulado "Estratégias financeiras para uma aposentadoria eficiente", escrito em parceria com Jaon S. Scott, diretor do grupo de pesquisa e desenvolvimento da Financial Engines, e John G. Watson, fellow da consultoria Financial Engines, especializada na área de aposentadoria.

Sharpe desafiou as regras de poupança e de gastos para aposentadoria comumente aceitas e utilizadas pelos estrategistas financeiros, como a regra do "4%", segundo a qual o aposentado pode consumir um valor real igual a 4% de sua poupança inicial, contanto que invista de 50% a 75% de sua carteira em ações. "Ao analisar algumas das regras mais difundidas pelo ângulo da economia financeira, sinceramente não gostamos muito do que vimos", disse Sharpe.

O problema das estratégias tradicionais de seguridade para aposentados é que elas se dividem em duas partes: uma estratégia de investimento e uma política de gastos, disse. "A verdade é que ambas precisam estar interligadas e integradas. Enquanto isso não acontecer, os resultados não serão os que seu cliente merece."

A equipe de pesquisa de Sharpe propõe então uma estratégia de "cofre compartimentado", em que frações da riqueza inicial são alocadas em contas virtuais, ou cofres. O dinheiro de cada cofre é investido de forma independente. Ao longo do ano, o aposentado gasta somente o conteúdo do cofre específico daquele ano. "O ponto a ressaltar é que cada cofre tem uma estratégia cuja eficiência depende de seu ano de vencimento. Portanto, a coisa toda funciona de forma muito eficiente."

Sharpe disse que o conceito de "cofre" também oferece proteção contra problemas relacionados à idade, à poupança e aos gastos com aposentadoria. "A estratégia do cofre maximiza a utilidade esperada em minha idade atual e a compara com a idade que terei daqui a 20 anos - ou quando eu estiver morto. Não quero esperar até chegar lá porque aí então já estarei babando e não saberei o que significa essa utilidade. Essa estratégia me permite pensar agora sobre mim no futuro e agir in loco parentis (no lugar dos pais) a favor do meu eu idoso e senil."

Mtchell observou um certo otimismo em relação ao desenvolvimento de produtos futuros que será útil na gestão de risco da aposentadoria. "A pesquisa de gestão de risco vem levando os fundos mútuos e as seguradoras a cooperarem no segmento de aposentadoria para com isso atender melhor o interesse dos aposentados tanto no que diz respeito ao acesso ao mercado de capitais quanto a concessão de garantias mínimas?, disse. ?No futuro, deve crescer o interesse por produtos diferidos - por exemplo, fluxos de renda garantidos que entrem em ação no momento em que o aposentado atingir uma idade específica, aos 75 ou 85 anos."

Mitchell ressaltou que na Alemanha e no Reino Unido, as anuidades diferidas foram impostas pelo governo para evitar que as pessoas ficassem sem dinheiro cedo demais.

Em suas últimas observações no congresso, Mitchell incentivou os pesquisadores a empregar seus talentos nessa área e disse: "O que queremos dizer, portanto, não tem a ver com uma decisão do tipo ?ou isto ou aquilo? - isto é, não se trata apenas de contratar uma anuidade ou um investimento. Há um conjunto muito mais rico de inovações financeiras para um mundo de indivíduos cada vez mais velhos que temos de ajudar a integrar ao mercado global."



 
Referência: SEGS.com.br
Autor: wharton.universia
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