A confiança no ambiente corporativo é fundamental para a sustentabilidade dos
negócios. Os executivos que costumam repetir o bordão: "Manda quem pode, obedece
quem tem juízo" podem começar a ser considerados ultrapassados. "Os sistemas de
produção, da chamada nova economia, baseados em conhecimento e qualidade, exigem
a liberdade de partilhar idéias sem medo. E quem reproduz esse bordão diz,
implicitamente, que a opinião do subordinado não o interessa e que ele é o único
que pode julgar o que é importante ou não", afirma Marco Tulio F. Zanini,
gerente de projetos e professor da Fundação Dom Cabral.
Ele lançará, em junho, o livro que receberá o título de Gestão do ativo
intangível - Confiança e trabalho na nova economia e adianta algumas idéias com
exclusividade para este jornal. Segundo ele, se o diferencial competitivo das
empresas está no conhecimento que têm e desenvolvem, grande parte de seu capital
pertence aos seus empregados. "Nesse contexto, a sustentabilidade do negócio
dependerá da capacidade da organização de proporcionar um ambiente em que as
pessoas possam trabalhar de maneira colaborativa, oferecendo 100% de seu
potencial", afirma Zanini.
Para isso, é necessário estabelecer relações de confiança entre a companhia e
os profissionais e vice-versa. De acordo com o professor, um estilo de gestão
baseado em confiança é, sobretudo, conseqüência de padrões gerenciais baseados
em valores compartilhados e princípios de justiça, que promovam situações de
vantagens e benefícios mútuos, incentivando os colaboradores a se engajarem na
criação de um valor econômico superior.
"Para construir um ambiente de confiança, a alta rotatividade tem de ser
evitada", comenta Zanini. "Se um profissional tem a perspectiva de não voltar a
interagir com o outro no longo prazo, não tem porquê depositar sua confiança
nele. Assim, quem entra numa empresa que troca seus profissionais com
freqüência, percebe que precisa desenvolver um plano B e não trabalha motivada,
nem comprometida", diz.
De acordo com ele, no Brasil, os modelos de gestão são, muitas vezes,
verdades assumidas pelos executivos a partir de sua trajetória profissional.
"Quer dizer, a partir do modo como ele aprendeu a trabalhar e a maneira como
conseguiu resultados e sucesso nas empresas", afirma Zanini. Além disso, a
maioria das companhias mira-se num estilo desenvolvido nos Estados Unidos ou na
Europa, que possuem realidades culturais completamente diferentes da brasileira.
Segundo Zanini, as relações de trabalho são marcadas pelo modo como a
sociedade está organizada. Assim, em países como o Brasil e outros da América
Latina, as distâncias sociais se reproduzem no escritório. Para explicar melhor
sua teoria, Zanini usa como exemplo a relação que se tem com a empregada
doméstica. "Ela pode até morar dentro de casa, mas estamos muito distante dela,
do que ela pensa, do que ela vive. Até na arquitetura esse distanciamento se
reproduz. O "quartinho" da empregada é sempre afastado da área social", explica.
Nas culturas, como a européia, em que a percepção de igualdade é maior, as
disputas de poder são menos marcantes. "A vontade de dominar está no ser humano.
Mas em países como o Brasil ser uma pessoa da alta cúpula significa muito.
Significa ter um status social diferenciado", afirma.
De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral, ao contrário dos modelos de
gestão que privilegiam a adoção de mecanismos coercitivos, como a pressão por
resultados individuais no curto prazo, as melhores práticas revelam: as empresas
que incentivam a associação voluntária entre seus colaboradores e adotam um
estilo de gestão baseado em confiança podem ser muito mais eficientes.
Em sua pesquisa, ele estudou três empresas que atuavam em um setor com alto
nível de incerteza. Uma delas tinha uma gestão mais voltada para transparência.
A direção da companhia tinha uma conversa franca com os profissionais. "Os
níveis de confiança dentro dessa organização estavam muito melhores do que nas
outras duas", conta. "Ao entrevistar o diretor de recursos humanos dessa
empresa, ele me disse que esse estilo oferece sim um certo risco porque se
compartilha informações confidenciais. Mas, com isso, a companhia conseguiu
motivar os funcionários de um modo que superam até limitações de
infra-estrutura."