Nos últimos meses a imprensa vem registrando que os mercados
financeiros e as aplicações refletem o aumento do risco país. Algumas vezes, por
não saber como é calculado este risco e não entender qual o seu efeito prático
as pessoas acabam tomando medidas no mínimo precipitadas. Com a sofisticação dos
produtos de investimentos e a globalização dos mercados, algumas empresas se
especializaram em “medir” a capacidade das empresas de honrarem os títulos
emitidos, num linguajar mais comum: pagarem suas dívidas. Esta prática é muito
salutar uma vez que antecipa problemas com a saúde financeira das empresas e
cria uma régua comum para os investidores estabelecerem a taxa de financiamento
das companhias. Ou seja, se uma empresa tem uma nota mais baixa que a outra,
seus títulos devem oferecer uma remuneração maior para compensar os investidores
de correrem maior risco.
É importante termos este conceito na cabeça para entender a
diferença entre risco soberano e risco país. O risco soberano é a avaliação
da capacidade do governo honrar suas dívidas. Rebaixar a classificação de
risco não quer dizer que o governo de um país não vai pagar suas dívidas. O que
estas agências de risco querem é indicar que tal governo tem uma menor margem de
manobra e pode vir até um problema no fluxo do pagamento.
Erroneamente a imprensa vem tratando o risco país e o risco
soberano da mesma forma. O risco país tem por objetivo medir a exposição à
perda em operações de crédito internacional derivada de uma ação do governo,
independente da vontade das partes envolvidas, no caso a empresa e o investidor.
Na prática esta medida aponta a possibilidade de mudanças de regras e restrição
no movimento dos capitais.
Com a globalização temos hoje brasileiros investindo na Rússia,
japoneses com títulos turcos, americanos com aplicações na África e por aí vai.
O princípio adotado por estes investidores é a livre circulação do capital,
poder entrar e sair quando quiser. O risco país tentar alertar estes
investidores sobre possíveis mudanças nas regras de saída. Como podemos observar
uma medida totalmente desvinculada da capacidade das empresas de honrarem suas
dívidas.
A nota de classificação de risco considera uma série de
indicadores, econômicos e financeiros, um desses indicadores é a taxa de juros
dos títulos do governo. Este indicador pode “sujar” a nota da agência. Por que?
Principalmente porque os títulos da dívida de um governo têm seu preço formado
considerando seu grau de liquidez, independente da sua remuneração ou risco.
Vejamos o exemplo brasileiro. O C-Bond é um dos títulos mais líquidos dos países
emergentes, quando o investidor que ajustar sua carteira, reduzindo sua
exposição a risco, naturalmente altera sua posição nos títulos que consegue
vender (e posteriormente repor) com mais facilidade. Com isto tem-se a impressão
que outros países mais frágeis obtêm um preço melhor no mercado. O que não é
verdade. Seus títulos não sofrem perdas porque não conseguem ser negociados.
O leitor pode estar pensando que isto não influencia em nada
suas simples aplicações em poupança ou fundo de investimento. Ledo engano. A
mudança de regras a que se refere o risco país, também pode ocorrer internamente
no caso de uma renegociação da dívida pública e alongamento do prazo de
pagamento.
Sendo assim todos os investidores, residentes ou não, devem
ficar a atentos a estes sinais para otimizarem suas carteiras de investimentos.